Crítica
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Sinopse
A ilha subtropical de Amami, localizada ao sul do Japão, é permeada de tradições seculares. Nas margens dela, o jovem Kaito encontra um corpo flutuando no mar. A namorada o ajudará a tentar desvendar o mistério.
Crítica
A natureza, elemento fundamental no cinema de Naomi Kawase, é uma força literal e figurativa em O Segredo das Águas. As primeiras tomadas são do mar agitado, do movimento violento que precede a calmaria. Essa alternância não é gratuita, pois explicita momentos opostos que, veremos mais adiante, não se aplicam apenas às águas, mas, metaforicamente, também aos personagens, sobretudo àqueles que ainda tateiam o mundo. A trama se passa numa ilha, onde vivem os jovens protagonistas Kaito (Nijirô Murakami) e Kyoko (Jun Yoshinaga). Encontrar um corpo boiando inerte perto das pedras desencadeia no garoto uma estranha inquietação, algo que não conseguimos (e nem precisamos) definir de pronto.
O Segredo das Águas é, na verdade, um filme de formação. Nele vemos dois jovens descobrindo-se aos poucos, amadurecendo conforme se deparam com o amor, o desamparo e, em última instância, a morte. Kaito é ensimesmado, tem sérias dificuldades para lidar com os próprios sentimentos. Já Kyoko é extrovertida e, acima de tudo, determinada. Essa diferença se evidencia na maneira como ambos encaram o mar: para ele, é um lugar pegajoso, imprevisível, portanto ameaçador; para ela, é um local familiar onde encontra paz e estabelece comunhão. Também podemos perceber a distinção no confronto deles com a perda, pois enquanto Kaito remói dolorosamente a separação dos pais, Kyoko mostra serenidade mesmo frente à doença terminal que acomete a mãe.
Os personagens de O Segredo das Águas se conectam como que para extrapolar o ordinário, exceção feita a Kaito, desalinhado dessa concepção de um mundo que caminha de acordo com as instabilidades das ondas do mar, no qual se respeita os desígnios de uma natureza sábia, embora nem sempre compreensível. Assim, o percurso mais doloroso será o dele, pois a inadequação lhe privará de uma convivência harmônica com o ambiente – espaço e pessoas que o cercam. Já Kyoko, talvez herdeira de algo da mãe Xamã, aceita o mistério como parte indissociável do viver. A narrativa alterna essas experiências, evitando, porém, contrapô-las como se fossem estritamente antagônicas. Naomi Kawase evita o misticismo, mas certamente busca capturar certa intangibilidade que se desprende das relações.
Seguindo as vicissitudes das marés, a poética de O Segredo das Águas propõe uma espécie de simbiose ontológica entre o ser e o lugar, registrada por uma câmera ora inquieta (quando detida nas pessoas), ora contemplativa (na captura dos fenômenos naturais). Nesse contexto, o sexo surge como conexão não apenas física, mas também de certa forma espiritual, e o medo do amor assemelha-se ao do mar, pois nos dois terrenos se está à mercê dos ventos, ou seja, das mudanças. Aliás, abordar a transitoriedade é outra marca registrada de Naomi Kawase, cineasta que parece desacreditar na permanência, a não ser como ilusão. Kaito e Kyoko aprenderão, de maneiras diferentes, porém complementares, que o fim é apenas o sucessor natural do começo, num ciclo que permite a existência de ambos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Francisco Carbone | 10 |
Wallace Andrioli | 9 |
Chico Fireman | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
Lorenna Montenegro | 10 |
MÉDIA | 7.5 |
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