Crítica
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Sinopse
Crítica
Sequência mal-disfarçada (e bastante tardia) de Rejeitados pelo Diabo (2005) – que, por sua vez, já dava continuidade aos acontecimentos de A Casa dos 1000 Corpos (2003) – esse Os 3 Infernais pode ser visto, também, como um spin off (uma trama à parte da original) ou mesmo como uma refilmagem, uma vez que muitos dos elementos vistos anteriormente se repetem sem muita cerimônia, não buscando um suposto frescor, mas, sim, apenas indo atrás de incautos que, graças ao passar de mais de uma década, possam se dar por satisfeitos pela simples volta a um universo conhecido, sem a petulância – ou discernimento – de exigir qualquer reparo além. Rob Zombie, que além da direção assumiu também a escrita do roteiro, sabe bem a quem se dirige. E ao trilhar por ambientes mais do que conhecidos, se ocupa apenas em pregar para convertidos, deixando qualquer um minimamente alheio ao seu universo de sangue e escatologia à parte, sem oferecer oportunidades de acolhimento.
Se os dez minutos iniciais do novo filme se ocupam quase que exclusivamente em retomar os principais acontecimentos dos outros episódios, em uma narrativa didática e comportada demais para o tom que se propõe, a partir desse ponto Os 3 Infernais terá pouco a oferecer além de investir naquilo que dele já se espera: atos bárbaros, assassinatos inexplicáveis, ações desprovidas de motivação e desfechos ausentes de lógica. Como fica rapidamente evidente, nada do que se passa em cena parece fazer muito sentido. O trio responsável por toda a violência dos dois primeiros capítulos está preso, e a pena de morte deveria o destino de cada um deles. Capitão Spaulding (Sid Haig, de Rastro de Maldade, 2015) é o primeiro a dar adeus, mas pouco antes de chegar a vez de Otis (Bill Moseley, de O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua, 2013), com a ajuda de Winslow (Richard Brake, de A Espiã Que Sabia de Menos, 2015) ele consegue escapar, e os dois se unem para libertar Baby (Sheri Moon Zombie, de Halloween: O Início, 2007), o terceiro elo da trinca.
Ou seja, se metade da trama se ocupa com a (mais ou menos) nova formação de assassinos em busca de caos e violência, tudo o que se vê a seguir é um demonstrativo de como eles reagem frente ao perigo – tanto o que impõem à sociedade como o que acontece quando o jogo se inverte, colocando-os na mira de perseguidores. A partir do momento em que o icônico Danny Trejo entra em cena como um colega de prisão de Otis, apenas para ser eliminado sem mais do que meia palavra a ser dita, é sabido que o seu descarte terá um significado maior a ser explorado em seguida. Quando o trio decide fugir para o México após serem responsáveis por mais uma chacina, não precisa ser nenhum gênio para imaginar o que lhes espera do outro lado da fronteira: os descendentes do patriarca morto, sedentos por uma oportunidade de vingança. Os dois irmãos sobreviventes e o novo companheiro podem acreditar que estão partindo rumo a um campo fértil de vítimas incautas, mas o que lhes aguarda são capangas de mira certeira e armas carregadas que prometem não descansar até tê-los ao alcance de um disparo.
Com um roteiro estruturado a partir de uma falta absoluta de qualquer tipo de criatividade, Os 3 Infernais recai sob os ombros dos seus três protagonistas, resultando num misto de desgosto com exagero. Se Moseley, aquele que deveria ser o protagonista, é quase inexpressivo, Brake se sai um pouco melhor, seja nos momentos de luxúria como também naqueles em que deixa uma fúria descontrolada tomar conta das suas ações. O interesse de qualquer um, seja na audiência ou mesmo na ficção, entretanto, está mesmo em Baby, a figura mais inesperada – e, por isso mesmo, interessante – de todo o conjunto reunido. Ela é, literalmente, capaz de qualquer coisa, e se as ameaças de lesbianismo pouco efeito provocam, o descontrole que permeia seu olhar é exatamente o que o conjunto precisaria, não fosse tamanha a falta de objetividade do realizador. Se o argumento perseguido pela narrativa fosse tão enlouquecido quanto a personalidade da sua integrante mais atraente, talvez o resultado fosse menos problemático e mais eficaz em despertar maiores atenções.
Já estabelecido no mundo da música, Rob Zombie deu o primeiro passo rumo ao cinema justamente no citado A Casa dos 1000 Corpos. Por mais que tenha se aventurado com refilmagens do icônico Halloween ou investido em propostas um pouco mais ousadas, como no perturbador 31 (2016), está na gênese do seu trabalho de estreia a alma dilacerada que persegue, slasher movies repletos de agressividade explícita e desprovidos de maiores explicações. Ao retomar esse universo, reencontra muitos dos seus fãs e admiradores, ao mesmo tempo em que demostra se satisfazer apenas com a expectativa e os olhares daqueles que sabem de antemão o que dele esperar, sem novas apostas ou possibilidades de riscos, ainda que calculados. Os 3 Infernais poderia ser a junção dos dois primeiros episódios de uma série de televisão, tão fragmentada é a estrutura que apresenta. E assim, agradando apenas os que dessa proposta pouco exigem, tem-se como resultado um filme irrelevante, que pouca diferença deverá provocar entre os que aplaudem, e menos relevância terá entre os demais, que permanecerão excluídos – e com razão – deste cenário.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Diego Benevides | 4 |
MÉDIA | 4 |
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