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Débora sempre colocou o trabalho na frente de sua vida amorosa. Tanto é que, anos atrás, deu um pé na bunda de seu namorado, Heitor, na frente de todo mundo, só para focar em seu novo emprego em uma grande agência de publicidade. Agora, ela é uma profissional de sucesso e, para dar o passo que falta em sua carreira, só precisa conquistar uma importante conta de bombons. O problema é o diretor de marketing do cliente é ninguém menos que o próprio Heitor.

Crítica

Por mais que se tenha boa-vontade com o cinema brasileiro, há ocasiões em que fica difícil manter a torcida. E Odeio o Dia dos Namorados é uma dessas. Trata-se de uma produção que carece de maiores méritos em vários aspectos, por mais que os talentos envolvidos tenham um histórico relevante. Comédia romântica é um gênero indiscutivelmente escasso de boas ideias, mas o longa do diretor Roberto Santucci se perde na tentativa de alcançar a mais ampla parcela de público possível, sem assumir um foco específico. Com isso, com esta intensa generalização, termina requentando todo e qualquer argumento já explorado no meio, e entregando ao público algo pouco atraente.

Se há algo que falta em Odeio o Dia dos Namorados é originalidade. Afinal, fazer uso de comemorações temáticas para a realização de um cinema genérico é um recurso empregado há anos em Hollywood – basta verificar Idas e Vindas do Amor (2010), que se passa inteiramente no... Dia dos Namorados! Mas o longa nacional não se contenta apenas com essa referência, e decide fazer uma colagem de diversos outros títulos relativamente recentes, e igualmente nada memoráveis. A referência principal deve ter sido o frustrante Eu Odeio do Dia dos Namorados (2009), de Nia Vardalos, que já indicava que esta “pegadinha” no título não tinha muito efeito. Senão, vejamos: protagonista é uma publicitária workaholic sem vida pessoal, (como em Click, 2006), antipática e de poucos amigos (como em Os Fantasmas de Scrooge, 2009), que é visitada por um fantasma para rever sua vida no mesmo dia, porém em anos passados e futuros (como em Minhas Adoráveis Ex-Namoradas, 2009). A intenção é óbvia: fazer com que reveja seus erros passados e mostrando que, caso não mude, o futuro pode ser ainda mais triste que o presente.

Há pontos positivos, no entanto, em Odeio o Dia dos Namorados, e estes merecem ser ressaltados. O principal é o esforço da protagonista Heloísa Perissé em tentar dotar sua personagem de alguma profundidade, indo além do riso fácil. Se no início da trama é difícil nos simpatizarmos com ela, aos poucos isso vai sendo revertido, mais pelo talento natural dela do que pelas condições que o roteiro oferece. Temos aqui uma atriz que frequentemente resvala no exagero, mas que dessa vez consegue se equilibrar nesse limite – ao menos na maior parte do tempo. Muito disso se deve ao seu colega de cena, Daniel Boaventura, ator e cantor acostumado com os palcos, com o contato direto com o público, e que por isso mesmo desempenha com eficiência esse contraponto. Ainda assim, é um filme que poderia ter alcançado muito, mas que parece se contentar apenas com o imediato, como um produto a ser vendido – e pelo que se percebe pela grande quantidade de merchandising que aparece em cena, é bem provável que seu único intento seja esse mesmo – sem maiores consequências posteriores.

Roberto Santucci descobriu um filão no cinema nacional, o da comédia escrachada, que funciona com o público, mas que não perdura na memória. Seus três últimos filmes – De Pernas pro Ar (2010), Até que a Sorte nos Separe (2012) e De Pernas pro Ar 2 (2012) – somaram, juntos, mais de 7 milhões de espectadores. E como em time que está ganhando não se mexe, é bem possível que Odeio o Dia dos Namorados obtenha resultados semelhantes. Mas é preciso um senso crítico aqui, e este irá apontar pela ausência de um apuro mais artístico e autoral nesta nova investida no gênero. É filme fast food, que sacia apenas no momento em que está sendo consumido, e olhe lá. Problema maior é que já percebemos um cansaço na fórmula, e o sinal vermelho para que este caminho seja repensado já foi acionado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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