Crítica
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Sinopse
A peste negra assola a Europa no século 14. Dez jovens se refugiam num palácio isolado, passado os dias contando histórias de amor, decepção e morte. Uma visão muito pessoal de Decamerão, de Giovanni Boccaccio.
Crítica
O mais recente filme dos cineastas Paolo e Vittorio Taviani se passa em Florença, no século 14, época em que a peste negra afligia a Europa. Fugindo desse cenário de desolação, dez jovens se isolam num castelo, contando histórias para passar o tempo e esquecer um pouco a situação caótica além muros. As cinco tramas que vemos são retiradas do Decamerão, clássica coleção de novelas escritas por Giovanni Boccaccio. Em comum, o amor e certo pendor à desventura, espelhando, assim, as duas forças que se digladiam em torno dos jovens narradores, ávidos por viver as paixões próximas, ao passo que lutam pela sobrevivência contra a ameaça da doença. Ainda que a morte esteja sempre à espreita, Maravilhoso Boccaccio é mais inclinado a reforçar o poder do amor, para isso valendo-se ora do puro e idealizado romance, ora até mesmo da comédia.
Embora bastante falado, o longa dos Taviani chama atenção pelo apuro visual. As imagens da Itália interiorana são bonitas, não somente as que vemos nas panorâmicas de campos verdejantes, mas também outras que evidenciam a importância da geografia e das construções. Numa das tramas, o amor desesperado do jovem que vela em silêncio o cortejo fúnebre de sua Dulcineia a salva literalmente da morte. O que se segue é um embate ético, mais precisamente de propriedade, algo natural à época remontada, em que a mulher era considerada quase posse de seu marido. Enclausuradas, proibidas de qualquer contato exterior, muitas vezes por vontade da família e não da vocação, as religiosas do segmento ambientado no convento se rebelam contra o celibato, numa narrativa repleta de bom humor.
Em outra parte, o amor possessivo de um pai dificulta a relação de sua filha, ainda enlutada pelo passamento recente do marido, com o aprendiz por ela enamorado. Mesmo transbordante, o sentimento encontra barreiras intransponíveis, sucumbindo num desfecho trágico para todos os envolvidos. Já a bela história do homem acompanhado de seu inseparável amigo falcão, que penhora tudo em função de uma mulher, é marcada pela tristeza, mas acaba oferecendo conforto aos personagens que até ali tanto sofreram. Por fim, a brincadeira de dois amigos com um terceiro, a quem contam as mirabolantes (e inventadas) propriedades mágicas de uma pedra negra, rara nas cercanias, que conferiria invisibilidade ao seu portador. Aqui as forças maiores são a irresponsabilidade e o mal-entendido, atributos que quase provocam uma tragédia.
Os episódios de Maravilhoso Boccaccio são aparentemente próximos apenas pela origem e por certas similitudes de tom. Contudo, há ligações subterrâneas e discretas entre os conteúdos. Mesmo fiéis ao ideário de Boccaccio, à exposição do amor espiritual e da moral medieval, os irmãos Taviani apresentam uma interpretação muito particular do Decamerão original, filtrando-o por sua estética visual, exuberante em alguns momentos e mais propensa ao minimalismo em outros. Não há uma preocupação com reconstituições fidedignas de época, pelo contrário. Nesse ponto, o distanciamento do realismo desemboca na teatralidade, registro bem-vindo à transposição da obra de Boccaccio ao cinema, algo que os Taviani fazem sem traí-lo, mas evitando “desaparecer” demasiado diante de sua importância histórica.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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