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Sinopse

Trevor não dorme há um ano. O cansaço vem o destruindo física e psicologicamente. Ele trabalha numa fábrica operando maquinário pesado, fazendo de tudo para manter seu emprego, embora seja um sujeito isolado.

Crítica

O diretor Brad Anderson, das comédias românticas Próxima Parada: Wonderland (1998) e Feliz Coincidência (2000), mudou totalmente de rumo com o radical e autoral em O Operário. O primeiro choque para quem estava acostumado com a obra do realizador é o visual impressionante do protagonista Christian Bale, que para interpretar um homem que está há um ano sem dormir emagreceu 28 quilos (!), chegando ao absurdo de pesar 54 kg (ele tem 1,88 m de altura). A impressão que se tem é que ele irá se quebrar ao meio a qualquer instante. Mas, felizmente, o longa vai além disto ao nos apresentar uma história de culpa e redenção, em que as alucinações e paranoias do personagem principal são tão importantes quanto a realidade, conferindo um novo sentido para o velho clichê de que “nada é o que parece”.

Esta é a história de Trevor (Bale), um operador de máquinas insone que está sempre cansado. Ele é um solitário, e seu contato mais íntimo com alguém se dá com as duas mulheres de sua vida, a prostituta Stevie (Jennifer Jason Leigh) e a garçonete Marie (a italiana Aitana Sanchéz-Gijón). Em comum entre elas, está o fato dele acreditar que só consegue a atenção das duas somente comprando-as, seja pelo sexo rápido ou pelas tortas com café que despreza. Já a relação com os colegas de trabalho, problemática devido ao seu isolamento, só se complica quando um acidente, provocado por uma desatenção sua, custa o braço de um colega.

Perdido e sem ter com quem dividir suas angústias, aos poucos ele vai desenvolvendo a crença de estar envolvido numa conspiração que visa expulsá-lo do emprego por não confiarem mais nele. Logo sua confusão aumenta quando praticamente todas as pessoas com quem convive – desde a proprietária do apartamento onde mora até um misterioso e estranho desconhecido – começam a agir aparentemente decididos a enlouquecê-lo. Ou será apenas imaginação sua? E se for isto, o que terá sido o estopim desta alucinação?

Estes e outros interessantes questionamentos são a força motriz de O Operário. Contando com uma atuação bastante dedicada de Bale, que vai além da aparente transformação física, um roteiro engenhoso de Scott Kosar (alguém mais habituado a remakes de antigas produções de terror, como O Massacre da Serra Elétrica, 2003, e Horror em Amityville, 2005), uma fotografia monocromática de Xavi Gimenez (do recente Poder Paranormal, 2012) e uma direção segura de Anderson, este projeto é feliz em se posicionar além do mero suspense que apresenta uma já previsível reviravolta final. Mais do que isto, consegue realmente envolver o espectador com habilidade e competência, mantendo as dúvidas presentes até sua conclusão, ainda que ofereça todos os elementos necessários para sua elucidação com a devida antecedência.

O Operário foi uma co-produção entre a Espanha e os Estados Unidos que custou apenas US$ 5 milhões, valor baixo para os padrões norte-americanos. Mesmo assim, talvez por ser demais independente e ousado em sua concepção, arrecadou nas bilheterias de lá cerca de um quinto deste valor. Elogiado pela crítica internacional, foi indicado ao Goya – o Oscar espanhol – na categoria de Melhor Trilha Sonora (de Roque Baños, parceiro habitual de Carlos Saura), além de ter sido premiado em festivais como o de Fantasia de Neuchâtel, na Suíça (Melhor Filme), e no da Catalunha, Espanha (Melhor Ator, para Bale, e Melhor Fotografia). Uma obra curiosa, difícil e que merece ser descoberta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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