Crítica
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Sinopse
Separada do marido há anos, a pianista Sofia reúne as filhas Elvira, Jimena e Sol em sua casa para comemorar seu aniversário. Na ocasião, ela aproveita para contar uma grande novidade: está novamente apaixonada. Mas, para o espanto das meninas, o novo amor da mãe é uma mulher bem mais jovem, a talentosa concertista tcheca Eliska.
Crítica
O título já é suficiente para provocar curiosidade, num misto de graça e estranheza. Minha Mãe Gosta de Mulher?! Como assim? Afinal, se é mãe, é porque é – ou foi, é claro, em algum momento – heterossexual. Mas se gosta de mulher, então decidiu abraçar sua homossexualidade – ou enfim se deu conta dela? Seria algo assim, tão fácil de explicar, ou não? Caso seguisse esse caminho, composto mais de dúvidas, discussões e questionamentos, talvez esse longa espanhol lançado logo após a virada do século conseguisse justificar um interesse mais relevante e pertinente. A ponto de justificar uma redescoberta quase duas décadas depois. Do jeito que se apresenta, entretanto, não consegue ir além de uma mera brincadeira, tola e inconseqüente. É, portanto, tão divertido quanto descartável.
Estrelado por duas estrelas almodovarianas – Rosa María Sardà (Tudo Sobre Minha Mãe, 1999) e Leonor Watling (Fale com Ela, 2002) – Minha Mãe Gosta de Mulher tem como ponto de partida o choque que as três filhas adultas (Watling, ao lado de María Pujalte, vista no brasileiro Onde Está a Felicidade?, 2011, e Silvia Abascal, de Truman, 2015) tomam quando a mãe delas (Sardà) resolve assumir o relacionamento lésbico que está, digamos, experimentando. Nada surpreendente, ao menos em tese, visto os tempos modernos que vivemos. Mas nem tanto. Afinal, como diz o ditado, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Ou seja,na teoria pode ser algo muito bonito – mas como reagir quando uma situação tão inusitada quanto essa se desenrola dentro da nossa própria família? O desconforto maior diante da revelação parece estar na cabeça das garotas – de duas delas, as mais velhas, para ser mais preciso – já que mesmo numa Espanha tão tradicional como a do século XXI essa notícia é recebida – ao menos no mundo da ficção – de modo bastante maduro. Ponto para elas!
O filme, que possui uma narrativa de tom assumidamente leve, evitando maiores confrontos e reflexões, pretende ir além disso. A se lamentar, apenas o fato de tomarem o caminho errado nessas intenções. O que descobrimos, afinal, é mais uma comédia romântica, igual a milhares de outras. Se a produção fosse hollywoodiana, com Meryl Streep e Sandra Bullock à frente do elenco, certamente teria sido um grande sucesso de bilheteria e desprezado pelos mais exigentes. Porém, é europeu e com atores relativamente desconhecidos, o que o leva a ser encarado por aqui como exótico e até mesmo cultuado por pseudo-cultos, ficando à margem do mercado mais popular. Estranho – e curioso – destino.
Escrito e dirigido pela dupla Daniela Fejerman e Inés París, que afirmam ter se baseado numa história verídica, Minha Mãe Gosta de Mulher proporciona momentos divertidos, como o show de rock da caçula ou quando as três decidem conquistar a namorada da mãe para livrá-la de um golpe do baú. Mas o resultado do conjunto revela-se rasteiro e pouco eficaz, perdendo a graça logo que o instante seguinte. Mesmo assim – e principalmente devido à escassez de produções de relativa qualidade que tratem desta temática – o filme teve uma boa carreira em festivais de cinema gay & lésbico ao redor do mundo, com reconhecimentos e premiações em Cartagena, Dublin, Miami, Torino e Verzaubert. Resultados que estão além das capacidades de uma obra que não merece mais do que uma visibilidade rápida e facilmente esquecível.
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