Crítica
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Sinopse
Riadh está se aposentando como operador de empilhadeira no porto de Túnis, Tunísia. A vida com a mulher, Nazli, gira em torno do filho único do casal, Sami, que está se preparando para os exames do ensino médio. O jovem tem constantes crises de enxaqueca, o que preocupa seus pais. Quando começa a se sentir melhor, desaparece de repente. Sua intenção é juntar-se a militantes terroristas do ISIS na Síria.
Crítica
O título deste drama que vem da distante Tunísia pode causar uma impressão equivocada no espectador. No entanto, é preciso um olhar atento para entender o que se passa nas entrelinhas da expressão. Afinal, Meu Querido Filho fala daquele que é objeto do afeto, mas mais ainda daquele que professa tais palavras – dos pais, portanto. O segundo longa-metragem do diretor Mohamed Ben Attia talvez não seja tão bem resolvido quanto o trabalho anterior do cineasta, o aclamado A Amante (2016) – que, curiosamente, chegou aos cinemas brasileiros num intervalo de poucos meses em relação a este mais recente, ainda que as produções tenham sido realizadas com dois anos de distância – mas ainda assim é digno de atenção. Principalmente por este conceito de ir além do óbvio estar impregnado na sua gênese, resultando em uma obra não necessariamente difícil, mas que exige um preço para ser de fato apreciada no âmbito completo dos seus interesses.
A família Saïdi é absolutamente normal. O marido está prestes a se aposentar, a mulher está retomando os estudos, tanto para se ocupar como também para aumentar os ganhos da casa – afinal, com o companheiro parando de trabalhar, os rendimentos serão menores – e o filho único está se preparando para prestar os exames que decidirão para qual faculdade ele irá, no próprio país ou no exterior, e, com isso, como se dará seu futuro. Aliás, a cena de abertura do filme, com o garoto vomitando e os pais em volta dele, aos prantos, fazendo de tudo que lhes é possível para ajudá-lo a superar o mal-estar, pontua com precisão a realidade por este pequeno núcleo familiar enfrentada: está no mais novo as esperanças depositadas por aqueles mais velhos, e ainda que tente disfarçar, o jovem não está sabendo como lidar com tamanhas expectativas.
“A saúde dele é o que importa”, diz a mãe em determinado momento. Ainda assim, a roda não para. O pai tenta animá-lo como pode, caminhando ao seu lado em um momento de descanso ou convidando-o para jantar fora, ainda que os compromissos colegiais desse não estejam tão dispostos a lhe oferecerem alguma folga. Até porque a atuação parental se dá somente até um certo nível. Eles estão apenas tateando, em última instância, imersos a uma realidade de pura cegueira. Ainda que divida o mesmo ambiente e durma no quarto ao lado, nunca se sabe por completo o que se passa na cabeça do outro. Ainda mais quando esse é alguém que está recém começando na vida, propenso a se impressionar com discursos levianos e promessas longe de serem realizadas com um estalar de dedos. Há muito na cabeça de Sami (Zakaria Ben Ayyed), que com pouco mais de 18 anos é incitado a decidir o resto de sua vida. Principalmente por quê, ao invés de olhar para frente, decidiu antes analisar bem o que está ao seu lado. E se não gosta do que vê, agir diferente é só o primeiro passo.
Há mais de uma cena no supermercado. Em todas elas, as compras são feitas contando as moedas, somando cupons de desconto e equilibrando as contas. Os Saïdi não são miseráveis. Mas também não se pode dizer que vivem na abundância. Caso fosse uma família brasileira, não seria difícil imaginar um adolescente, oriundo de um núcleo como esse, que acabasse seduzido pelo tráfico de drogas ou outras transações ilícitas em busca de uma vida artificialmente mais confortável. Porém, aqui somos levados ao outro lado do mundo. No Norte da África até o Oriente Médio, a distância não é das maiores. Ainda mais quando há tantas similaridades, como a influência religiosa, o apego às armas e ao protesto militarizado. As ações – e suas consequências, portanto – adquirem outras dimensões. E aprender a lidar com elas é mais do que um exercício, e, sim, uma necessidade.
Apoiado no desempenho sofrido, porém não menos do que arrebatador, do estreante Mohamed Dhrif, que interpreta o patriarca Riadh Saïdi, Meu Querido Filho é mais um pedido de socorro, um lamento que se esvai quando as esperanças não estão mais presentes, do que um regozijo por uma conquista filial ou um simples orgulho pela pessoa que ajudaste a criar. Dessa forma, Ben Attia segue atento aos seus personagens, demonstrando uma atenção renovada mais em quem eles são e menos no que fazem ou, ainda, deixam de fazer. As realidades que enfrentam, seja a fuga de um casamento arranjado ou a pressão de um amanhã com o qual não sabe como lidar, podem ser tão libertadoras quanto exercerem uma influência cerceadora. No entanto, estará na forma como cada um reage ao ser colocado sob pressão a chave que terminará como diferenciá-los, elevando-os do lugar comum ou resignando-se a ser apenas mais um número na estatística.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 5 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 6 |
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