Os Roses: Até que a Morte os Separe

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Sinopse

Em Os Roses: Até que a Morte os Separe, Theo e Ivy Rose são um casal que parece ter conquistado a vida perfeita: carreiras de sucesso, um casamento repleto de amor e filhos maravilhosos. Ele, um arquiteto prestes a alcançar reconhecimento internacional; ela, uma chef em ascensão. No entanto, tudo muda após o projeto de Theo desmoronar. Comédia/Drama.

Crítica

Esse Os Roses: Até Que A Morte Os Separe é o encontro de duas das piores forças que atualmente ditam a ordem das coisas em Hollywood: a necessidade desenfreada por diversidade – sem um meio que se confirme viável para tanto – aliada a uma absoluta ausência de criatividade, manifestada por meio de uma aparentemente incansável pré-disposição por sequências, franquias e… refilmagens. Sim, o espectador pode até se perguntar em qual destas armadilhas o longa dirigido um Jay Roach que há muito parece ter perdido o (pouco) talento que anos atrás ousava almejar supostamente se encaixa. Bem, o que se vê aqui está longe de ser original. E não apenas pela óbvia falta de direção e perspicácia daquele no comando do projeto. Mas também por ser uma releitura do romance de Warren Adler, antes adaptado com a ousadia necessária em A Guerra dos Roses (1989). O que lá trás fora visto como provocador e arriscado, aqui é somente ameno e previsível. O conflito se perde, e quando forçado, de tão arbitrário que se mostra, pouco convincente consegue ser. Uma oportunidade desperdiçada sem salvaguardas, ainda mais tendo dois protagonistas que mereciam material melhor com o qual lidar.

Para começo, a busca por uma falsa contemporaneidade social e étnica que não se sustenta. E o total desperdício das presenças de Ncuti Gatwa (Barbie, 2023) e de Sunita Mani (Noivo à Indiana, 2024) como auxiliares decorativos da chef interpretada por Oliva Colman chega quase a ser cômico frente a equívocos ainda maiores. Em A Guerra dos Roses, por debaixo de um divórcio que ia aos limites da loucura a partir de uma disputa desenfreada dos cônjuges pela posse da casa onde antes acreditaram que seriam felizes juntos, o que se tinha era uma forte crítica ao american way of life. Ou seja, de um lado a mulher que levava a família sozinha nas costas, enquanto o marido estava o tempo todo trabalhando: seria mesmo essa fórmula o segredo de um casamento bem-sucedido? Danny DeVito, tanto diretor quanto um dos destaques do elenco, deixou claro que não. Em Os Roses, no entanto, o jogo é inverso. E pelos piores motivos possíveis.

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Se DeVito tinha recém estreado como realizador com o hilário Jogue a mamãe do trem (1987) e um ano antes havia estrelado o ainda mais corrosivo Por Favor, Matem A Minha Mulher (1986) – bom, os títulos são autoexplicativos – comandar logo em seguida uma comédia sobre um casal querendo se matar parecia a coisa mais lógica a ser feita. Jay Roach, por sua vez, é conhecido por sagas cômicas – e inofensivas – como Austin Powers e Entrando Numa Fria. Até projetos mais políticos, como a cinebiografia Trumbo: Lista Negra (2015) ou o potencialmente polêmico O Escândalo (2019) ficavam mais na promessa do que em resultados factuais. Com Os Roses, ele faz ainda pior. Ao inverter o gênero do casal – é o marido que fica em casa, enquanto a esposa alcança o sucesso profissional – se imagina como atento a uma demanda social e urgente. Esquece, porém, de oferecer elementos para esse debate. Do jeito raquítico e esquemático que elabora o cenário, o que se tem é apenas um marido ressentido que não sabe lidar com o talento da mulher ao seu lado. O discurso, portanto, se confirma ainda mais tóxico e problemático.

Se as brigas que marcaram o filme anterior ocupavam mais de dois terços da trama, dessa vez elas mal dão as caras antes da meia hora final de projeção. Até lá, tem-se apenas um romance que não chega a engrenar e pequenas ranhuras entre eles que por momento algum se mostram relevantes o suficiente para justificar a barbárie que virá a seguir. A mudança de tom, como se observa, é por demais radical, frente a tudo desenhado até então. Benedict Cumberbatch faz o que pode com um personagem de moral frágil e conduta condenável. Olivia Colman se sai um pouco melhor, não pelo que recebe em mãos, mas pelo que consegue agregar de si ao conjunto, valendo-se mais do seu carisma natural e menos de uma figura que nunca chega a alcançar o voo vislumbrado. E enquanto Allison Janney tem não mais do que uma única cena para marcar sua passagem, a dupla Andy Samberg e Kate McKinnon é desidratada por meio de tipos incapazes de ir além do estereótipo, repetindo a cada aparição as mesmas piadas sem graça. Os Roses: Até Que A Morte Os Separe é desprovido de subtexto quando merecia profundidade, é tolo quando se anunciava sarcástico, é antiquado e ultrapassado quando tudo o que busca é modernidade e sintonia. Ou seja, um amontoado de tiros mal dados cujo melhor destino a se desejar é o mais rápido e irreversível esquecimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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