Minha Classe
Crítica
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Sinopse
Um ator se passa por professor de italiano para estudantes estrangeiros que querem se adaptar à sociedade italiana. Os alunos vem dos mais diferentes lugares do mundo e trazem à aula sua bagagem pessoal.
Crítica
Um professor cujo maior medo é enfrentar sua sala de aula e maior coragem é justamente o estímulo que estes alunos lhe oferecem diariamente. Um homem diante sua própria finitude. Um país em contradição com sua história. Um continente em crise. Uma raça condenada ao confronto, cujo maior pecado parece ser o ato de olhar para trás. Estes são os elementos que estão no centro do discurso de Minha Classe, escrito e dirigido por Daniele Gaglianone. Exibido pela primeira vez na Jornada dos Autores, mostra paralela que integra a programação do Festival de Veneza, em 2013, este filme estreou no começo deste ano na Itália, com uma boa repercussão local, e ganhou uma rara chance de ser conferido no Brasil dentro da mostra competitiva oficial do III Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba, um evento que privilegia em sua curadoria uma produção cinematográfica mais autoral e distante do convencional.
Minha Classe – ou La Mia Classe, no original, afinal o filme não possui distribuição garantida no Brasil, o que significa que esse é um título nacional provisório, não mais do que uma tradução direta – tem uma estrutura bastante simples. Um educador e um grupo de estudantes, reunidos num mesmo ambiente escolar. Porém, estão longe de serem comuns a tantos outros aparentemente semelhantes. Temos ali um homem cansado, que luta diariamente para fazer diferença. E isso percebemos não através de discursos panfletários ou por demais expositivos – muito pelo contrário, sua identidade vai sendo revelada aos poucos, através de pequenos gestos, na forma como lida com as pessoas que ensina durante o horário de aula e, principalmente, quando estão à parte, no atendimento individual.
Por outro lado, sentados naquelas carteiras não estão crianças e jovens ávidos por descobrir o mundo. Temos, em seus lugares, homens e mulheres já feitos, que por diversas questões – políticas, econômicas, familiares – precisaram abandonar suas terras natais e rumar para a Europa – mais especificamente para a Itália, no caso – em busca de segurança, melhores oportunidades, um futuro a ser construído. São imigrantes que precisam aprender a língua italiana, afinal, é apenas através da comunicação que poderão ter armas para se defender naquela nova realidade a qual estão alocados. O aprendizado do idioma acaba sendo um reflexo importante de uma condição social crítica que não parece ter uma solução tão simples.
Somos confrontados com dezessete alunos, quase vinte histórias completamente diferenciadas, porém num todo similares. Há os que vieram da África, da Ásia, da Oceania, da Europa Oriental, até do Brasil. Em comum, uma ausência de perspectivas anteriores que os motivaram a buscar uma vida melhor. São jovens, adultos e até pessoas maduras que seguem sonhando, mais por uma necessidade do que por um conforto imaginário. Afinal, em outro caso, quais seriam suas saídas? O professor diante deles conhece suas jornadas, identifica seus anseios e entende suas diferenças. E, nem por isso, os contempla com pena ou parcimônia, ainda que uma identificação seja possível, independente do nível em que ela se estabeleça. Afinal, sabe que o mundo também não irá tratá-los assim, nem ontem, nem hoje, muito menos amanhã.
Mais do que um discurso contra a atual situação europeia – afinal, isso já foi muito bem explorado no francês Entre os Muros da Escola (2008), vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – Minha Classe se destaca principalmente pela forma como se estrutura cinematograficamente. Elaborado inicialmente como uma obra de ficção – afinal, estamos diante do ator Valerio Mastandrea, visto em filmes como A Primeira Coisa Bela (2010), no comando da sala de aula – aos poucos vamos identificando, através de um processo desconstrutivo e documental, os bastidores desta produção, com a equipe de filmagens, ensaios com o ‘elenco’ e até discussões sobre o enredo – como explorar melhor dramaturgicamente determinadas passagens? Verdade ou fantasia, parece não haver mais limites entre os dois quando a realidade fala tão alto que sobra pouco para ser imaginado.
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