Crítica


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Sinopse

Cinco casais vivendo no início dos anos 1960 no Brasil. Duplas consideradas convencionais, porém na intimidade os desejos e as insatisfações fazem elas se afastar do moralismo vigente na época.

Crítica

Nelson Rodrigues é, inegavelmente, um dos maiores nomes da literatura brasileira. De estilo altamente característico, dono de um olhar crítico e profundamente detalhado, é presença constante nos palcos e nas telas – tanto do cinema quanto da televisão. Mas ao mesmo tempo em que seguidamente revisitado tanto em montagens teatrais ou por programas especiais, há tempos o autor não estreia na sala escura com pompa e circunstância. Talvez para romper essa impressão entra agora em cartaz o múltiplo Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos, longa de estreia de Clóvis Mello que chama atenção tanto pelo grandioso elenco reunido como pelas histórias narradas. Pois, ao mesmo tempo em que deve atender as expectativas do espectador mais familiarizado, possui condições suficientes para surpreender os novatos com boas atuações e uma contagiante fluidez entre os contos aqui explorados.

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Ao invés de adaptar um único romance, Mello opta por seguir o mesmo caminho visitado em Traição (1998) ou na série de televisão A Vida Como Ela É... (1996): ou seja, reúne várias histórias sob um mesmo tema: no caso, amores e traições. Assunto frequente nos escritos de Nelson Rodrigues, aqui vira motivo de descontroles emocionais, arrependimentos pós-morte, desconfianças entre amigos, surpresas familiares e até mesmo revanches conjugais. São ao todo cinco relatos, envolvendo casais recentes e outros já com anos de união, aqueles se bastam entre eles e os que necessitam de uma grande família em volta, os descontrolados de ciúmes e aqueles que nada enxergam debaixo do nariz. Extremos que navegam de um lado a outro apenas para revelar diversas facetas da natureza humana, entre as máscaras que usamos para nos esconder dos demais e a cara limpa que ousamos assumir apenas nos momentos mais íntimos.

Elvira (Gabriela Duarte, muito à vontade) é mulher do Orozinho (Pedro Brício), mas não vive sem a presença do melhor amigo dele, Eusébio (Michel Melamed). Asdrúbal (Marcelo Faria) deu a sorte grande de casar com a filha do patrão, mas só tem olhos para a empregada. Marlene (Branca Messina) mal consegue respirar diante do controle obsessivo do marido, mas quando ele sai numa viagem a trabalho, ela toma uma decisão: irá traí-lo com seu melhor amigo. Já a recém casada (Julia Lund) descobre na última hora como virar o jogo quando percebe que o marido folgado pretende usá-la até às últimas consequências para manter sua boa vida. Por fim, há o garçom (Ernani Moraes) que passa os dias preocupado com a doença aparentemente irreversível da esposa, mas só se dará conta do seu comportamento exagerado quando for tarde demais. Será ele, também, que servirá de elo entre as tramas, como o único personagem que, de um modo ou outro, terá uma ligação com os demais.

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Ao contrário de tantos títulos de proposta semelhante, Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos possui uma narrativa dinâmica, que circula com tranquilidade entre os seus diferentes enredos sem maiores preocupações. A divisão entre eles não chega a ser exatamente uniforme: pode-se ter no começo a introdução a um caso que só será vislumbrado no seu todo mais tarde, enquanto que um seguinte poderá se desenvolver de modo mais partilhado, intercalando com dois ou três paralelos. Isso, no entanto, não chega a ser um incômodo – basta estar atento para o desenrolar de cada episódio. Do mesmo modo, é de se antever que o conjunto nem sempre conseguirá manter o mesmo nível – alguns, como os estrelados por Gabriela Duarte e Marcelo Faria, despertarão maior interesse, enquanto que outros, como o de Branca Messina, parecem estar ali apenas para preencher espaço. Ainda assim, o resultado é inegavelmente satisfatório: se não chega a surpreender, também está longe de decepcionar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Ailton Monteiro
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MÉDIA
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