Crítica
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Sinopse
Numa corrida contra o tempo, pesquisadores submarinos precisam encarar saqueadores ambientais. No entanto, enquanto tentam superar essa barreira motivada pela ganância humana, eles enfrentam os megatubarões.
Crítica
Este é quase um mandamento das continuações de filmes de ação: elas precisam superar seus antecessores em escala. Tudo precisa ser maior e mais grandioso. Depois de lutar praticamente no braço com um tubarão enorme, o tal megalodonte lendário, em Megatubarão (2018), o que resta ao herói Jonas (Jason Statham)? Outros animais aquáticos de tamanhos desproporcionais? Ameaças ainda mais ferozes? Curiosamente, os tubarões são meros agravantes nesse longa-metragem concentrado na disputa entre dois grupos de humanos. O primeiro deles é liderado pelo protagonista do tipo “soldado do Greanpeace”, aquele que sobreviveu à luta com um ser de proporções inimagináveis para contar a sua história. O segundo é uma organização secreta de tentáculos e intenções revelados aos poucos. Para quem esperava um suspense marcado por bestas feras sedentas de sangue, a continuação pode ser uma baita decepção. A bem da verdade, os megalodontes (sim, agora aparecem vários deles) são importantes estritamente no começo e na apoteótica cena final, a mesma que apresenta mais um ser marinho semelhante a uma criatura mitológica, além dos inúmeros animais vindos diretamente do período Cetáceo, especificamente de 65 milhões de anos atrás. O miolo é feito da disputa comum entre os bonzinhos preocupados com a natureza e os maléficos desnaturados dedicados apenas ao lucro.
Se pegarmos como referência a cena inicial, a que remonta ao período Cetáceo e mostra de modo didático a natureza regida pela lei do mais forte, Megatubarão 2 é uma celebração da inteligência e da capacidade humana na disputa pelo topo da cadeia alimentar. Porém, nem isso é ressaltado no filme dirigido por Ben Wheatley. Em meio a uma expedição pelas profundezas supostamente nunca antes exploradas do oceano, o grupo cientista liderado por Jonas se depara com uma operação de mineração ilegal logo abaixo da linha de trânsito submarino dos megalodontes. O mais importante nessa incursão do fundo do mar é a união de dois dispositivos narrativos essenciais ao suspense: o relógio e o labirinto. O “relógio” dá conta de uma série de elementos encarregados de mostrar a escassez do tempo, ou seja, a missão é urgente e não pode ser protelada de jeito nenhum. Para isso funcionam coisas como o oxigênio limitado, as contagens regressivas para portas abrirem e fecharem, a diferença entre a velocidade de deslocamento das embarcações e dos megalodontes, além da impaciência dos antagonistas. Já o “labirinto” diz respeito à construção da lógica espacial repleta de barreiras, empecilhos e afins que acentuam as dificuldades da missão rapidamente adicionada de camadas e agentes. Ao enfatizar a disputa humana, o diretor meio que enfraquece o perigo da presença dos tubarões.
Portanto, Megatubarão 2 utiliza os megalodontes como meros complicadores das situações. Algo do tipo “quando os bonzinhos se livrarem dos malvados, lembrem-se que existem tubarões enormes rondando e pouco se lixando para certo e errado”. Jason Statham confirma seu status como um dos principais heróis de ação do cinema hollywoodiano atual, dando conta do recado quando Jonas precisa vencer antagonistas humanos, criar estratégias que sugiram inteligência e ainda desempenhar o papel de salvador diante da natureza irracional sedenta de sangue. Mas, desta vez ele tem a companhia de Wu Jing, intérprete de Jiuming, com quem divide os holofotes. Levando em consideração que estamos falando de uma co-produção Estados Unidos/China, essa existência de um herói anglo-saxão e de um asiático parece o cumprimento de um acordo. Até porque ambos têm a mesma atribuição: são brutamontes inteligentes que também funcionam como figuras paternas substitutivas à Meiyjing (Shuya Sophia Cai). Por habilidade do roteiro, mesmo que tenham quase rigorosamente as mesmas incumbências na trama, tanto do ponto de vista prático quanto do simbólico, eles andam bem juntos e quando estão separados. O que falta ao filme é se decidir entre abraçar o mais desavergonhado dos absurdos ou querer imprimir alguma textura de realismo na história claramente inclinada aos exageros e às extravagâncias.
Megatubarão 2 somente deixa de lado uma aura de filme genérico de ação/conspiração quando se encaminha ao encerramento. O último terço da produção é feito de batalhas incongruentes (por isso mesmo, às vezes tão divertidas) entre criaturas gigantescas e humanos dispostos a sobreviver apesar dos prognósticos e das probabilidades contrárias. Há cenas em que somos particularmente convidados a suspender a nossa descrença imediata. Umas são ruins, como a do abastecimento do helicóptero durante o ataque de criaturas pré-históricas; outras são dignas do absurdo inerente ao surgimento de um tubarão capaz de comer um a Tiranossauro Rex, como alguém lutando contra um animal marinho utilizando a hélice de um helicóptero. Por um lado, o filme recicla de modo burocrático uma série de componentes comuns aos filmes de ação de grande escala (a raposa em pele de cordeiro, as reviravoltas, as traições, filantropos revelando a sua vilania, capangas fortões liderando exércitos, etc.). Por outro, aposta na existência de animais de porte gigantesco como representantes de uma natureza agressiva, irracional e que não está disposta a manter os humanos como dominantes na Terra. Se abraçasse com menos pudores a incoerência, até atingir conscientemente a esfera nonsense, o filme provavelmente ganharia em diversão. Porém, evitar os passos largos rumo ao ridículo é o que o atrasa e entrava.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 3 |
Chico Fireman | 4 |
Francisco Carbone | 8 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 3.8 |
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