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Sinopse

Escondido em meio às sombras em uma noite chuvosa, um homem aguarda a chegada de sua esposa. Em seu lugar, surge uma mulher que jamais havia visto até então. Ela oferece ajuda e ele, sem ter a quem recorrer, conta sua história: trata-se do líder de uma gangue de motoqueiros que, devido a uma guerra sangrenta, acabou matando um policial. Perseguido pelo governo e por seus inimigos, ele precisa de um abrigo onde possa se esconder e se recuperar.

Crítica

Estilo, teu nome é O Lago do Ganso Selvagem - ou deveria ser. Afinal de contas, este parece ter sido o objetivo supremo do diretor Diaok Yi'nam ao rodar este longa-metragem de clara devoção ao cinema noir, mas um tanto quanto atrapalhado ao dosar seus elementos. Ao muitas vezes optar pelo excesso, Yi'nam entrega um filme visualmente até interessante, mas vazio de conteúdo narrativo.

O início segue à risca a cartilha do cinema noir clássico: personagens nas sombras, chuva torrencial, uma mulher misteriosa. A história narrada em flashback revela o porquê daquele homem escondido em busca da ajuda de uma desconhecida, sem ter a quem mais recorrer. A vez dela não tarda, também percorrendo seu passado, ao desvendar sua história prévia. Neste meio termo, Yi'nam pincela aqui e ali algumas cenas de ação, de forma a prender o espectador. Mas este, no fim das contas, não é seu maior interesse.

Chama a atenção o detalhismo do diretor em criar enquadramentos inusitados em sequências plasticamente atraentes, contando com o apoio tanto do figurino quanto da direção de arte. A grande questão é que, na busca pela imagem perfeita, Yi'nam por vezes erra a mão e soa (bem) exagerado. Por exemplo: se na sequência do debate no galpão as constantes quedas de luz auxiliam a narrativa, a partir de breves elipses onde o som indica o que está acontecendo, logo a seguir a aparição do personagem principal em uma moto com cigarro na boca tem um forte fetiche embutido, no caso a reverência ao icônico James Dean. O mesmo vale para as motos e os tênis de sola fluorescentes, sem qualquer função a não ser meramente estética. O Lago do Ganso Selvagem é assim: muito do visto não faz sentido, mas ainda assim belo.

Enquanto se equilibra com os flashbacks, o filme até entrega uma certa fluidez narrativa. Encerrada esta fase, o que se vê é uma série de elipses mal inseridas que confundem demais a trama, ao ponto de dissociar o espectador do que está em exibição. Como compensação, o diretor passa a inserir cenas de ação que descambam para o absurdo e o sangrento; uma vez mais, em sequências visualmente belas e vazias. É o que lhe resta.

Como reverência ao cinema noir e tentativa de revitalizá-lo dentro de um contexto chinês, O Lago do Ganso Selvagem até inicia com propostas que vão além do estético, especialmente na apresentação de uma narrativa que lida mais com códigos visuais do que propriamente palavras. Entretanto, a busca por um rebuscamento constante faz com que seus personagens sejam tipos pré-estabelecidos sem grande desenvolvimento, artificiais na essência - nem há como condenar o elenco, com tão pouco material em mãos. Isto, é claro, tem um custo alto para o longa-metragem, também pela incapacidade do diretor em manter o interesse inicial. No fim das contas, resta um filme bem decepcionante pela sua arrogância.

Filme visto em Portugal, em fevereiro de 2020.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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