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Sinopse

A inspetora Amaia Salazar acaba de retornar da licença-maternidade e já se vê diante de um enigma: o surgimento da palavra tartallo em várias mortes, em alguns casos escrito em papéis endereçados à própria inspetora. Não demora muito para que ela comece a investigar o caso, sem imaginar que a resolução teria o envolvimento de sua própria família.

Crítica

É possível vislumbrar um filme melhor com a história apresentada em Legado nos Ossos. Segundo capítulo da trilogia Baztán, este drama criminal traz de volta a inspetora Amaia Salazar para, de certa forma, plantar pistas falsas sobre quais serão seus rumos. O que a priori não seria problema algum, desde que as escolhas justificassem o abandono de caminhos promissores. Não é o que acontece.

Logo de início somos apresentados a Amaia retornando da licença-maternidade, precisando se dividir entre as tarefas como investigadora e a amamentação do filhote. Hora de ressaltar a dualidade feminina neste momento tão tenso, em que busca conciliar tanto suas satisfações maternas quanto as necessidades de trabalho? Nada disso. Tal contexto é mero aposto à trama central, logo esquecido pela narrativa, assim como também o são o marido de Amaia e mesmo Leonardo Sbaraglia, em papel absolutamente figurante, ao menos neste capítulo.

Nos letreiros iniciais, o público é apresentado a um fato ocorrido em 1611, no qual um investigador federal foi designado para identificar e punir feitiçaria. O primeiro terço de Legado nos Ossos caminha neste sentido, através de uma série de assassinatos onde a palavra "tarttalo" aparece. Com um clima soturno que lembra Seven (1995) - repito, lembra - Amaia e sua equipe investigam a misteriosa palavra em busca daquela que seria "a origem do mal", que instiga pessoas que gostam de causar dor a outras. Até que, repentinamente, a investigação assume ares pessoais em torno da inspetora, sem qualquer justificativa plausível.

Assim como acontece em O Guardião Invisível (2017), a proposta aqui é mesclar o trabalho com a vida pessoal de Amaia, desencadeando fatos ocultos acerca de sua família. Entretanto, se no primeiro filme tal proposta é bem fundamentada, aqui há uma bizarra correria na apresentação dos fatos e reviravoltas na investigação que prejudica, especialmente, o trecho referente ao ocultismo. Especialmente por ser ele tão dependente da construção de ambientação, que fica em segundo plano nesta sequência.

Há ainda sutis mudanças na personagem principal, aqui mais sorridente e menos coerente em seus atos, assim como a fotografia não é tão sombria quanto no primeiro filme. Com subtramas demais que alongam (bastante) os 121 minutos de duração, Legado nos Ossos ainda incomoda (bastante) devido a personagens que surgem repentinamente, como se fossem coelhos tirados da cartola. Fosse o roteiro mais enxuto, haveria tempo suficiente para desenvolver melhor este capítulo da trilogia, sem prejudicar seu ritmo. Aqui, a pressa é um inimigo mortal, resultando em diversos equívocos narrativos e na insólita sequência da inundação, tão desnecessária ao filme quanto mal realizada. Típico caso de momento icônico do livro mantido para agradar os fãs, sem a devida análise de sua utilidade.

Como pontos positivos, há a boa presença de Marta Etura como a inspetora Amaia - não é sua culpa que a personagem seja tão mal desenvolvida - e a ambientação soturna da primeira metade da história, que consegue criar algum clima de suspense. De resto, trata-se de um filme bastante rocambolesco onde tensão e coerência são termos ignorados.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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