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Sinopse

Diego é um ator que era obeso e emagreceu 43 quilos em 2 anos. Ele precisa lidar com as inseguranças e possibilidades que esse novo corpo representa.

Crítica

Diego é um ator que era obeso e emagreceu 43 quilos em 2 anos. Ele precisa lidar com as inseguranças e possibilidades que esse novo corpo representa”. Essa é a sinopse de Obeso Mórbido, curta-metragem brasileiro escrito e dirigido por Diego Bauer em parceria com Ricardo Manjaro. O resumo parece simples, mas o que se vê é mais elaborado. As palavras praticamente desaparecem. Bauer está em cena o tempo todo, mas, ao mesmo tempo, se deixa desaparecer, assim como todo o peso perdido nos últimos 24 meses. Ele é um novo homem. Ou será que não? Essa é a grande questão que ele ainda não descobriu como responder, sobre a qual tampouco irá oferecer explicação. À audiência cabe o trabalho de assisti-lo e refletir a partir do (pouco) que é compartilhado. Um caminho árido, duro, de poucas recompensas. Tal qual a jornada física do protagonista.

Nos primeiros momentos de Obeso Mórbido, Diego está com uma foto atual, mais magro e em uma pose aparentemente despreocupada. A imagem, no entanto, não revela o que ele passou até ali. Em frente ao computador seu semblante é distinto: preocupado, concentrado, determinado. Está atrás de outra fotografia, de meses atrás, quando carregava o peso deixado pelo caminho. Seu objetivo é fazer uma montagem no estilo “antes/depois”, mostrando como era e está agora. A intenção, claro, é publicá-la nas redes sociais e esperar, ansiosamente, pelos comentários e curtidas de conhecidos e amigos. É curioso, no entanto, perceber que Diego parece muito mais feliz no "antes" do que no "depois". Teria ele perdido mais do que apenas os quilos extras?

Assim vai se desenvolvendo a narrativa. É fato que ninguém consegue o que ele alcançou sem comprometimento. Não é algo obtido da noite para o dia, sem esforço e dedicação. Mas qual a razão de tudo isso? Quais os seus motivos? Nada se comenta a respeito de uma eventual condição médica – a saúde não é questionada. O que se vê é a sua admiração por corpos masculinos sarados, repletos de músculos e definições. Porém, quando decide sair para a balada, assim o faz sozinho, embora acabe a noite com a menina que o observa. Ele ainda não está apto a escolher. É escolhido, portanto. A insegurança de antes continua? Ou seria uma nova, ainda maior, que o obriga a trocar de roupa em frente ao espelho mais de uma vez, a duvidar de qualquer dobra da barriga e a se mostrar continuamente insatisfeito com os resultados conquistados. Árida foi a caminhada até então, e ela não parece ter terminado.

Por outro lado, o protagonista se sente confortável o suficiente para posar para estudos artísticos. Imagina seu corpo como objeto de cobiça e admiração. Isso mesmo, ou será preciso mais e melhor? Muito pouco é dito, quase nada é esclarecido. O que lhe sobra é seguir adiante, encarando o julgamento dos outros e lidando, dia após dia, com o que se passa dentro dele, que aparenta ser ainda mais turbulento do que aquilo transformado no seu exterior. Obeso Mórbido não tem nada de morbidez e a obesidade há muito deixou de ser algo a ser considerado. O drama é dele consigo mesmo. Assim como se dá, na verdade, com qualquer um que decide se ver por inteiro, um debate íntimo e pessoal. Sofrido, porém nunca menos do que honesto.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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