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Sinopse

Após a máfia matar sua família, o jovem Vito foge da sua cidade na Sicília e vai para a América. Vito luta para manter sua família. Ele mata Black Hand Fanucci, que exigia dos comerciantes uma parte dos seus ganhos. Com a morte de Fanucci, o poderio de Vito cresce, mas sua família é o que mais importa para ele. Agora baseado no Lago Tahoe, Michael planeja fazer incursões em Las Vegas e Havana instalando negócios ligados ao lazer, mas descobre que aliados como Hyman Roth estão tentando matá-lo.

Crítica

É bem provável que você já tenha lido ou ouvido essa afirmação em algum outro lugar. Mas é impossível não repeti-la quando se trata de O Poderoso Chefão: Parte 2. Não há uma continuação sequer – das inúmeras que Hollywood produz anualmente – que seja tão rica, cheia de adjetivos positivos e que honre e supere seu antecessor como o segundo filme dirigido por Francis Ford Coppola sobre a família Corleone. Quando os mais de duzentos minutos de filme terminam, a sensação de arrebatamento que a obra causa é materializada com sua boca aberta e a declaração inconsciente de um proeminente "uau!". Sim, Coppola conseguiu de novo!

A história começa alguns anos depois do ponto em que a primeira parte termina. Michael (Al Pacino) é um Don temido e respeitado, que tenta seguir os passos do pai e fazer com que os negócios da família saiam da clandestinidade e se adequem à legalidade. Para isso, seus esforços se concentram em conquistar a costa leste dos EUA, abandonar o contrabando e controlar de vez os cassinos de Las Vegas. Em paralelo a narrativa de Michael, temos a origem de seu pai, Vito Andolini, mais tarde conhecido como Don Vito Corleone. Desde criança na Sicília até o início de seu império na charmosa Nova York do começo do século XX. Ou seja, o filme vai e vem no tempo. Ora mostrando a realidade de Michael, ora revelando as origens de seu pai.

Essa premissa de traçar um paralelo temporal entre pai e filho, mostrando a ascensão tanto de um quanto de outro, consegue estabelecer uma excelente análise filosófica sobre a relação que há entre as escolhas de um sobre o outro. Enquanto Vito Corleone (Robert De Niro), movido pelo amor a família recém iniciada, faz seu negócio crescer com base no jogo de cintura e em pontuais demonstrações de poder; Michael encontra na força e da intimidação constante a melhor forma de manter as coisas sob "controle" e assim preservar o nome da família, a memória de seu pai e a segurança de sua mulher e filhos. E é exatamente nesse ponto que observamos o filho cometer os erros que o pai evitou. Michael se move muito mais pela obstinação cega do dever para com o passado do que pelo anseio de construir algo sólido para o futuro. Ele quer terminar o que o pai começou. Isso se torna perfeitamente nítido na medida que o filme avança e as histórias vão se entrelaçando. Enquanto enfrenta o ódio de outras famiglias e a perseguição do senado que busca de todas as formas exterminar o poder paralelo que a máfia representa, Michael não percebe que o motivo que, no discurso, usa como justificativa para suas questionáveis ações, vai escorrendo entre seus dedos. O que seria? Sim, sua família.

Esse é um dos melhores conflitos do filme, por sinal. Mais do que as ferozes discussões entre os advogados de Michael e os políticos que o perseguem; mais do que os tiros que são trocados entre seus generais; as "batalhas" protagonizadas por sua família são o centro da trama. Mas para isso é necessário não apenas citar, mas aplaudir a atuação de Diane Keaton como a esposa, Kay Corleone. O espaço que lhe faltava no episódio anterior, lhe sobra dessa vez. E não o desperdiça. Revelando as nuances presentes em uma mulher deixada de lado, Keaton nos conquista através da construção das fases que o término de um casamento passa. Começa fiel ao marido, mas à medida em que ele vai se perdendo dentro do mundo da máfia, os esforços que protagoniza se exaurem, assim como o amor que um dia teve por aquele homem.

A origem de Vito Corleone é assombrosamente genial. A reconstrução daquele período histórico, tanto na Sicília quanto em Nova York, traz um forte ar poético a película. Unindo isso ao clima de ópera que o original já possuía, o resultado é uma magnífica pintura cultural e social – méritos do diretor de fotografia Gordon Willis que, assim como em seu antecessor, consegue, com uma luz quase teatral, retratar assertivamente o tenso ambiente da história. Mas o sucesso dessa narrativa, fora a construção única de Coppola, se deve à brilhante atuação de Robert De Niro. Ele consegue reconstruir os trejeitos popularizados por Marlon Brando e aprofundar ainda mais o personagem – é claro, o roteiro foi fundamental para isso, mas o ator está tão bem que levou o Oscar de Coadjuvante naquele ano.

As duas narrativas, enquanto caminham e revelam o destino que seus protagonistas terão, vão também fechando essa excelente avaliação sobre herança familiar. Na vida de Michael tudo dá errado. As escolhas que faz – sem mais spoilers; assista ao filme, por favor – o conduzem a um caminho de culpa e solidão. Já com Vito, por sua vez, temos uma linda cena da família reunida na sala de jantar à sua espera. Por mais que o filho tenha se esforçado, ele não é como Don Corleone. A sobreposição que nos tira da sala escura dele e nos leva ao alegre jantar paterno surge como uma lembrança, uma reflexão, a compreensão de que falhou em sua missão. Não se tornou o homem que o pai sonhou que fosse.

O Poderoso Chefão: Parte 2 consegue o impossível: superar seu antecessor com um texto coeso, atuações inspiradíssimas e uma excelente direção. Disfarçado como um filme sobre a máfia, na verdade o que vemos é um estudo sobre as complexidades familiares. Definitivamente, é o melhor trabalho de Coppola. E, com toda a certeza, um dos melhores da história do cinema.

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Eduardo Dorneles é estudante de letras, amante de cinema, literatura, HQs e mantém um blog de crônicas e contos (edorneles.blogspot.com) .
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