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Sinopse

Ao descobrir que está grávida, Sophie busca inspiração para a maternidade lembrando do passado da mãe. Nos anos 1970, a jovem Donna viveu muitas aventuras com seu grupo musical “Donna & The Dynamo”, parceria com as amigas Tanya e Rosie. Porém, mais do que isso, ela se apaixonou e viveu relacionamentos intensos com três homens bem diferentes: Harry, Sam e Bill.

Crítica

Knowing me, knowing you... Uma das canções mais icônicas do grupo sueco ABBA, estranhamente ausente da trilha sonora de Mamma Mia (2008), é a chave para um melhor entendimento de Mammia Mia! Lá Vamos Nós de Novo, a continuação tardia – dez anos após o original! – do musical de maior sucesso de bilheteria de todos os tempos (mais de US$ 600 milhões arrecadados ao redor do mundo), indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme e ao Bafta como Melhor Filme Britânico, baseado, por sua vez, no fenômeno da Broadway encenado em mais de vinte países desde sua estreia, em 1999, consagrando-se como a peça mais bem sucedida da história. Afinal, quem conhece bem – e admira – os elementos aqui reunidos, de forma alguma irá se decepcionar – muito pelo contrário, é mais provável que saia cantando, dançando e aplaudindo com entusiasmo redobrado! Por sua vez, aqueles que costumam torcer o nariz para o gênero, o conselho mais evidente é manter distância: afinal, o que se vê em cena é uma overdose de todos os requisitos que fazem este estilo ser visto com entusiasmo – e desconfiança – a cada nova incursão na tela grande. Nem sempre se acerta na medida do resultado aqui conferido, não apenas à altura do capítulo original, mas ainda acrescentando novas possibilidades dentro deste mesmo universo que – surpresa! – ainda não havia sido explorado a contento!

Donna está morta! Longa vida à Donna! É importante ter isso em mente: a personagem de Meryl Streep, coração e alma de Mamma Mia, já não está mais entre os seus no começo de Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo. Como morreu? Pouco importa – é da vida, enfim. Mas Donna está mais viva do que nunca. Sua filha, Sophie (Amanda Seyfried), não apenas está trilhando os mesmos passos da mãe, restaurando o hotel localizado numa paradisíaca ilha grega – agora prestes a ser reinaugurado como Bella Donna – como está também grávida, e sem ninguém ao seu lado – a avó sempre foi uma carta fora do baralho, e o marido, Sky (Dominic Cooper), enquanto faz um curso de hotelaria em Nova York, recebe uma oferta de emprego que o deixa seriamente tentado, colocando o casamento dos dois em risco. Ao lado dela encontra-se apenas um dos pais, o agora viúvo Sam (Pierce Brosnan) – Harry (Colin Firth) está fechando um grande negócio em Tóquio, enquanto que Bill (Stellan Skarsgard) é o homenageado do ano em uma cerimônia em Estocolmo. Alguma dúvida de que tanto o companheiro quanto os demais pais irão rever suas opções, desvencilhar dos compromissos assumidos e irem ao encontro dela, ainda em tempo para a festa?

Mas isso é apenas metade de Lá Vamos Nós de Novo. Afinal, grande parte do filme se passa no passado, tendo justamente Donna (agora vivida por Lily James) como protagonista. Como ela foi parar na Grécia? Como foi se envolver, quase que ao mesmo tempo, com Harry (Hugh Skinner, de Os Miseráveis, 2012), Bill (Josh Dylan, de Aliados, 2016) e Sam (Jeremy Irvine)? Tudo é explicado minuciosamente, sem atropelar os eventos do longa anterior, ao mesmo tempo em que investe em novos desdobramentos, como a paixonite quase imediata da melhor amiga Rosie (Alexa Davies / Julie Walters) por Bill, a homossexualidade de Harry ou o desencontro romântico entre Donna e Sam, que os deixou separados por anos. Além disso, no plano presente, há um acréscimo de luxo: a presença da oscarizada Cher, agora como Ruby, a avó de Sophie (e mãe de Donna) que “há anos não é vista fora de Las Vegas”, mas decide abrir uma exceção para se juntar às comemorações da neta, não sem antes aproveitar a oportunidade para retomar um antigo amor (Andy Garcia), marcado por uma incursão pelo México em 1959!

Nem tudo, no entanto, sai exatamente de acordo com a canção – por assim dizer. Na ânsia por desenhar tanto a trama atual – com Sophie ansiosa por estar à altura do legado materno – como a que se desenvolve no passado – precisando encaixar os encontros pelos quais estão todos esperando – alguns tropeços se verificam. Em Mamma Mia, por exemplo, é dito que Donna encontra Sam, depois Bill e somente por fim, Harry. Em Lá Vamos Nós de Novo, a ordem se dá de forma inversa: Harry é o primeiro que conhece, depois Sam e, somente no fim, Bill. Há também um uso exagerado de elipses: ela acaba dormindo com os rapazes – o cuidado para não tornar a personagem promíscua é evidente – e no minuto seguinte aparece grávida! Da mesma forma, Sophie mal anuncia que está grávida, para logo em seguida surgir com o bebê no colo! Detalhes como esses, no entanto, poderia atrapalhar – e até mesmo prejudicar – a fruição de uma obra mais séria. Felizmente, não é o caso. Mamma Mia é pura fantasia, e, obviamente, é dessa forma que merece ser apreciado, como um convite a um universo de música e alegria.

E falando em canções, Lá Vamos Nós de Novo é também uma viagem sonora, e da melhor qualidade. Assim como Lili James, todo o elenco jovem vem dos palcos da Broadway nova-iorquina ou do West End londrino, com vasta experiência tanto em cantar como em atuar. Dessa forma, evita-se constrangimentos como o que passou Pierce Brosnan – premiado com a Framboesa de Ouro de Pior Ator Coadjuvante por Mamma Mia – que tem uma participação bem mais discreta, abrindo espaço para os recém-chegados. Canções clássicas, como a própria Mamma Mia, The Name of the Game e Dancing Queen estão de volta, porém reinventadas – esta última é uma verdadeira explosão, movimentando literalmente o elenco inteiro – ao passo que se abre espaço para títulos como Waterloo (envolta por uma coreografia contagiante), One of Us (que faz um ótimo uso de um jogo de espelhos), My Love, My Life (deixa para Meryl Streep reluzir em sua única participação em cena, dividindo as atenções ao lado da filha – Seyfried – e dela mesma – James) e até Fernando (esta, palco para o brilho de Cher mostrar o porquê dela ser uma diva tão celebrada há mais de cinco décadas). Sem falar, é claro, no final apoteótico ao som de Super Trouper, que coloca todos os atores reunidos, com direito das versões atuais e jovens lado a lado, entoando com puro entusiasmo um dos maiores sucessos do grupo.

Elaborar o roteiro de um filme como Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo é um verdadeiro jogo de quebra-cabeças. Afinal, é preciso chegar a uma história que faça um mínimo de sentido, que respeite o que já foi mostrado e que ainda seja feliz em encaixar as canções – e suas letras – dentro de uma narrativa lógica. O diretor Ol Parker (roteirista de O Exótico Hotel Marigold, 2011, e da continuação de 2015) se sai razoavelmente bem nessa tarefa, principalmente por contar com as valiosas ajudas de Richard Curtis (indicado ao Oscar por Quatro Casamentos e um Funeral, 1994), Catherine Johnson (responsável pelo musical no teatro) e Judy Craymer (produtora de ambos os filmes). O grupo é eficaz em oferecer um conjunto tão envolvente e contagiante quanto o anterior, dotado de muitas cores, movimentos certeiros e performances musicais que abusam de energia e animação. E ainda que nem tudo saia exatamente como o esperado, o saldo final é extremamente positivo, fazendo deste um guilty pleasure que merece ser assumido sem culpa!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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