Crítica
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Sinopse
Em 1977, a Mossad, agência de inteligência israelense, recebe a missão do primeiro ministro de resgatar os judeus etíopes do Sudão e levá-los para Israel. Ari Kidron, um charmoso agente israelense, reúne um grupo de pessoas para formar uma equipe de ajuda no êxodo de judeus.
Crítica
Baseado em fatos ocorridos nos anos 70, Missão no Mar Vermelho aborda uma crise migratória, ou seja, mesmo referenciando-se ao passado, lida com algo muito presente na geopolítica contemporânea. A trama dá conta dos esforços hercúleos de um time de agentes da Mossad, o serviço secreto do Estado de Israel, para viabilizar a chegada à Jerusalém de inúmeros etíopes judeus refugiados no Sudão. O protagonista é Ari (Chris Evans), desde o começo desenhado como um sujeito destemido, capaz de atos intempestivos se estes significarem salvar vidas, vide a sequência dele arriscando a própria integridade para resgatar a criança que ficou para trás na fuga da guerra civil. Todavia, esse personagem carece de camadas, de sutilezas que, no mais das vezes, o cineasta Gideon Raff tenta lhe atribuir por meio de citações de outrem. Por exemplo, ele é tido por colegas e superiores como alguém imprevisível, beirando o irresponsável, mas isso não é substanciado.
Chris Evans não consegue se desprender completamente do altruísmo grandioso que caracteriza o Capitão América, papel do Universo Cinematográfico Marvel que o tornou célebre. Ari é visto aproximadamente como um super-herói que, ao invés de utilizar superpoderes para fazer o bem sem olhar a quem, lança mão de uma soma bastante burocrática de coragem e habilidades diplomáticas a fim de completar a sua tarefa humanitária. Missão no Mar Vermelho carrega uma mensagem imprescindível de valorização da vida, celebra a empatia por populações em situação de vulnerabilidade extrema nos seus países natais e que precisam, urgentemente, de asilo em territórios menos hostis. Todavia, a forma como o realizador costura os acontecimentos, prescindido da meticulosidade de detalhes em função da natureza espetacular de determinadas conjunturas, além da falta de densidade das pessoas em cena, consente que a potência dramática se esvaia gradativamente. Previsível, o itinerário compreende preâmbulo, êxitos incentivadores, forte crise e um óbvio final feliz.
Missão no Mar Vermelho possui figuras unidimensionais, algumas praticamente destituídas de subjetividades. Após o lugar-comum do protagonista juntando consecutivamente as peças necessárias para montar o time ideal ao sucesso da arriscada empreitada, essas engrenagens são relegadas a meras funções instrumentais. Rachel (Haley Bennett) é tão e somente a mulher inteligente do grupo, uma vez que nem a crise anunciada da presença feminina num país muçulmano ganha qualquer desdobramento ou propicia um entrave significativo. Jacob (Michiel Huisman) fica restrito a ser o marmanjo excêntrico que adora se bronzear, inclusive na convulsionada costa do Sudão. Max (Alex Hassell) pode ser descrito como “o homem do arpão”, sem reducionismos por parte do texto, pois ele basicamente aparece em cena como uma possível força de defesa, nada mais. Até Sammy (Alessandro Nivola), único coadjuvante que ganha tempo de tela para demonstrar a sua história, acaba sufocado pela insuficiente disposição diretiva para conferir relevo ao aspecto humano.
Entre sucessos e ameaças matematicamente controladas pelo roteiro esquemático, sobressai a falta de estofo dos personagens, a começar por Ari, tão pouco convincente como instável no trabalho quanto na negligência familiar observada muito de relance numa passagem beirando a nulidade emocional. A conjuntura política que afeta Israel, Sudão, Etiópia e até os Estados Unidos (sempre eles, obviamente) não é estudada pelo filme, mas apresentada como um intrincado labirinto que deve ser transposto para a conclusão da tarefa que significa salvar milhares de vidas. Pelo modo como o enredo é estruturado, sobre as bases do elogio ao heroísmo de alguns homens e mulheres abnegados, atendendo mais ao cinema de ação do que necessariamente ao dramático/político, as ponderações diplomáticas e, por conseguinte, as atuações dos Estados envolvidos permanecem num terreno superficial, permitindo, assim, uma leitura apenas epidérmica do episódio histórico.
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