Crítica


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Sinopse

Em busca de lixo espacial, quatro rebeldes vivendo no ano de 2092 encontram segredos inflamáveis.

Crítica

Este filme é uma aventura espacial genérica. Senão vejamos. A trama se passa no fim de século 21. Na realidade imaginada, a Terra se transformou num decadente depósito de pessoas que não têm dinheiro para aderir à alternativa que fornece melhor qualidade de vida no espaço. Há uma grande empresa encarregada de viabilizar colônias provisórias e pensar uma ambiciosa estratégia de terraformação, processo radical de modificação atmosférica para um planeta suportar nossos ecossistemas e formas de vida. A cartilha do gênero indica duvidar do altruísmo do empreendedor megapoderoso por trás da iniciativa aparentemente humanitária. Os protagonistas são membros das classes baixas, recolhedores do lixo vagante no universo em troca de alguns míseros dólares – que nem são suficientes para pagar as multas, os reparos e os impostos. Mas, o cineasta Jo Sung-hee prefere não se aprofundar muito nessa constituição político-social, passando meio batido por ela para privilegiar as missões e desdobramentos que conseguimos prever quase nos detalhes.

Embora os personagens principais e a produção sejam sul-coreanos, não há uma vontade manifestada de atrelar qualquer aspecto ao patriótico. Desse modo, Nova Ordem Espacial passa longe de aderir àquele discurso nacionalista tão presente em longas-metragens futuristas norte-americanos e russos, por exemplo, sobretudo quando vigorava a União Soviética, a Guerra Fria, numa época em que a corrida pela soberania espacial era uma engrenagem geopolítica determinante. Nessa toada, o cinema acabou frequentemente reproduzindo a rivalidade entre comunistas e capitalistas, motivo, inclusive, da diferenciação de denominação quanto aos exploradores heroicos do cosmos. No lado dos Estados Unidos, os bravos astronautas. No corner soviético, os incansáveis cosmonautas. Aqui, o fato dos tripulantes da nave, cujo nome prenuncia o resultado das investidas contra o mal, serem orientais representa a mínima diferença, pois não há nada sublinhado de acordo com a origem. Talvez uma concessão para ser o mais “internacional” possível, dada a distribuição pela Netflix, meio que intenta atingir um público globalmente vasto? Muito provavelmente seja bem por aí.

Mas, Nova Ordem Espacial não tem gosto de comida requentada, embora bem conduzida e com efeitos especiais bastante convincentes, somente por conta da história manjada. O andamento do enredo também é condicionado pelo lugar-comum. Tae-ho (Song Joong-Ki), piloto assombrado pelo desaparecimento da filha, tem um comportamento ligeiramente ambíguo, porque orientado prioritariamente pelo desejo de reaver o ente querido. Não é difícil imaginar que, diante da necessidade de cuidar da criança alardeada como uma bomba de hidrogênio ambulante, ele será em certo instante levado a ter de decidir entre a salvaguarda dessa inocente (de quebra, da Terra) e a chance de resgatar a sua menina. Pena que o filme não se aprofunde na construção do personagem e tampouco nas hesitações que ele possa ter motivado por um senso moral ou mesmo pelo apego inesperado à indefesa Kot-nim (Park Ye-Rin). Os demais membros da embarcação valem o quanto pesam suas capacidades voluntariosas de serem apoio e, caso convocados a, renunciarem-se em prol de uma causa maior.

Nova Ordem Espacial é mais bem-sucedido ao abraçar desavergonhadamente tanto a aventura quanto a sua disposição por reafirmar velhas fórmulas. No terço final, quando a delineação sócio-política e o plano surrado a ser desativado perdem terreno à correria e a urgência das estratégias para frustrar o vilão, o conjunto cresce, apresentando algumas cenas até empolgantes. Por um lado, Jo Sung-hee não pretende conferir substância a esse cenário complexo, deixando-o com cara de pretexto. Por outro, sabe valorizar questões como hombridade, solidariedade e a disponibilidade admirável pelo sacrifício em função dos bens maiores. Nos tempos em que vivemos, nos quais muitas pessoas sequer firmam pequenos pactos sociais para desacelerar uma pandemia – como utilizar máscaras, manter distanciamento e vacinar-se – chega a ser comovente, ainda que dentro de uma estrutura narrativa bem simplista, testemunhar a valentia dos que pensam no coletivo primeiro. O plot twist próximo ao encerramento também é convencional, mas bem camuflado entre perseguições de naves e tomadas de decisões imprescindíveis para a sobrevivência da raça humana. Estivesse um pouquinho mais atento ao que poderia tonar densa essa correria toda e o realizador, ao menos, teria ido além do correto.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Leonardo Ribeiro
6
MÉDIA
5.5

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