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Sinopse

O famoso Lupin III deseja roubar o cobiçado Diário de Bresson. Na companhia dos amigos de sempre e de uma desconhecida apaixonada por arqueologia, ele precisará correr para não deixar o artefato cair em mãos erradas.

Crítica

Um dos míticos gatunos da cultura pop, Lupin III, fenômeno sobretudo em terras japonesas, onde rendeu incontáveis histórias apresentadas em diversos suportes, está de volta às telonas neste que é o primeiro longa-metragem animado em CGI da saga. Em Lupin III: O Primeiro, o protagonista é neto de Arsène Lupin, ladrão-cavalheiro que protagonizou romances escritos por Maurice Leblanc. O antepassado fazia do submundo um lugar excitante. Nesta nova história, o descendente está determinado a roubar um artefato cobiçado, a relíquia que, segundo lendas, contém acesso a riquezas de valor imensurável. Uma espécie de 007 fora-da-lei, investido da aura de infalibilidade dos agentes da Era romântica do personagem de Ian Fleming, ele igualmente passa por diversos cenários, na tentativa de impedir que fanáticos reiniciem o nazismo. No fim das contas, o valioso Diário de Bergson serve de Mcguffin, mais ou menos como a Arca da Aliança em Os Caçadores da Arca Perdida (1981). Mencionar Indiana Jones não é obra do acaso, afinal Steven Spielberg é fã confesso de Lupin.

Em Lupin III: O Primeiro há quase todos os ingredientes desse tipo de aventura. A missão praticamente impossível confiada ao protagonista, cujos feitos exacerbam as habilidades dos meros mortais; a donzela em perigo, mas não exatamente colocada na trama apenas para sublinhar a capacidade heroica do homem, pois possui independência e atitude; a organização obscura que acaba se revelando a responsável por um plano maligno de dominação mundial; inimigos levados a colaborar, a contragosto, em prol de necessidades mais urgentes. Todavia, o cineasta Takashi Yamazaki trabalha essas convenções com o evidente ímpeto de evocar uma nostalgia intrínseca ao personagem, vide a forma como utiliza os lugares-comuns num processo de mimese bem desenvolvido. Algumas sequências mais exitosas, como a ação intrépida de Lupin durante o leilão e a consequente perseguição pelos românticos telhados de Paris, assinalam isso claramente. A vontade de reverenciar um personagem icônico faz com que os responsáveis se foquem na homenagem e pouco inventem.

Lupin III: O Primeiro é um filme divertido, no qual a ação exagerada, cartunesca, é colocada a serviço de instantes impagáveis. Sempre que há intervenções de Daisuke e Goemon, braços-direitos de Lupin, podemos esperar coisas deliciosamente absurdas, vide as estruturas metálicas enormes fatiadas sem cerimônia pela espada samurai de um ou as balas desviadas pela elegância aparentemente despretensiosa do outro. Especialmente por essa filiação desbragada ao cânone – estamos diante de uma produção que mira os fãs do personagem principal –, são constantes as valorizações das características de cada um. Mas, é bom dizer, nada que extrapole o bom senso, inclusive a fim de abir-se aos que não conhecem previamente a trupe. Assim como nas missões de James Bond e Indiana Jones, num piscar de olhos se vai da Europa ao Brasil, país que pode oferecer aos neonazistas a nova gênese do Terceiro Reich por abrigar secretamente um sobrevivente Adolf Hitler. Essa conspiração toda é desenhada com trejeitos de fã, ao sabor do compromisso com a aventura.

Não é difícil antever o que vai acontecer em Lupin III: O Primeiro. Porém, a graça está no modo como a história se desenrola, privilegiando planos mirabolantes, reviravoltas e puxadas de tapete numa embalagem à moda antiga. Lupin é uma figura carismática, capaz de fazer troça dos oponentes em meio a instantes de tensão e, com semelhante perspicácia, lançar mão de aptidões sem igual para completar tarefas que ninguém poderia se dignar a cumprir. Recorrer aos alemães inconformados e megalomaníacos parece um jeito de não perder muito tempo explicando o funcionamento e as engrenagens da organização que vai desempenhar o papel de vilã. O terço final é ligeiramente apressado, com etapas bastante árduas completadas banalmente (exemplo disso a utilização da espada convenientemente feita com rescaldo de meteoros). Mas, nada que tire o brilho dessa ótima animação fundamentada nas peripécias artesanais da personalidade nipônica famosa, com um pé no Japão e outro na Europa, capaz de nos cativar por suas destreza e sagacidade diante dos perigos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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