Crítica
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Sinopse
De mal com a vida, João é um aposentado viciado em loterias que nunca conseguiu ganhar dinheiro com suas apostas. Um dia, ele começa a ser visitado de modo sobrenatural pelo cantor Sidney Magal.
Crítica
Que Sidney Magal é uma das figuras mais icônicas do cenário artístico brasileiro, isso todo mundo já sabe. E que ele é capaz de rir de si próprio, então, tem sido um dos seus maiores méritos, que tem garantido a sua sobrevivência cultural em anos tão devoradores e fugazes como os atuais, mesmo tanto tempo depois do auge do seu sucesso, entre o final dos anos 1970 e início dos 1980. Mais do que brega ou simplesmente popular, ele agora já se tornou cult, a ponto de ganhar um filme dedicado ao seu fenômeno. Pois é exatamente assim que deve-se encarar esse Magal e os Formigas, uma brincadeira aos moldes de Quero ser John Malkovich (1999). Certamente sem a genialidade de um Charlie Kaufman (roteirista) ou um Spike Jonze (diretor), mas com tanto – ou mais – bom humor.
Responsável pelo roteiro de filmes como o excelente Quanto Vale ou é por Quilo? (2005), o interessante Bróder (2010) e o problemático Reza a Lenda (2016), Newton Cannito deixou de lado a crítica social, a observação econômica ou qualquer tipo de pretensão hollywoodiana em sua estreia como realizador. Em Magal e os Formigas, ele parte de um caminho já meio ganho – a presença de Sidney Magal, que deve ser suficiente para despertar a atenção de fãs, admiradores e curiosos – para criar uma trama que não investe tanto na originalidade, mas aposta num olhar sincero e afetuoso sobre o ícone do qual se aproxima. Magal, aqui, não apenas é uma figura que desperta emoções, mas também tem uma presença ativa no desenrolar dos acontecimentos, deixando claro seu apoio e interesse sobre o que se está fazendo a partir de seu próprio nome.
João (Norival Rizzo, de 2 Coelhos, 2012) e Mary (Imara Reis, de Família Vende Tudo, 2011) formam um casal que permitiu que o passar dos anos acabasse com qualquer romantismo existente entre eles. Enquanto ela é uma dona de casa que tenta reacender o calor da paixão no marido, ele segue apostando em invenções que, invariavelmente, acabam dando errado, ou em cálculos que só ele entende para tentar a sorte na loteria. A filha (Mel Lisboa, vista há pouco em Os Dez Mandamentos, 2016), que vive trancada dentro de casa, ainda guarda intocado o enxoval de um noivado desfeito há quase uma década, enquanto que o filho (Nicolas Trevijano, de Polaroides Urbanas, 2008), tão sonhador quanto o pai, continua acreditando que seu próximo negócio irá mudar os rumos da família. No caso, promover um show de ninguém menos do que Sidney Magal!
Como não poderia ser diferente, é claro que nenhum destes ‘sonhos’ dará certo. Todas as investidas da mulher passam desapercebidas, o resultado da loto não sai conforme o esperado, a menina já perdeu suas ilusões e o rapaz é enganado por um sócio picareta. O que tira esse rosário de desgraças do lugar comum é uma presença completamente fora do comum: o próprio Magal. Mas, assim como Elvis Presley aparecia para o protagonista de Amor à Queima Roupa (1993), Magal também se manifesta como ele mesmo apenas para o protagonista e chefe da casa. A partir dos conselhos e chamadas de atenção dessa figura inusitada – um fantasma? A manifestação do seu psicológico? Uma pegadinha do inconsciente? – João começa a mudar seu comportamento e atitudes, influenciando também os demais. É o ídolo das multidões marcando presença no íntimo de um lar típico da classe média. Impossível ser melhor representado.
A brincadeira proposta por Cannito em parceria com os co-roteiristas Marcos Takeda e Ricardo Grynszpan nem sempre funciona, infelizmente. Alguns personagens não chegam ser bem desenvolvidos – como a irmã sofredora ou o tio (Zécarlos Machado) que adora gargantear o próprio sucesso – e certas soluções soam apressadas – o show final, ou o dia de folga – mas Magal e os Formigas (a referência é o conto da cigarra – o Magal – que leva a vida na flauta, e a formiga – José – que se mata de tanto trabalhar e pouco aproveita o que consegue) apresenta um conjunto tão bem entrosado, com uma química visível entre cada um do elenco, além de uma vontade real de honrar e homenagear o artista que serve de motivo para esta reunião, que o prazer de apenas participar deste encontro é inegável, independente de que lado da tela se esteja. Afinal, quem de nós não possui um coração latino disposto a bater mais forte? Se é só chamar que a gente vai, quando é o Sidney Magal que diz que o sangue ferve pelo cinema, nem a Sandra Rosa Madalena pode fazer com que se mude de ideia. A graça pode ser ingênua e até mesmo soar um pouco datada, mas ela existe com força suficiente para contagiar qualquer um aberto ao jogo proposto.
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Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 2 |
MÉDIA | 4 |
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