Crítica


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Sinopse

Aos 35 anos, Andy Duckerman relembra os áureos tempos em que se tornou uma verdadeira lenda num acampamento de férias. Atualmente sobrevivendo como mágico, ele se sente vazio e frustrado, recebendo uma segunda chance ao ser convidado para ser monitor de uma instituição empenhada na revelação de novos talentos.

Crítica

Os filmes de acampamento formam um filão prolífico do cinema norte-americano. Se aproximam dos escolares pela similaridade das situações e dos personagens arquetípicos. Nerds, valentões, patricinhas, tímidos e toda sorte de outros tipos de um ambiente, invariavelmente, aparecem noutro. A diferença é a particularidade do espaço. Mas, Magic Camp não se passa num dos lugares aos quais os pais (endinheirados) mandam os filhos durante as férias de verão, pois o cenário principal é um instituto de magia. Contudo, essa “confusão” é devidamente utilizada como piada interna. Não por acaso, há dois personagens protagonistas no longa-metragem dirigido por Mark Waters. Ambos têm uma necessidade de vencer adversidades e traumas para seguir adiante. Theo (Nathaniel Logan McIntyre) perdeu recentemente o pai que lhe incentivava a ser um ás na manipulação das cartas. Já Andy (Adam DeVine) é um ex-garoto prodígio que a vida não tratou tão bem, ao passo de desviá-lo dos palcos e colocá-lo dirigindo um táxi para sobreviver. Um é o espelho do outro.

Magic Camp é esquemático. Nas poucas vezes em que desvia do esperado, soa mais falhando que se rebelando pontualmente contra as concessões. O espectador que já assistiu a apenas um filme de acampamento, especialmente os que contém uma competição para determinar a melhor equipe da temporada de férias, provavelmente anteverá tudo, partindo da inicial falta de interesse do adulto e das questões que entravam o desenvolvimento do pré-adolescente. Gradativamente, Andy vai ganhando gosto por essa insólita posição de tutor e Theo percebe que pode construir uma jornada própria, sem prender-se negativamente à memória do pai, mas utilizar a saudade como mecanismo de impulsão. A despeito de ser uma produção leve, das comumente citadas para consumo “de toda a família”, ela perde oportunidades valiosas de expandir um pouquinho as manjadas circunstâncias, além de telegrafar todos os movimentos e pontos de virada que acontecem durante a trama. Não há amadurecimento e reflexão para além de uma inocência bem superficial.

Há mensagens positivas embutidas nas dificuldades dos coadjuvantes – ainda que o local esteja repleto, os pré-adolescentes com fala podem ser contados nos dedos. A mais significativa é a descoberta do menino que não deseja seguir os passos do pai famoso no mundo da magia. Inesperadamente, ele descobre a paixão avassaladora pela moda. Aliás, entre os desperdícios de Magic Camp, ainda que levando em consideração a faixa etária a qual é destinado, está não aprofundar-se nessa angústia precoce de meninos e meninas diante das expectativas paternas e/ou maternas indesejáveis como pressão. Numa cena de revelações em torno da fogueira, Mark Waters faz evidente menção à passagem equivalente de Clube dos Cinco (1985), quando os adolescentes confessam a indisposição para seguir rumos traçados pela perspectiva dos seus genitores. A homenagem ao filmaço de John Hughes também é perceptível na chegada de todos ao acampamento, ocasião em que os pré-adolescentes são apresentados, justamente quando estão se despedindo dos seus responsáveis.

Já o desenvolvimento de Andy deixa a desejar. A grande pedra no seu sapato é a rivalidade com Darkwood (Gillian Jacobs), mágica de extremo sucesso que foi sua parceira, com a qual não conversa após um episódio de suposta traição. Nesse conflito, a figura feminina é praticamente um acessório sem subjetividade. Ela apenas existe para ser um ponto de tensão ao homem ressentido e, adiante, como era de se esperar, servir de emissária da verdade que pode apaziguar os ânimos. O velho (porque usado demasiadamente) dilema “tenho de escolher entre o almejado sucesso particular e atender às expectativas dos emocionalmente dependentes de mim” ganha algumas leves variações em Magic Camp. Isso, contudo, não quer dizer que o resultado seja positivo, primeiro, por conta do rápido retorno ao lugar-comum, e, segundo, pela falta da capacidade de Mark Waters para, talvez se abraçasse sem medo certas convenções, tornar o momento da revelação emocionalmente impactante. Além disso, a possibilidade de outras configurações domésticas, que não as guiadas pela heteronormatividade patriarcal, é mencionada tão timidamente que o tiro sai pela culatra. Melhor nem sinalizar, se de forma envergonhada e cheia de dedos. Ainda temos de evoluir para fazer filmes para todas as famílias, de fato. Como brinde positivo do enredo açucarado, Jeffrey Tambor cria um ótimo arremedo de Dumbledore, o diretor da escola de magia da saga Harry Potter, quase tão enigmático e nobre quanto ele.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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