Crítica


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Sinopse

Entrelaçando meio ambiente e infância em grandes centros urbanos do Brasil, México, Chile, Peru e Estados Unidos, o filme faz uma leitura de diversas culturas e vivências.

Crítica

Depois de tratar da importância das relações humanas nos primeiros anos de vida de uma criança, e do impacto dos acontecimentos dessa fase para a formação de cada indivíduo, bem como da sociedade, em O Começo da Vida (2016), a cineasta Estela Renner segue navegando pelo universo infantil, mantendo também a proposta de cunho social das produções da Maria Farinha Filmes. Desta vez, Renner atua apenas como produtora, deixando a cargo de Renata Terra a direção de O Começo da Vida 2: Lá Fora, sequência que aborda o valor da conexão das crianças com a natureza, geralmente escassa, que as cerca, em uma sociedade cada vez mais urbanizada. Dialogando diretamente com o longa anterior em sua esfera temática, o novo documentário repete ainda diversos elementos formais e narrativos, como o viés multicultural, tendo sido rodado em diversos países da América Latina, como Brasil, Chile, Peru e México, além de Estados Unidos e Reino Unido.

A estética de peça publicitária – com muitos planos aéreos, fotografia e iluminação solares – assim como a trilha sonora, por vezes excessivamente melodramática ou simplesmente intrusiva, também retornam para embalar um conteúdo bastante didático, que traz entrevistas feitas com diversos especialistas em áreas como pedagogia, saúde e psicologia, integrantes de diretorias de escolas, ONG’s e outros projetos e ações voltadas ao tema tratado, além de pais e das próprias crianças. Assim como no capítulo anterior, é dos momentos de espontaneidade, que flagram os pequenos nesse contato muitas vezes primitivo com a natureza, desbravando-a a seu modo, que o longa de Renata Terra extrai a maior parte do que tem a oferecer como experiência mais íntima e sensorial. Característica que se sustenta, mesmo que a naturalidade da ação, em determinadas passagens, contraste com a embalagem visual padronizada ou com o discurso surpreendentemente maduro e articulado de certas crianças entrevistadas.

É mesmo no quesito informativo que a diretora se concentra, com as falas dos especialistas tomando boa parte da projeção. Ocorre que, ainda que os depoimentos apresentados sejam muito eloquentes, trazendo uma grande variedade de dados, estudos, frases de impacto – como aquela que compara a arquitetura dura e cimentada de muitas escolas com a de presídios – e questionamentos sérios, especialmente em relação ao futuro pouco otimista que se projeta sobre a preservação dessa relação humana com a natureza no contexto urbano, todos os relatos acabam girando em torno da mesma percepção. O consenso geral é de que o contato precoce com a natureza é fundamental para o bom desenvolvimento psicológico, social, criativo, e mesmo físico, das crianças, e as falas dos especialistas surgem como modos ligeiramente distintos de afirmar esse mesmo ponto de vista. Com isso, mesmo que se acompanhe as entrevistas com interesse, a certa altura, as mesmas tornam-se um tanto repetitivas.

As reflexões sobre o excesso de tecnologia no dia a dia das crianças, buscando substituir, por diversos motivos, as experiências do mundo real, do universo fora do lar e da escola, ou ainda acerca da necessidade de medidas mais efetivas por parte dos governos para garantir a preservação e a expansão das áreas verdes nas grandes metrópoles nos próximos anos, por exemplo, são bastante ricas. Contudo, o encadeamento de depoimentos sobre os mesmos tópicos, gradativamente, traz a sensação de que pouca novidade está sendo acrescentada ao conteúdo já exposto. O que termina por quebrar esse sentimento é o espírito de curiosidade presente nas sequências que trazem as crianças “em ação”, bem como alguns segmentos que tratam de assuntos específicos, como o projeto que estimula os jovens a navegarem nas águas da represa Billings, em São Paulo. Outro elemento que contribui para o acréscimo de novas percepções é a atual situação mundial vivida com a propagação da Covid-19.

As cartelas de texto que abrem O Começo da Vida 2: Lá Fora informam que o documentário foi rodado antes da pandemia, fazendo ainda um convite a imaginar “o mundo lá fora que a gente quer”. Com um cenário onde as crianças, assim como todas as pessoas, se viram obrigadas a permanecerem isoladas, se distanciando ainda mais do contato com a natureza – algo abordado diretamente quando, ao final, são revelados vídeos gravados durante a quarentena por algumas das crianças que que protagonizam o longa, tratando de suas rotinas atuais – todo o conteúdo apresentado ganha novos contornos. Um olhar diferenciado, que provavelmente não seria obtido caso o lançamento ocorresse em uma situação de normalidade, mas que garante uma relevância maior ao produto final, mesmo com seu formato esquemático e repetindo vícios narrativos, que poderiam ser deixados de lado, do primeiro filme.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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