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Sinopse

Vários assassinatos acontecem num município interiorano de São Paulo. As vítimas são todas ruivas. Antes de serem mortas, elas receberam um pacote contendo um escaravelho. Um jovem e o delegado local vão investigar o caso.

Crítica

Verdadeiro clássico da literatura nacional, é muito provável que O Escaravelho do Diabo nunca tenha recebido a devida importância apenas por se tratar de uma obra infanto-juvenil, voltada a um público em formação e, supostamente, menos exigente. Tolice. O texto de Lúcia Machado de Almeida, publicado pela primeira vez em capítulos na revista O Cruzeiro em 1953, permanece atual e com a mesma dinâmica envolvente mais de meio século depois, confirmando ser mais do que acertada – e também tardia – a decisão de, enfim, adaptá-la para o cinema. Mas eis que chega agora o filme de Carlo Milani, uma obra de peso e respeito, que faz jus à fama adquirida por diversas gerações e pronta para conquistar um número ainda maior de admiradores através da expressão audiovisual.

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Na pequena e pacata cidade de Vista Alegre, a população entra em convulsão quando se descobre que um serial killer está à solta, fazendo suas vítimas de modo preciso e determinado. Quem se dá conta disso é o jovem Alberto, um menino cujo irmão mais velho foi a primeira vítima. O que ele percebe antes de todo mundo são as ligações entre os assassinados. Pra começar, todos são ruivos. Depois, e ainda mais estranho, está o fato de, dias antes de morrerem, receberem pelo correio uma pequena caixa, contendo apenas um escaravelho dentro. O nome científico do inseto, no entanto, é a dica que precisam para entender como cada um irá morrer. O escaravelho maior e chifrudo, por exemplo, indica que seu dono irá ser assassinado por uma espada. Um outro, envenenado. E assim por diante.

Pensando justamente no seu público, Milani e os roteiristas Melanie Dimantas (Carlota Joaquina: Princesa do Brazil, 1995) e Ronaldo Santos fizeram alterações que podem incomodar os mais preciosistas, porém se mostram úteis na tela grande. A que chama mais atenção, obviamente, é a mudança da idade do protagonista. Se no universo literário quem morria primeiro era o irmão mais novo do personagem, aqui o que acontece é o inverso. Matar uma criança logo de começo poderia gerar uma repercussão indesejada, pois tornaria gráfico aquilo que até então estava apenas na imaginação. Porém, quando o contrário é que se sucede, a morte do jovem diminui um choque que seria gratuito, ao mesmo tempo em que oferece ao menor uma dimensão de maior relevância no enredo. Afinal, se um garoto pode estar à frente de uma investigação como essa – e em nenhum momento ele se mostra um geniozinho, erro que seria fatal e evitaria uma maior identificação – a sensação de aventura e suspense se dissemina entre a audiência de forma muito mais equilibrada.

E se muito fica nas costas do novato Thiago Rosseti – que se sai bem liderando a ação – ele, felizmente, não está sozinho. Além de nomes como Jonas Bloch, Selma Egrei e Lourenço Mutarelli, quem se destaca mesmo é Marcos Caruso, em mais uma participação cinematográfica de imenso prazer. Ele surge como o delegado Pimentel, que dá início às investigações, mas logo é afastado por condições médicas – ele começa a apresentar indícios de Alzheimer. A questão, que poderia ser tratada ou de forma exageradamente dramática ou de maneira leviana e debochada, felizmente encontra um caminho do meio, assumindo-se em cena com delicadeza e respeito. Muito disso está no texto e no olhar cuidadoso do diretor, é claro, mas é importante ressaltar o empenho do ator, que oferece o seu melhor em uma composição iluminada.

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O Escaravelho do Diabo é filme brasileiro de gênero, voltado para um público específico, mas que felizmente consegue ir além dessas amarras delimitadoras e se apresenta como uma obra completa, envolvente e instigante. Entretenimento assumido, funciona como trama de suspense e também como retrato de um momento sociocultural do país, de crescente descrédito das instituições de direito e opta-se, cada vez mais, pelo sistema da justiça pelas próprias mãos. Mas há sempre um outro lado, daqueles que insistem em trilhar o caminho muitas vezes mais difícil, porém apropriado. E são justamente esses que fazem a diferença. Da mesma forma como se espera desse filme, que consiga estabelecer esse diálogo com um público sedento por opções e que seja não apenas descoberto, mas que também adquira uma expressão maior entre aqueles capazes de admirar um cinema feito com competência e qualidade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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