Crítica


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Sinopse

Um dos maiores avanços da neurociência é ter descoberto que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qualidade das relações que desenvolvemos e do ambiente em que estamos inseridos.

Crítica

Seguindo a proposta da produtora Maria Farinha Filmes de abordar temas de interesse social, que já rendeu longas como Criança, a Alma do Negócio (2011), Muito Além do Peso (2012) e Território do Brincar (2015), a cineasta Estela Renner lança seu novo documentário, O Começo da Vida, realizado em parceria com diversas ONGs nacionais e também com o apoio da UNICEF. Assim como nos trabalhos anteriores já citados, Renner direciona seu olhar ao universo infantil, desta vez tratando da importância das relações humanas nos primeiros anos de vida de uma criança e do impacto dos acontecimentos desta fase não só para a formação de cada indivíduo, mas também para o futuro da sociedade.

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Filmado ao longo de dois anos em nove países (Brasil, EUA, Itália, China, Índia, Canadá, Argentina, Quênia e França) o documentário busca tratar sua temática de forma universal sob o prisma da pluralidade de culturas, etnias e classes sociais. Assim, acompanhamos depoimentos de mães e pais dessas diferentes nacionalidades, além de especialistas de diversas áreas, como educadores e economistas, para tentar compreender como as crianças na chamada primeira infância enxergam o mundo à sua volta. Adotando uma narrativa bastante didática, inicialmente Renner se concentra em adentrar a mente das crianças para que o espectador compartilhe do sentimento das primeiras descobertas, dos primeiros laços afetivos e da relevância destas experiências para o desenvolvimento da relação entre pais e filhos.

Para ilustrar a grande quantidade de informações apresentadas, o longa se vale da espontaneidade das ações das crianças que são registradas pela câmera de Renner. A interação e as reações genuínas destes pequenos seres humanos servem como exemplo prático dos conceitos e das observações feitas tanto pelos especialistas quanto pelos próprios pais. A criação da empatia, a noção de domínio da linguagem e do próprio corpo, a necessidade do estímulo ao conhecimento, à criatividade e à imaginação estão entre as dezenas de assuntos analisados e que ganham vida través de imagens quase sempre lúdicas do cotidiano dos filhos. Aos poucos, a cineasta transfere o ponto de vista quase exclusivamente infantil para tratar também do papel dos pais, abrindo espaço para novos objetos de estudo.

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A partir deste ponto são abordados temas atuais como as mudanças no que já foi considerado o modelo familiar tradicional, mostrando que cada vez mais pais e mães tendem a dividir a responsabilidade da criação dos filhos, tarefa antes atribuída quase que exclusivamente às mulheres. Os novos conceitos de família, com casais homossexuais, filhos adotivos, pais e mães solteiras, discussões sobre licença maternidade e sobre a importância da relação com avós e irmãos também entram no debate proposto pelo filme. Essa grande quantidade de tópicos, porém, faz com que uma parte dos mesmos seja tratada de modo superficial, diluindo seu conteúdo. No ato final, Renner volta a ter um controle maior da narrativa ao focar nas questões sobre a desigualdade social e como o fator econômico influencia diretamente a favor ou contra a criação de um ambiente ideal para o desenvolvimento das crianças.

Nos depoimentos de uma mãe brasileira de doze filhos ou da garota indiana que cuida sozinha de seus irmãos mais novos e diz não ter sonhos, por exemplo, estão algumas das cenas mais tocantes do longa, reafirmando que apesar do amor ser o elemento fundamental  à criação de um filho, a ausência de condições básicas, como moradia e alimentação, interfere drasticamente neste processo. Mas se Renner extrai emoção com naturalidade de momentos como estes, em outros exagera na utilização de elementos narrativos, como a trilha sonora melodramática, que, especialmente no primeiro ato, surge excessiva e intrusiva.

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A estética de campanha publicitária, com sua iluminação solar, apesar de gerar um belo efeito plástico, também contribui para certa sensação de artificialidade, que por vezes conflita com toda a verdade presente nas brincadeiras e ações das crianças. Todos esses são pontos que poderiam ser trabalhados com mais sutileza pelo filme, embora não cheguem a invalidar os debates interessantes levantados ao longo da projeção, resultando em uma obra que obviamente irá falar mais alto aos pais e mães de filhos pequenos, mas que também consegue passar sua mensagem e dialogar com o público em geral.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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