Mais Forte Que o Mundo
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Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo
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2016
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
José Aldo vem de uma família grande e pobre de uma periferia de Manaus, ele lutou para construir sua vida e passou por escolhas muito difíceis. Quando tem a oportunidade de lutar MMA, revela-se muito mais digno do que todos imaginavam.
Crítica
“Contando, ninguém acredita”. Quantas vezes já se ouviu – ou ainda, já se disse – tal expressão? Uma das máximas da criação literária é que “a vida pode ser inverossímil, mas a ficção, não”. Ou seja, as coisas mais absurdas e inacreditáveis podem acontecer a qualquer momento no dia a dia de cada um. Mas, na hora de transformá-las em roteiro – seja na tela grande ou mesmo no papel – é preciso um cuidado maior, oferecendo os subsídios necessários para que tal evento, episódio ou trajetória soe, no mínimo, convincente. Pois a história de José Aldo tem tudo isso, e mais um pouco. Legítimo conto de fadas, do garoto pobre que se tornou rei do mundo, da infância sofrida ao reinado absoluto, seria preciso muita atenção para não transformá-la em mero espetáculo. Felizmente, é exatamente o que se percebe em Mais Forte que o Mundo, a cinebiografia do esportista comandada por Afonso Poyart, que entrega um filme maduro e envolvente, à altura do talento retratado.
Poyart estreou no cinema com o vertiginoso 2 Coelhos (2012), um filme que oferecia muito mais forma do que conteúdo. Depois de uma malsucedida experiência em Hollywood com o policial Presságios de um Crime (2015) – filme com Anthony Hopkins e Colin Farrell que nem chegou a estrear nos EUA – ele voltou para sua terra natal disposto a mostrar que parece ter assimilado as lições de seus erros anteriores. Em Mais Forte que o Mundo mais uma vez faz uso de uma câmera inquieta – crédito do diretor de fotografia Carlos André Zalasik – e de uma edição dinâmica – mérito do editor Lucas Gonzaga – porém, dessa vez, a serviço de uma trama a qual tais virtuosismos só lhe favorecem. Zalasik e Gonzaga, assim como o coordenador de efeitos visuais Sergio Farjalla Jr., são parceiros do diretor desde seu primeiro esforço como realizador. E o grupo parece estar mais afinado do que nunca.
José Aldo, aqui interpretado com garra pela revelação José Loreto – em seu primeiro trabalho de peso no cinema, pegando o papel após a recusa de Malvino Salvador e fazendo dessa oportunidade algo tão grande que pode significar para ele o que Cazuza: O Tempo não Para (2004) foi para Daniel de Oliveira – foi um garoto como milhares de outros por todo o Brasil. Nascido nas favelas de Manaus, foi criado por uma mãe atenciosa, porém ausente – estava sempre na rua trabalhando – e por um pai carinhoso, porém irresponsável – e, para piorar, alcóolatra, e como tantos nessa situação, um pesadelo para os familiares quando assim se encontrava. Na construção do passado do personagem, ponto para as participações de Claudia Ohana e Jackson Antunes como os pais. Ela demonstra comprometimento, enquanto que ele entrega muito com o pouco que lhe é oferecido. Assim, entre bebedeiras do pai, brigas em casa e falta de perspectivas, o menino encontrou na luta uma maneira de descarregar suas frustrações. Sua sorte, porém, foi que tinha jeito para a coisa. Ainda mais porque o seu maior inimigo, afinal, parecia ser ele mesmo. E o filme é inteligente em explorar essa luta interior de modo bastante gráfico, ainda que não seja óbvio. Tudo, enfim, estará no olho daquele que observa, fazendo da distância uma posição privilegiada – algo que ele próprio teve que buscar, tanto num processo pessoal como da maneira mais literal possível.
Das Amazonas para o Rio de Janeiro foi um passo, e de varredor de salão e atendente na lanchonete da esquina para lutador profissional, mais outro. Aldo não traçou cada movimento da sua caminhada de modo planejado, mas quando as estrelas se alinham, é difícil ir contra. Claro que nem tudo foi fácil, ou mesmo simples. Além do ambiente familiar instável, houve ainda a namorada de infância que ficou para trás (Paloma Bernardi, convincente) e a nova parceira (Cléo Pires, a mais fraca do elenco), de temperamento tão genioso quanto o dele. Foi preciso também provar seu valor como esportista, e para isso a presença do sempre ótimo Milhem Cortaz como treinador acaba fazendo a diferença. Assim, entre (poucos) baixos e (muitos) altos ele foi escalando rumo ao posto de campeão mundial de MMA. Sua primeira luta profissional foi em 2004, e de lá pra cá já esteve em 27 disputas, tendo perdido em apenas duas ocasiões – em uma das primeiras, registrada na tela, e a última no final de 2015, às vésperas do lançamento do filme. Por isso, aliás, que adiou-se sua estreia em quase seis meses.
José Aldo foi campeão mundial do Ultimate Fighting Championship de 2008 até 2015. Mas suas vitórias se estenderam para além do ringue, superando as relações conturbadas em casa e no coração. Poyart mostra ter feito bem a lição de casa, e a exemplo de títulos como os oscarizados Rocky: Um Lutador (1976) e Menina de Ouro (2005) até o recente Creed: Nascido para Lutar (2015) ele mostra que o importante não são as lutas, os golpes e as artimanhas, mas sim os personagens envolvidos nestes combates. É preciso se importar com eles, torcer por seus destinos e sentir na pele do espectador cada vitória ou derrota. O visual existe e é competente, pegando a audiência de modo irremediável, pois além de envolver, está à serviço de um roteiro muito bem construído. Este surpreende na hora certa, seguindo parâmetros já consagrados, dono de algo que merece ser dito, e assim o é, de modo comovente e arrebatador. O conteúdo, enfim, encontra espaço em meio a imagens deslumbrantes e interpretações superlativas, fazendo deste um filme de imenso respeito, tanto para admiradores do esporte ou mesmo do gênero, como a todos os capazes de apreciar o bom cinema.
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