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Sinopse

Adam e Clare se mudaram recentemente de Londres para uma vila isolada no interior da Irlanda. A nova casa fica ao lado de uma casa considerada pelos moradores locais como assombrada. E realmente criaturas do mal moram lá.

Crítica

Egresso do mercado dos videoclipes, o britânico Corin Hardy, especialista em efeitos visuais, sempre demonstrou uma predileção pela temática do macabro em seu trabalho, que inclui também alguns curtas premiados. Em A Maldição da Floresta, sua estreia em longas-metragens, Hardy confirma essa propensão ao cinema de terror, utilizando mitos do folclore irlandês como base para o roteiro. A trama acompanha o casal Adam (Joseph Mawle) e Clare (Bojana Novakovic), que acaba de se mudar de Londres para o interior da Irlanda trazendo seu filho recém-nascido, Finn. Pesquisador ambiental, Adam passa os dias estudando a floresta que cobre a região, uma atividade que gera o descontentamento dos moradores locais, em especial o de Colm (Michael McElhatton), vizinho dos protagonistas que acredita na existência de criaturas demoníacas que são despertadas pela invasão de suas terras.

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Demonstrando um senso estético apurado, Hardy tem na ambientação o elemento primordial para a bem-sucedida criação da atmosfera de sua obra. As belas paisagens irlandesas transmitem a noção de fidelidade às raízes da história, as lendas celtas, e tornam-se quase um personagem próprio dentro de uma fábula de horror que se diferencia justamente por seu universo folclórico particular. O início é bastante seguro ao estabelecer a dinâmica conjugal de Adam e Clare, assim como o clima opressor que marca a jornada dos forasteiros da cidade grande hostilizados pelos nativos interioranos, algo que evoca de imediato a obra-prima Sob o Domínio do Medo (1971), de Sam Peckinpah. Não demora muito, porém, para que esse fator humano de ameaça dê lugar a perigos da ordem da fantasia. Hardy segue a cartilha deste tipo de filme com competência, aproveitando alguns de seus paradigmas, como o isolamento dos protagonistas em um espaço limitado, para exibir outras influências de seu trabalho: de Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e o embate claustrofóbico contra criaturas de poderes especiais, passando pelo questionamento da natureza humana ou não dos personagens, como em O Enigma de Outro Mundo (1982), e chegando ao imaginário do terror de cabana de A Morte do Demônio (1981). O cineasta extrai bons momentos do enclausuramento da família, explorando as possibilidades do cenário rústico da casa de madeira e pedra onde se passa boa parte da ação. Durante os dois primeiros atos, a construção crescente da tensão é conduzida com eficiência, gerando sequências de pavor genuíno, como a do ataque ao sótão.

Como de praxe, existem regras específicas ligadas à existência dos seres sobrenaturais vistos na tela. Mas, mesmo tendo tais preceitos descritos no misterioso livro entregue por Colm, Hardy acerta, a princípio, ao não apresentar todas as informações ao espectador, pois, geralmente, quanto maior o número de regras impostas, maior também a chance de que elas necessitem ser quebradas ao longo da narrativa. Assim, o cineasta se vale da crença do público na ilusão e na aceitação do desconhecido, apostando em conceitos já consagrados como o confronto entre a luz e a escuridão. Infelizmente, A Maldição da Floresta sofre da mesma fraqueza que acomete boa parte dos exemplares de terror atuais: a falha na entrega de um desfecho satisfatório. Problema que começa na fluência do ritmo do ato final, que não consegue mesclar com a mesma solidez o suspense e o drama familiar, ainda que tanto Mawle quanto Novakovic estejam bem em seus papéis. A opção por ocultar parte das citadas regras também reserva armadilhas, principalmente quando há uma concentração de fatos inexplicados em um curto espaço de tempo. Algo que, mesmo sendo justificável para sustentar uma incógnita interessante, acaba tornando a trama confusa em seus momentos derradeiros. Há também uma mudança profunda no tom narrativo, abandonando o da sugestão atmosférica por um de caráter mais explícito. O horror visceral e grotesco obviamente tem seu apelo, reforçado pela escolha de Hardy em trabalhar com efeitos práticos, como bonecos animatrônicos e maquiagem. Mas, como em basicamente todo filme de criaturas, seu impacto é mais efetivo enquanto essas figuras permanecem parcialmente incógnitas. Pois, por mais que sejam bem concebidas em termos de design, não são particularmente marcantes, fazendo com que a exposição demasiada dilua sua força.

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Se a utilização dos efeitos artesanais configura um ponto positivo, quando precisa recorrer à computação gráfica em uma cena-chave reveladora, Hardy não exibe a mesma perícia, evidenciando também as limitações orçamentárias do projeto. Essa ruptura do último ato, na qualidade técnica e narrativa, prejudica consideravelmente o conjunto, mas não apaga totalmente os méritos do que fora visto até então. Hardy demonstra talento como contador de histórias e, principalmente, como artesão visual – a imagem de Adam empunhando a foice em chamas, que ilustra o cartaz original, é um ótimo exemplo de seu domínio estético. Da mesma forma, a sensibilidade para a manipulação dos arquétipos do gênero, como na sequência dos créditos finais, que possui uma carga de mensagem ecológica, se mostra um atributo que aponta para um potencial a ser mais bem explorado nos trabalhos futuros do diretor.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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