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Sinopse

Os Predadores, os mais letais caçadores do universo, agora estão mais fortes, inteligentes e mortais do que antes, tendo se aperfeiçoado com o DNA de outras espécies. Quando um jovem acidentalmente causa seu retorno à Terra, apenas uma equipe improvável de ex-soldados e um professor de ciências amargurado podem evitar o extermínio da raça humana.

Crítica

A verdade é que a saga Predador nunca teve um diretor à altura para olhar por estes personagens nos bastidores. Se Alien contou com Ridley Scott na origem (e na retomada pós-anos 2000) e com James Cameron na sua consolidação, os caçadores rastafáris no máximo tiveram um John McTiernan pré-Duro de Matar (1988), pra depois ser apenas ladeira abaixo – ou alguém lembra de nomes como Stephen Hopkins, Paul W. S. Anderson, Colin & Greg Strause ou Nimrod Antal? É por isso que temos a impressão de que cada novo filme parece ser um recomeço, sem a sensação de continuidade. Fôlego, portanto, é recomendado, mesmo aos fãs mais inveterados, pois se em três décadas Hollywood não conseguiu produzir um longa decente com o monstro alienígena, o fato é que Shane Black não consegue mudar este cenário. O seu O Predador é tão redundante quanto os anteriores – e o pior, parece ter orgulho disso.

Curiosamente, no entanto, este O Predador não é um reboot da franquia. Há, inclusive, referências pontuais aos eventos mostrados nos longas anteriores, principalmente O Predador (1987) e Predador 2: A Caçada Continua (1990). E o que sabemos a respeito? Estes monstros, equivocadamente chamados de ‘predadores’ pelos humanos – erro que é corrigido mais de uma vez durante o filme, insistindo na redundância – são na verdade grandes esportistas, constantemente envoltos em um jogo de vida ou morte. Eles caçam, na real, e o que foi visto em suas incursões prévias pela tela grande foram algumas dessas caçadas, em que homens eram as presas. O argumento aqui se baseia no fato de que a raça humana estaria em extinção e, por perceberem isso, estariam se preparando para tomar conta do Planeta Terra assim que ficar desocupado.

As bizarrices começam pelo fato de que um predador, solitariamente e de forma suicida, parece ter decidido se rebelar contra esse plano e avisar os seres humanos, trazendo consigo uma arma “mata-predador” para nos dar de presente – as razões para isso, no entanto, permanecem um mistério. Acontece que, ao chegar, ninguém reconhece suas boas intenções, e ele passa a ser perseguido, terminando com sua captura. O militar responsável por um dos primeiros contatos com ele (Boyd Holbrook, tirado à força do set de Narcos, 2015-2016), fica com alguns dos artefatos alienígenas, e por engano os envia ao filho (Jacob Tremblay, resignado à postura “criança-prodígio-estranha” que lhe serve como uma luva). Há ainda os agentes do governo (liderados por um Sterling K. Brown exagerando na canastrice a ponto de desfazer em segundos a boa imagem construída durante anos com a série This Is Us, 2016-2018) e a oficial médica que responde pelo clichê ‘bonita e inteligente’ (Olivia Munn, com pouco a fazer além de vez que outra vomitar conceitos que ninguém entende).

Se nos cinco longas anteriores o interessante era justamente acompanhar como os predadores se comportavam em situações de combate, em O Predador o que acontece é justamente o contrário: mais da metade do filme o que vemos são homens contra homens, enquanto que o bicho em si passa a maior parte do tempo ou capturado, ou escondido. Quando finalmente decide mostrar a cara e mostrar a que veio, o que chegou antes é rapidamente descartado, enquanto que o segundo, mais forte e poderoso, parece preferir uma queda de braço, indo para uma luta que talvez contra Schwarzenegger, nos anos 1980, não fizesse feio, mas que hoje em dia soa não mais do que deslocada.

Aliás, Shane Black deixa claro a todo instante estar fazendo um filme aos moldes daqueles produzidos nos anos 1980. A sanguinolência é abundante, com vísceras e intestinos sendo jogados inadvertidamente. Além disso, o diretor perdeu a mão também no que diz respeito ao humor (algo que fez tão bem na comédia policial Dois Caras Legais, 2016): tipos que deveriam ser cômicos, como os interpretados por Thomas Jane ou Trevante Rhodes, ficam entre o inadequado e o insuportável, enquanto que piadas como “um predador nada mais é do que uma Whoopi Goldberg alienígena” ou um predador pegando um braço recém decepado para fazer um sinal de positivo não são menos do que constrangedores. Se somarmos a isso o mau-caratismo do realizador, que empregou um amigo condenado por assédio sexual (o ator Steven Wilder, que teve suas cenas apagadas somente após Munn tê-lo denunciado) por ‘camaradagem’, temos um filme equivocado do início ao fim, que desagrada tanto por suas intenções quanto pelo resultado que entrega. O Predador pode ter o mesmo título do original – a preguiça fica evidente até nesta falta de criatividade – mas está longe de mostrar um vigor capaz de oferecer à franquia um recomeço. E que venha o próximo!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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