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Sinopse

O rebocador espacial Nostromo responde a um misterioso pedido de socorro vindo de um planeta supostamente deserto. Seus sete tripulantes ficam a mercê do perigo depois de descobrir uma forma de vida mortífera que se aloja em humanos e os trata como hospedeiros descartáveis e convenientes.

Crítica

Mais de 30 anos se passaram e o primeiro Alien continua o mesmo. Não me refiro especificamente ao extraterrestre mais assustador do cinema, mas sim ao filme que o lançou para o mundo em 1979. Na época, talvez nem o diretor Ridley Scott (que também foi alçado ao estrelato graças ao título) pensasse que esta ficção científica daria início a uma franquia de sucesso e se consagraria como um clássico do gênero. O mais impressionante é perceber que o longa não envelheceu, por mais que possamos discordar dessa afirmação, principalmente se levarmos em conta o monstro, que de fato é um pouco grotesco demais. Mas, hey, a estética daquela época era outra.

Graças ao sucesso de Star Wars no final da década de 70, a ficção científica havia ganho um novo fôlego. Talvez por isso a escolha de uma heroína feminina para protagonizar o filme tenha sido um extremo ganho, mesmo que estranho à época. Muitas das heroínas do cinema de hoje (seja Lara Croft, Aeon Flux ou qualquer outra que venha à cabeça) devem – e muito – o lugar ao sol à tenente Ripley e sua intérprete Sigourney Weaver.

A trama é básica: a bordo da nave exploratória Nostromo, os sete tripulantes são obrigados a acordar para verificar um planetoide de onde, supostamente, veio uma mensagem extraterrestre. Durante a expedição, um deles é atacado e infectado por um estranho ser (que mais parece um mini-polvo), dá à luz a um pequeno monstro em meio ao jantar (numa das cenas mais apavorantes e angustiantes da história do cinema) e o que se segue são várias mortes até o confronto final com a corajosa Ripley.

A mistura de ficção científica com terror psicológico faz Alien: O Oitavo Passageiro brilhar aos olhos de qualquer um. O suspense conduz a narrativa desde os primeiros minutos do filme, quando somos apresentados ao interior de uma espaçonave silenciosa, escura, com espaços que deixariam qualquer claustrofóbico em prantos. Uma aula de fotografia e direção de arte (não à toa o filme concorreu a esta categoria no Oscar), que mostra a Nostromo parecer uma mistura de tecnologia com elementos orgânicos. Facilmente identificamos alguns aspectos do local como se fossem partes do corpo humano, especialmente os sexuais. Aliás, sexualidade que permeia o filme, chegando ao fim (e me desculpe se alguém ainda não assistiu) com um “strip-tease” que deixa Ripley sozinha, no silêncio, apenas em trajes íntimos.

Quanto ao elenco, obviamente o destaque vai para Sigourney Weaver, assim como Ian Holm e seu dúbio androide Ash, que nos deixa intrigado por quase duas horas sobre suas intenções nesta exploração espacial. É interessante perceber como Ripley vai crescendo ao longo da trama. Aliás, sendo cruel e realista: a cada morte sua personagem ganha mais espaço. Mas não de uma forma que ela só pudesse aparecer assim. É algo estrutural, que vai ganhando a sua devida importância e discernimento ao longo da projeção. Se no início mal vemos a tenente Ripley, aos poucos percebemos porque ela é tão importante para a história, e, paralelamente, a atuação de Weaver chama mais atenção.

O suspense acompanha o silêncio e a falta de fôlego dos personagens. Afinal, há pouca trilha sonora (utilizada muito sabiamente em determinados momentos, vale ressaltar) e o nosso querido (ou seria odiado) alien aparece pouco, mas muito pouco. A ambientação deste terror em que o suspense é mil vezes mais importante que uma série de sustos chega a lembrar outros clássicos como O Bebê de Rosemary e O Iluminado. Para ver como a intersecção de gêneros ganhou novos patamares com Alien: O Oitavo Passageiro.

Basicamente, podemos transportar a posição de um alien para a de um estuprador em busca de suas vítimas. Afinal, é isso o que acontece para que o extraterrestre surja e sobreviva: através da violação do corpo humano sendo fecundado contra a sua vontade, causando dor e morte sucessivas vezes. E o pior de tudo: em um ambiente totalmente enclausurado, sem ter para onde fugir. Não à toa a frase “no espaço, ninguém pode ouvir você gritar” teve um impacto tão profundo entre os cinéfilos e admiradores. Porque é isso mesmo que o filme passa. A sensação de pânico que é não podermos contar com qualquer tipo de ajuda, além de nós mesmos, para nos livrarmos do horror. Cinema de alta qualidade que anda raro hoje em dia.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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