Crítica
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Crítica
Dez anos atrás, a diretora alemã Clarissa Thieme, ainda uma iniciante no fazer cinematográfico, decidiu ir até lugares abandonados da Bósnia e Herzegovina para registrar o impacto da guerra naquela região. O curta que resultou dessa iniciativa, Sta Ostaje (2010) – traduzido internacionalmente como What Remais, ou O Que Resta, em português – era composto basicamente por longos e estáticos enquadramentos destes ambientes, sem interferência de trilha sonora ou depoimentos. Era apenas a imagem, crua e exposta, permitindo uma reflexão livre do espectador. Pois bem, uma década se passou, e agora a cineasta retornou aos mesmos endereços de antes. O que encontrou pode ser visto em O Que Resta / Revisitado, um longa que não mostra apenas as mudanças (ou não) desses espaços, mas também o progresso da realizadora enquanto artista.
Thieme não está mais sozinha – se bem que, no cinema, ninguém está totalmente só, pois esta é uma arte coletiva. Mas, dessa vez, os bastidores também estão no foco de sua atenção. Assim como o entorno dos cenários visitados. O abandono, na maioria das vezes, não é mais ordem da casa. A reconstrução seguiu seu curso, assim como a vida sempre acaba por se mostrar mais forte. Casas foram levantadas novamente, vazios foram preenchidos, campos foram mais uma vez cultivados. O homem destrói, mas também constrói. E como aqueles que por ali permaneceram enxergam essas mudanças? Talvez essa seja a mais grata surpresa que O Que Resta / Revisitado tem a oferecer.
Turistas passam em busca de uma direção. Um senhor reclama da quantidade de gente que chega sem aviso prévio. Uma senhora se espanta com o agito provocado pela equipe de filmagem em um lugar tão acostumado com a quietude. A mãe de família afirma não ter lugar melhor no mundo para ter criado seus filhos e espera, mais dez anos adiante, se e quando uma terceira versão desse projeto for empreendida, ali se deparem também com seus netos, que certamente virão. A jovem reclama de tudo, mas não tem para onde ir. Há aqueles com planos de partir, e os que querem ficar por conta própria. Em muitos aspectos, esses depoimentos não são diferentes daqueles que poderiam ter sido obtidos em qualquer outro canto do mundo. A diferença não está, portanto, em como eles são hoje. Mas na bagagem que carregam, nas experiências que viveram e nas lembranças das quais não conseguem se ver livres.
Clarissa Thieme e seus colegas pegaram cada um dos planos originais e os imprimiram em grandes fotografias ampliadas. Ao retornarem aos mesmos locais de antes, primeiro colocam a imagem de antes à frente, depois observam atrás. O que mudou? O que há de novo? E como algo pode ter permanecido inalterado, mesmo tanto tempo já tendo se passado? Alguns se surpreendem. Outros se encantam. Muitos, no entanto, passam indiferentes. A impressão é de que esses são encontros do acaso. Não são entrevistas agendadas. Por isso, a espontaneidade percorre a narrativa. São relatos de vidas tocadas pela guerra, pela selvageria e pela destruição. Agora, agem sob outros signos. Há os que se esforçam para esquecer. E os que fazem justamente dessas memórias o gatilho suficiente para irem adiante.
Talvez quando colocados lado a lado, Sta Ostaje (2010) e O Que Resta / Revisitado possam provocar um impacto mais calculado. Visto de forma independente, no entanto, o longa atual não perde sua relevância. Trata-se de um conjunto forte, ainda que sutil, sem a necessidade de discursos ou posturas expositivas. Está tudo lá, na recordação que provoca e na reflexão que termina por gerar, seja durante o novo registro, mas, mais ainda, entre os que com essa obra acabam se confrontando. O pesar é inevitável. Da mesma forma como também é a certeza da renovação. Pois a mão que derruba é aquela que pode levantar. A diferença, entre um e outro gesto, é a motivação a guiar estes atos.
Filme visto online no 9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, em outubro de 2020
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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