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Sinopse

Tom é um agente a serviço da da CIA que tem sua identidade exposta. Quando isso acontece, ele e seu tradutor, Mohammad 'Mo' Doud, começam uma corrida contra o tempo para se safarem da caçada à qual são submetidos.

Crítica

Tom (Gerard Butler) é aquele tipo de soldado de elite capaz de fazer o que ninguém mais consegue. Funcionário subordinado ao MI6, o serviço secreto de inteligência britânica, ele está “emprestado” à CIA, a agência central de inteligência norte-americana. Sua missão é colocar em prática um plano ilegal. Isso mesmo. Missão de Sobrevivência começa mostrando os Estados Unidos agindo clandestinamente no Oriente Médio a fim de neutralizar as instalações de armas nucleares do Irã. Mas, calma lá, pois o roteiro assinado por Mitchell LaFortune não produz uma visão contundente/crítica a respeito da nação hegemônica que vende a imagem de interventora boazinha em países vulneráveis, mas que opera com o objetivo de enfraquecer a supremacia alheia. Pensando no discurso do longa-metragem dirigido por Ric Roman Waugh, tirando de vista a ação genérica e a confusão das disputas, temos a defesa subliminar do perverso “os fins justificam os meios”. Mesmo ao mostrar a enorme ação ilegal da agência oficial estadunidense, o realizador nunca discute os motivos da nação americana. Pela forma como as coisas andam, parece que inviabilizar um arsenal de destruição em massa é suficiente para desabonar os Estados Unidos das obrigações éticas diante da soberania dos outros. E o encerramento dessa novidade protagonizada por um Gerard Butler no piloto automático reafirma a ideia canhestra da razão estando ao lado dos justos. Mas, quem define justiça e injustiça nesse mundo perverso?

O cenário que Missão de Sobrevivência nos apresenta é intrincado e complexo, repleto de instituições, grupos, mudanças de rumo, agentes duplos e um anglo-saxão com pinta e banca de herói. Depois de ter êxito na missão de sabotar a rede iraniana a fim de causar a explosão das instalações nucleares do país, Tom é praticamente convocado ao cumprimento de uma nova missão – bem quando estava pegando um voo de volta para reencontrar a filha adolescente prestes a se formar. O que leva esse homem a permanecer no território hostil e aceitar mais uma empreitada que parece fadada ao fracasso? O cineasta poderia apostar num caminho menos piegas e garantir que o protagonista fosse encarado como um homem viciado em ação, incapaz de viver longe daquela dinâmica feita de tiroteios, arrombamentos e perrengues em meio a uma geografia cultural por ele desconhecida. Mas, infelizmente não é o que Ric Roman Waugh faz, até porque se tomasse esse caminho ele precisaria arrolar o Estado como a máquina que produz esse tipo de padrão comportamental próximo do vício. Tom é o pai disposto a correr o grande risco em prol do dinheiro que pode pavimentar a carreira da filha. Está aí outra linha essencial do discurso desse filme: o anglo-saxão que aceita o sacrifício se isso garantir o futuro das novas gerações. Ainda que nem a motivação como pai seja tão importante no fim das contas.

O discurso de Missão de Sobrevivência é, no mínimo, questionável. No entanto, seus problemas não param por aí. Inchada de elementos, a trama do longa se torna excessivamente confusa. Sabemos que Tom serve ao MI6 e está “emprestado” à CIA, mas seus inimigos e potenciais aliados vêm de todos os lados, numa dinâmica que embaralha os acontecimentos. Estado Islâmico, Talibã, paquistaneses (filiados a qual grupo, mesmo?), iranianos (que servem a quem?), homens que sobrevivem ao trocar constantemente de lado, servidores duplos, soldados recrutados por quem tem mais dinheiro a oferecer. O painel é numeroso, mas o diretor não elabora um imbróglio para termos a exata noção de quem é quem. Como a confusão não parece o resultado de uma vontade de embaralhar os grupos em prol de algum comentário, essa bagunça surge como o maior produto da inabilidade diretiva para lidar com tanta coisa ao mesmo tempo. Outro sintoma da desorganização é a personagem da jornalista sequestrada depois de receber imagens confidenciais que não deveriam se tornar públicas. O filme a esquece de certo ponto em diante e a resgata abruptamente perto do encerramento, de maneira tão gratuita quanto o conveniente esquecimento anterior. Tudo apenas para compor um final feliz.

Arrastado e pouco memorável, seja como filme de ação ou ainda enquanto combinação de aventura e “crítica social”, Missão de Sobrevivência provavelmente teria como destino um lançamento pouco chamativo em algum serviço de streaming se não fosse o protagonismo de Gerard Butler. O astro britânico há muito tempo tem se conformado com esse tipo de papel (o brutamontes super qualificado que defende uma causa “nobre”), se distanciando de trabalhos em que pudesse ser mais desafiado. A dinâmica que seu personagem estabelece com o intérprete Mo (Navid Negahban) é carente de propósito. Ela não funciona para escancarar as diferenças culturais entre os homens sugados pelo belicismo operante na região e tampouco para criar uma tensão que pudesse trazer consigo alguma ambivalência. O que conecta Tom e Mo é o fato de ambos serem pais. E até nisso o médio oriental é tratado como acessório. Já que seu filho foi assassinado por uma das facções que tocam o terror nas cercanias, a sua ajuda é fundamental para Tom conseguir voltar para casa a tempo da formatura. Por fim, o filme acaba com notas de otimismo borrifadas com aromas falsos de amargor que, vejam, celebram causas defendidas pelos EUA. Os soldados ao lado do “bem” conseguem regressar a duras penas. Excetuando as baixas estratégicas de companheiros e os inimigos sobrevivendo para sugerir a continuação, estadunidenses e aliados abraçam amores, enquanto aos demais resta a morte.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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