Crítica


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Sinopse

A vida conturbada de jovens garotas que acabaram de fundar o Gaivotas Futebol Clube, um time de futebol feminino. Ao decorrer dos fatos, se constrói uma imagem sobre a juventude paulistana dos anos 1980.

Crítica

Onda Nova um dia se chamou Gaivotas Futebol Clube, título que deixa claro o cunho desta realização de Ícaro Martins e José Antônio García. O filme apresenta a intimidade de um time de futebol feminino patrocinado por um clube profissional que, assim, ajuda meninas a saírem da marginalidade. Todo o erotismo típico da pornochanchada era apenas um pretexto para discutir o tema da proibição do desporto para as mulheres, atividade estigmatizada como lésbica. O argumento do longa-metragem contém os mesmos problemas de profundidade de tantos outros da época. O diferencial está no subtexto, nas referências, inclusive, ao filme seguinte da dupla de diretores (Estrela Nua, 1985) num diálogo protagonizado por Regina Casé, ela que interpreta uma atriz que recusa dublar alguém que morreu antes de terminar uma pós-produção.

As participações especiais são bastante variadas, entre elas a dos jogadores corintianos Walter Casagrande e Wladimir, importantes exatamente para quebrar a fálica ideia de que o futebol das meninas era pautado por fornicação e homossexualidade. O script faz menção a todas as orientações sexuais, se valendo da máxima comumente propagada de que a mulher tem muito menos restrições ao tacanho preconceito sexual. Casagrande protagoniza cenas de sexo softcore, fato que se torna ainda mais engraçado se levarmos em conta sua função atual como comentarista esportivo. Reza a lenda que houve uma briga nos bastidores, ainda que hoje o ex-esportista diminua a importância disto. A participação de Osmar Santos no final ajuda a dar tarimba para a disputa esportiva anunciada.

A despeito até do contumaz azedume da crítica de cinema especializada com a pornochanchada, o filme consegue transgredir bastante. A mistura entre o Cinema Novo e o modo de filmar contemporâneo de Garcia e de Martins é interessante, se tornando ainda mais significativo por dar voz a guetos sexuais até então completamente reprimidos e coibidos. O sexo livre, típico da geração de jovens underground dos anos 80, vai muito além do papai e mamãe habitual. Transas homossexuais masculinas, desejo de suicídio após relações carnais e afins, são alguns das iguarias do cardápio.

Falta liga ao roteiro, mas fatalmente o objetivo de expor uma fartura de elementos comuns ao ideário dos jovens alternativos da época é alcançado, mesmo que o conjunto seja bastante empobrecido para a premissa que se busca alcançar. Onda Nova consegue perverter a maioria dos clichês exigidos pelo Regime Militar.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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CríticoNota
Filipe Pereira
6
Chico Fireman
7
MÉDIA
6.5

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