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Sinopse

Durante o seu trajeto usual de volta para casa, um vendedor de seguros é forçado por uma estranha misteriosa a descobrir a identidade de um dos passageiros do trem em que se encontra antes da última parada. Com a rotina quebrada, o homem se encontra no meio de uma conspiração criminosa.

Crítica

Você já viu esse filme antes. E talvez tenha sido melhor. Ou não. Porque este é o tipo de entretenimento que precisa funcionar no momento, na hora em que está sendo desfrutado, no aqui e agora. Então, depende, também, muito do espectador estar ou não disposto a embarcar em tudo que a trama propõe. Pois, sim, ela é mais furada do que uma peneira, repleta de absurdos e situações inverossímeis. Mas que, ainda assim, parecem funcionar em algum nível. E, acima de tudo, divertir. E se seu objetivo foi alcançado, quem há de se dispor contra? Afinal, é nessa tecla em que se apoia O Passageiro quase que por completo: você sabe exatamente para que está comprando esse ingresso. E ele não mede esforços para atingir e cumprir estas expectativas.

Já faz um bom tempo que Liam Neeson cansou de insistir a ser levado à sério. Filmes como Kinsey: Vamos Falar de Sexo (2004), Michael Collins: O Preço da Liberdade (1996) ou A Lista de Schindler (1993) – que lhe rendeu sua primeira e única indicação ao Oscar até hoje – o aproximou de diretores de respeito e temas relevantes, mas ele logo percebeu que melhor seria canalizar seu talento limitado a uma área onde fosse melhor explorado. E depois de uma série de participações especiais, que inegavelmente elevavam o status de cada projeto, por mais corriqueiro que fosse, a partir de Busca Implacável (2008) ele parece ter se dado conta que, bom mesmo, era apostar em si próprio. E não como galã romântico (sua beleza é muito particular) ou intérprete versátil, mas, sim, como astro de ação. E mesmo já quase passando da idade – um elemento que nunca foi esquecido e ao qual sempre esteve atento, inclusive neste mais recente trabalho – a repercussão dessa investida foi generosa. Criou-se quase que um subgênero de produções similares estreladas pelo ator. E O Passageiro, se não chega a se diferenciar das anteriores, ao menos está na mesma linha das melhores com as quais já se envolveu.

Como não poderia ser diferente, Liam Neeson é o passageiro do título. Ex-policial que trocou uma vida nas ruas pela existência mais tranquila nos subúrbios, ele pega o mesmo trem todos os dias, pela manhã e à noite, para ir até Manhattan, onde trabalha como corretor de imóveis. Hoje, no entanto, não será um dia como os outros. No meio da tarde, é chamado pelo chefe e demitido. Aos 60 anos, com uma casa hipotecada e um filho com planos de ir para a faculdade, seu mundo parece ter desabado. Por isso mesmo parece providencial demais quando uma estranha (Vera Farmiga, em participação mínima, porém marcante) senta à sua frente na viagem de volta e lhe faz uma estranha proposta: uma alta quantia está à sua espera caso aceite a tarefa de descobrir quem é a pessoa estranha naquele ambiente. Para provar que está falando sério, há um pacote com um adiantamento à espera dele no banheiro daquele vagão. Caso aceite, basta identificar o indivíduo. E o dinheiro será seu.

Muitas questões se levantam nesse momento, mas nenhuma parece ser relevante o bastante para distrair o espectador das diversas idas e voltas de Neeson entre os vagões do trem. É claro que, movido pela curiosidade e desespero, ele acaba entrando no jogo e, quando percebe ter feito uma escolha arriscada demais, já é tarde demais para desistir. Pessoas ao seu redor começam a ser mortas, e até a família dele passa a sofrer ameaças. Cumprir a missão que lhe foi dada se torna uma questão primordial, mas com qual intenção: entregá-la aos leões ou assumir a sua proteção? E o que teria feito este homem ou mulher para estar sendo procurado(a) deste jeito? Pra piorar, resta saber quem o escolheu – alguém a par do seu histórico, obviamente – para tal desafio.

Este não é o primeiro filme do diretor Jaume Collet-Serra com Liam Neeson. Os dois já haviam trabalhado juntos em Desconhecido (2011), Sem Escalas (2014) e em Noite Sem Fim (2015), títulos que brincam com esta mesma estrutura frenética de roteiro, sempre correndo contra o tempo e com uma corda no pescoço prestes a estourar. Em O Passageiro acontece mais uma vez a mesma coisa. O mais estranho, no entanto, é que funciona relativamente bem na maior parte do tempo. Dos três longas anteriores da dupla, esse mais recente assume uma maior proximidade ao thriller aéreo, seja pelo ambiente enclausurado, pelas ameaças de origem aparentemente desconhecida e pela presença de uma mulher enigmática que pode, ou não, estar ao lado do astro. Tão genérico quanto seu título, ao menos aqui escapa da vala comum pela eficiência de Neeson em encarar este tipo tão comum e, ao mesmo tempo, capaz dos atos mais extraordinários. Não é nada demais, no final das contas, mas enquanto dura entretém com qualidade e eficiência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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