Oferenda à Tempestade
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Fernando González Molina
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Ofrenda a la tormenta
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2020
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Espanha / Alemanha
Crítica
Leitores
Sinopse
À medida que Amaia investiga a morte de bebês em rituais macabros, as pessoas à sua volta começam a correr grandes perigos.
Crítica
Certos elementos são recorrentes na Trilogia Baztán, maior sucesso literário da escritora catalã Dolores Redondo. Em 2013, ela publicou os dois primeiros volumes, O Guardião Invisível e Legado nos Ossos, e a conclusão saiu no ano seguinte, com Oferenda à Tempestade. Com mais de 700 mil cópias vendidas e traduzida para mais de 15 idiomas, também a toque de caixa foram encomendadas as adaptações cinematográficas. O Guardião Invisível estreou em 2017, Legado nos Ossos em 2019 e, Oferenda à Tempestade, chega agora, em 2020, propondo um fim à saga – o que, de fato, não será verdade. Afinal, a autora lançou no ano passado La Cara Norte Del Corazón, que se trata de um prequel, abordando os anos iniciais da protagonista e sua formação como investigadora policial. Tudo isso para deixar claro que, apesar do verniz europeu – que, para muitos, poderia indicar um resultado mais artístico e menos cultural – o que se encontra por aqui em pouco difere de outros fenômenos que foram dos livros para às telas, como as sagas Millennium ou Crepúsculo, por exemplo. Com a percepção de que, enquanto conjunto, por mais que tente se aproximar dos mistérios criados por Stieg Larsson, tudo o que consegue é o melodrama alcançado por Stephenie Meyer.
O mais curioso, principalmente em relação aos três filmes, é que apesar de terem sido baseados em uma trinca de livros, muito mais sentido talvez fizesse se tivessem sido filmados como uma série de televisão, e não como longas supostamente independentes. Afinal, eles nada possuem de distintos uns dos outros: cada um termina exatamente no ponto em que o anterior se encerra, e o que este Oferenda à Tempestade apresenta nada mais é do que a resolução dos mistérios e a dissolução dos enigmas lançados lá em O Guardião Invisível. A questão é que, à medida em que a trama vai se desenrolando, também muito do seu charme inicial começa a desaparecer. Signos empregados com vontade no capítulo de estreia, como a chuva constante e torrencial, agora só se manifestam quando se busca emular a mesma ambientação de outrora. Outros ainda mais significativos, como as figuras fantásticas da mitologia catalã, terminam por ser totalmente esquecidos, quando não menosprezados.
A protagonista da série, a investigadora Amaia Salazar (vivida com afinco por Marta Etura), segue no encalço de quem está por trás das dezenas de meninas desaparecidas ainda na tenra idade. Se as primeiras a serem identificadas foram mortas na adolescência, logo se descobre outras tantas assassinadas ainda bebês. Como causa do falecimento, sempre a mesma desculpa: morte súbita. Se um caso como esse já seria suficiente para deixar qualquer um com dor de cabeça, imagina quando se percebe que não apenas a própria mãe estaria envolvida, como uma eventual irmã gêmea, da qual nunca teve conhecimento, pode ter sido uma das vítimas. É nesse ponto, portanto, que a Trilogia Baztán ganhava força: na sólida interlocução que havia entre o trabalho policial e a vida familiar de Amaia. Em Oferenda à Tempestade, no entanto, essa relação é esvaziada até perder sua relevância. Além do mais, percebe-se também uma mudança de postura em alguns personagens, enquanto que outros, antes importantes, agora são esmaecidos até se tornarem descartáveis.
São os casos, por exemplo, tanto do marido, James (Benn Northover, de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, 2011), que antes servia como seu esteio moral, e agora é mandado embora no meio da história para não mais voltar, como do parceiro e melhor amigo, Jonan (Carlos Librado ‘Nene’, de El Tutor, 2018), que não só é eliminado sem o menor indício prévio, como também tem sua própria identidade revirada – descobre-se, apenas agora, que ele era homossexual, algo que não foi sequer cogitado nos longas anteriores. Por outro lado, o padre Sarasola (o grande Imanol Arias, de A Flor do Meu Segredo, 1995), ou o doutor Berasategui (Alvaro Cervantes, mal aproveitado), que pareciam ser figuras interessantes, poucos espaços conseguem – e isso que estamos falando de um filme com quase 140 min de duração! Mas isso se dá para, enfim, justificar a presença de Leonardo Sbaraglia. Se em Legado nos Ossos ele não dizia a que veio, agora finalmente se entende o porquê do seu envolvimento. Uma revelação anunciada sem muitas cerimônias nem convicções, esvaziando ainda mais o suspense de uma história que não hesita em abraçar a previsibilidade e as respostas mais óbvias do menu.
Por mais que o texto de Dolores Redondo seja afeita a reviravoltas e a atos heroicos típicos de best sellers recomendados para consumo imediato, há uma nítida preocupação em cena para fazer de Oferenda à Tempestade o mais bem acabado dos três filmes. Porém, com tantas pontas soltas e portas abertas deixadas nos episódios anteriores, o diretor Fernando González Molina (Palmeiras na Neve, 2015) coloca em evidência sua preocupação em responder antes a essas questões, eliminando qualquer dúvida, ao mesmo tempo em que se percebe uma evidente falta de habilidade dele em lidar com o que talvez fosse o mais interessante do conjunto: não apenas os atos em si, mas as motivações por trás dos mesmos. Fala-se o tempo todo das consequências, mas por mais que a narrativa se ocupe em ir e vir constantemente nas datas, pouco, ou mesmo quase nada, se discute a respeito dos elementos que teriam sido suficientes para que tamanhas barbaridades fossem cometidas. É o aqui e o agora, e nunca o porquê que ilustra tanto o antes como o depois. Assim, o que se vê é uma obra que até envolve no durante, mas que evapora quase que instantaneamente após sua apressada conclusão.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 6 |
Cecilia Barroso | 5 |
MÉDIA | 5 |
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