Crítica


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Sinopse

Recuperando-se de um trauma, Jennifer ainda corre perigo ao voltar para uma vida da qual não se lembra.

Crítica

A soma das fragilidades diretivas e das atuações faz de Obsessão Secreta um filme tão genérico quanto previsível, especialmente a partir do instante em que a protagonista, Jennifer (Brenda Song), é internada após o ataque de um algoz misterioso. O cineasta Peter Sullivan até que faz uma abertura competente, escondendo a identidade do agressor, detendo-se no desespero da vítima, mas, tão logo a trama passe ao hospital onde a mulher se recupera, o filme deixa expostas falhas de diversas naturezas, a começar pela falta de habilidade para desviar o foco e, assim, fomentar dúvidas. Mike Voguel, intérprete do marido preocupado, Russell, não dá conta de expressar-se ambiguamente para que persista uma bruma consistente pairando sobre o caso. Nesse tipo de suspense "barato", o cônjuge sempre é apontado como o principal suspeito, mas não de modo tão desajeitado e involuntário. Talvez para compensar a falta de densidade do trabalho de seu ator, o realizador lança mão de um recurso canhestro para desviar a atenção à força.

Toda vez que um sujeito desenhado escancaradamente para parecer o criminoso entra em cena, os acordes graves da música apontam à sua possível culpabilidade. Todavia, isso até poderia funcionar como uma boa cortina de fumaça, não fosse a falta de sutileza e a incapacidade de Mike de sustentar sua posição intermediária entre o crime e a diligência com a esposa acamada. A ausência de minúcias, desse modo, acaba com a atmosfera de receio, assim telegrafando movimentos que tratam de sobrecarregar o resultado com ainda mais banalidades e obviedades. O testemunho de um assassinato, lá pela metade do longa-metragem, apenas confirma o que está evidente nos primeiros minutos. Mesmo quando, adiante, apresenta uma carta na manga, que não atende necessariamente à previsibilidade sobressalente, Obsessão Secreta o faz com tanta displicência que a revelação sequer chega a reverberar para além da circunstancial surpresa. O frágil enredo é maltratado pela condução burocrática que, por exemplo, subaproveita o som.

Praticamente relegando o extracampo ao esquecimento, Peter Sullivan faz de Obsessão Secreta um filme absolutamente desprovido de personalidade. Nele é possível reconhecer uma série de produções mais ou menos semelhantes, sem que haja peculiaridades para torna-lo relevante e/ou único. Além da dinâmica do rapaz obsessivo pela vítima praticamente indefesa, há elementos tão surrados quanto a estrutura dessa trama. Um deles, a conveniente amnésia da protagonista, condição que a deixa vulnerável às versões de alguém disposto a manipular o passado. Outro é a utilização do arquétipo do investigador torturado por um fantasma íntimo. A persistência de Frank (Dennis Haysbert) é debilmente atrelada ao mergulho vertiginoso no trabalho em função da morte da filha pequena. Porém, nem essa tragédia pessoal é suficiente para que o coadjuvante ganhe camadas e singularidade, o que limita a sua participação ao âmbito da ameaça aos planos do homem completamente desvairado por uma fixação doentia.

Obsessão Secreta torna árdua a missão de encara-lo com seriedade. Mike Voguel não é inábil somente no que tange à construção inicial da ambivalência de seu personagem, mas também pouco convence no lugar que lhe cabe passada a incerteza mal fundamentada pelo filme. Brenda Song é totalmente limitada a ser a vítima desmemoriada que, gradativamente, descobre o ardil alheio, o que deveria aumentar a tensão. Dennis Haysbert repete a atuação que apresentou em tantas obras similares, nas quais igualmente desempenha o papel de emblema da lei. Para completar esse molho insosso e de gosto rançoso, a pobreza produtiva faz da enfermeira Masters (Ashley Scott) a única pessoa com quem falar num hospital gigantesco – a cena dela conseguindo as imagens da segurança em segundos é tão boba quanto inverossímil –, e do policial Charlie (Casey Leach) constante em cena como apoio ao trabalho de Frank nesse suspense tolo e sem força alguma.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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