Crítica


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Sinopse

Após ser preso, um candidato a astro do futebol americano perde a chance de ser profissional. Ele retorna à sua cidade natal depois de cumprir sentença, se deparando com os mesmos problemas de antes, logo engatando uma insólita amizade com um menino abandonado pela mãe.

Crítica

Não causará espanto o espectador que, diante de Palmer, ficar com a impressão de “já vi esse filme antes”. Afinal, provavelmente estará certo: sim, não só são grandes as chances de que tenha se deparado com história similar antes, mas que também da outra vez ela tenha sido melhor contada. Então, qual a razão de ser deste filme? Mais do que justificar um novo esforço do cantor Justin Timberlake como ator sério – ele, afinal, tem no currículo trabalhos sob o comando de diretores como David Fincher e Woody Allen, o que não é pouca coisa – o que termina por chamar a atenção – e validar a própria realização – é a inserção da temática relativa à diversidade sexual entre crianças. Um assunto geralmente espinhoso, mas que aqui é abordado com respeito e segurança, revelando-se um exemplo a ser estudado.

Palmer, o protagonista interpretado por Timberlake, é um ex-presidiário de bom coração – não tardará para que o roteiro de Cheryl Guerriero (cujo único trabalho anterior de destaque havia sido a comédia Universidade do Prazer, 2006, estrelada por... Paris Hilton) se encarregue de diminuir a culpa dele e colocar em evidência o seu bom-mocismo. Ao ser colocado novamente em liberdade, é para a casa da avó (June Squibb, em participação mínima, porém deliciosa) que se dirige, como único lugar que tem para onde ir. A velha senhora falece em seguida, ao mesmo tempo em que ele descobre que ela deixou designado em testamento que a casa que possuía deveria ser vendida e o dinheiro dado para a igreja local. Se os problemas dele não eram poucos, diante dessa avalanche de más notícias uma outra acaba por se impor: há mais uma herança com a qual terá que lidar.

Dona Vivian, a avó, vivia da aposentadoria do governo, mas também do aluguel de um trailer que mantinha nos fundos do seu terreno. Lá morava Shelly (Juno Temple, apropriada em uma composição ao mesmo tempo irascível e deprimente), uma garota que estava a um passo de ser chamada de prostituta – por mais que a vizinhança assim pensasse dela. Mais preocupada em passar as noites em bares e boates, sempre arrumando para si um homem diferente a cada saída – entre eles, o próprio Palmer – do que em cuidar do filho, o pequeno Sam (a revelação Ryder Allen), essa responsabilidade acaba recaindo sobre a pessoa mais próxima – geograficamente falando – do menino. No caso, a idosa que mora na casa ao lado. E, na ausência dela, ninguém menos do que o personagem-título dessa história.

Pois se Palmer recebe quase com indiferença a tarefa de cuidar de um menino de traços afeminados, aos poucos vai se afeiçoando pela criança, aliado ao fato de estar determinado em se tornar uma pessoa novamente apta a viver em sociedade – e, com isso, deixando os erros do passado, definitivamente, para trás. O melhor do filme do também ator Fisher Stevens (que apesar de ter aparecido em longas como O Reverso da Fortuna, 1990, e até o brasileiro O Que é Isso, Companheiro?, 1997, é mais conhecido por seu trabalho atrás das câmeras em comédias como Amigos Inseparáveis, 2012) é justamente a relação que se estabelece entre o adulto em busca de recuperação e o jovem atrás de um lugar no mundo. Sem uma mãe presente ou pai que o assuma, será no homem que passa a maior parte do tempo calado – mas que, ao mesmo tempo, não julga suas escolhas ou modo de ver as situações ao seu redor – que encontrará uma figura paterna mais sólida. Um precisa do outro, por mais inconsciente que seja a ligação que entre os dois se estabelece.

Filmes como Joe (2013) ou Um Mundo Perfeito (1993) também discorriam seus dramas a partir do inusitado envolvimento entre um fora-da-lei e uma criança. Palmer não acrescenta muito além do que já foi visto, mas oferece um colorido diferente à discussão ao colocar em debate maneiras de se lidar com a questão da transexualidade ainda na infância. Ao deixar preconceitos de lado e abrir espaço para ouvir, antes de apontar, o filme ganha pontos por uma visão honesta e consciente a respeito de uma questão universal, indo adiante em uma conversa que os exemplos aqui ilustrados muito podem contribuir. E se Justin Timberlake soa comprometido com a responsabilidade que recebe em mãos, é o pequeno Ryder Allen que se mostra mais desenvolto tanto diante das obrigações como das alegrias de um personagem que muito teria a temer, mas opta a todo instante em focar no tudo que é possível ganhar por ser quem ele é, e não aquele que todos esperam dele.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Lucas Salgado
5
MÉDIA
5

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