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Sinopse

Um grupo de criminosos planeja roubar 600 milhões de dólares do tesouro norte-americano durante a passagem de um furacão. No entanto, seus planos são interrompidos quando o fenômeno meteorológico atinge o nível 5, considerado o mais grave de todos, e eles precisam do código de segurança que apenas uma funcionária do banco tem.

Crítica

Para começo de conversa, No Olho do Furacão parte de uma premissa tão absurda que poderia até render algo cinematograficamente divertido. Mas, não é o caso desta produção do cineasta Rob Cohen, bom adiantar. Uma cidadezinha norte-americana está em estado de alerta por conta da possibilidade de um furacão sem precedentes. Will (Toby Kebbell), meteorologista de plantão, alerta as autoridades sobre o que ele considera potencialmente devastador. Paralelamente, há um assalto mirabolante em curso. Bandidos decidem surrupiar nada menos que US$ 600 milhões da sede do Tesouro Nacional que (adivinhem!) fica nessa localidade prestes a ser completamente destruída. Portanto, há dois conflitos se desdobrando para supostamente gerar algum efeito inusitado. No prédio federal, os marginais tentam penetrar no cofre, mas dependem da intrépida agente Casey (Maggie Grace), a única portadora dos códigos de acesso que (pasmem!) se junta ao homem do tempo para resistir.

O maior problema de No Olho do Furacão – e eles são diversos, de naturezas múltiplas – reside no fato de Cohen querer levar tudo muito a sério, sem um pingo de autocrítica com relação à dimensão rocambolesca do argumento à mão. Sintoma disso é o prólogo que pretensamente se encarrega de criar um passado sofrido para Will e seu irmão mais velho, Breeze (Ryan Kwanten), já que eles presenciaram o pai sendo engolido por um furacão. De maneira semelhante, há o arremedo de desenho das motivações de Casey, com menções bastante esporádicas a uma falha catastrófica no passado. Essas tentativas de estofar os personagens com densidade são canhestras ao ponto de dotar certas passagens de contornos vergonhosos. Aliás, na seara do “não precisava, né?” temos passagens impressionantes (pela ruindade), como duas pessoas sendo açoitadas por uma tempestade, mas sobrevivendo sem qualquer dano maior em virtude de estarem presas à estrutura do prédio por cintos de segurança especiais.

Do lado dos vilões, pouco a se falar. Ralph Ineson, ator com múltiplos recursos dramáticos, é reduzido a um mandachuva de meia tigela que fica rosnando ordens e bancando o malvado. Rob Cohen consegue a proeza de desandar sobremaneira quando transforma o furacão em protagonista. Aí sobressaem a sua inépcia para realizar cenas de ação genuinamente tensas e a má qualidade da computação gráfica empregada. Embora a maquiagem coloque um pouco de sangue e sujeira no rosto dos intérpretes, e compreendidas todas as licenças “poéticas” que o mote aparentemente permite, é difícil imaginar como alguém consegue ganhar apenas meros arranhões depois de ser praticamente engolido pela fúria do desastre natural. O veículo de Will se assemelha ao tumbler do Batman, pretexto capenga para sequências inteiras em que os mocinhos superam os bandidos em meio a chuvas torrenciais e rajadas de vento impressionantes. Aliás, talvez nem o defensor de Gothan conseguisse igualar os feitos deles.

No Olho do Furacão carece de adrenalina e inventividade visual para tornar minimamente divertido o festival de incongruências e exageros da sua trama. Dividido entre observar mais detidamente os incrementos do roubo em andamento e deflagrar o peso dramático intrínseco à proximidade de um furacão, Rob Cohen transforma a produção numa salada de frutas sem pé nem cabeça, deixando de lado contextos significativos na tentativa de ressaltar a urgência das demandas, seja defender o dinheiro do Tio Sam ou escapar com vida da violência incontrolável que se avizinha. Quanto ao entendimento dos irmãos, cuja relação é fraturada após a morte do pai, ela se dá em momentos de respiro, sem importância. Buscar qualquer relevância é um caminho sem volta à frustração. Nem na condição de entretenimento escapista o longa-metragem emplaca, se desenvolvendo como acaba, ou seja, banalmente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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