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Sinopse

Gatsby passa seus dias entre a vivência na alta sociedade de Long Island e as lembranças de um amor perdido. Sua vida começa a mudar quando ele encontra a mulher amada outrora, esta agora casada com outro homem.

Crítica

A história de O Grande Gatsby, livro de F. Scott Fitzgerald, foi transposta para o cinema pela primeira vez em 1926, no longa de Herbert Brenon estrelado por Warner Baxter como o protagonista. Alan Ladd também interpretou o mesmo personagem em 1949, no drama Até o Céu tem Limites, de Elliott Nugent, mas nenhum ficou tão marcado no imaginário popular quanto Robert Redford nesta versão de 1974 – e ao que tudo indica, Leonardo DiCaprio não conseguirá desfazer essa imagem agora em 2013. Isso porque a conjunção de fatores que esta adaptação apresentou foi, realmente, singular: dois astros no auge de suas carreiras, a direção competente de Jack Clayton (que fora indicado ao Oscar anos antes por Almas em Leilão, 1959) e um roteiro de Francis Ford Coppola, feito durante um dos períodos mais criativos de sua vida – entre O Poderoso Chefão (1972) e O Poderoso Chefão II (1974).

Tudo é preparado com muito cuidado em O Grande Gatsby. Quem nos conduz por esse mundo de luxo e glamour – e de futilidades e prazeres imediatos – é Nick Carraway (Sam Waterston, indicado ao Oscar dez anos depois por Os Gritos do Silêncio, 1984). Primo de Daisy Buchanan (Mia Farrow, após O Bebê de Rosemary, 1968, e muitos anos antes de se associar à Woody Allen), ele passa a frequentar a casa da familiar e de seu marido, Tom (Bruce Dern, que anos depois foi indicado ao Oscar como Coadjuvante por Amargo Regresso, 1978), ao mesmo tempo em que vira objeto de interesse do seu enigmático vizinho, Jay Gatsby (Redford). Este vai se aproximando aos poucos, sem explicar exatamente suas intenções, que no entanto ficam evidentes rapidamente: Gatsby deseja reencontrar Daisy, um amor de uma década atrás e que teve fim quando ele foi chamado para servir na Primeira Guerra Mundial.

Gatsby é um personagem que desperta muita curiosidade. Dono de uma mansão fabulosa e de um jardim gigantesco, costuma oferecer festas fabulosas às quais comparecem todas as pessoas célebres da região – com exceção dele próprio. Ele ostenta, como que para mostrar seu potencial, ao mesmo tempo em que permanece recluso, alimentando boatos e fofocas a seu respeito. Ninguém sabe exatamente de onde veio sua fortuna, o que fazia antes de se mudar para lá e qual a verdadeira razão para todas estas comemorações. O longa é eficiente em criar esse interesse, pois vemos antes todos os demais personagens – Gatsby aparece, de fato, pela primeira vez, mais de meia-hora após o início da ação. Dessa forma, ficamos tão voltados a ele como qualquer outro presente, conectados com ele de modo hipnotizante.

Se começa muito bem, num ritmo calmo e envolvente, O Grande Gatsby de Jack Clayton se perde na metade final da trama. Quando todos revelam suas reais vontades, custa um pouco compreendê-las por completo. Talvez o tipo mais problemático seja Daisy, numa interpretação neurótica e frívola de Farrow, tornando difícil de acreditar no seu poder de despertar tamanha paixão. Carraway, por outro lado, nunca consegue ir além da mera posição de espectador – ainda que o enredo lhe ofereça algumas oportunidades. Por fim, a trama paralela envolvendo a amante de Tom Buchanan e seu marido pode ser necessária para a conclusão trágica esperada, mas até lá cada participação deles não consegue provocar nada mais do que tédio.

Este O Grande Gatsby é uma obra que não envelheceu muito bem – e talvez por isso se justifique essa nova releitura, sob o comando do frenético Baz Luhrmann. No entanto, há méritos que não se esvaíram com o tempo, como a atuação poderosa de Redford – um astro que sempre teve grande presença – os figurinos deslumbrantes e a bela trilha sonora (ambos premiados com o Oscar). O filme ainda se saiu bem no BAFTA (ganhou três prêmios técnicos) e no Globo de Ouro (Karen Black, a amante Myrtle, foi escolhida como Melhor Atriz Coadjuvante, enquanto que tanto Dern quanto Waterston foram indicados na mesma categoria masculina). No entanto, seu principal, o texto que nasceu na união de Fitzgerald e Coppola, soa um tanto moralista e até mesmo piegas, o que é quase um crime diante um visual tão elegante. Sua virada final é pouco elaborada, assim como a solução, que soa apressada. Trata-se, numa última análise, de um título bastante representativo de uma época, mas que pouco reflete nos dias de hoje.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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