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Sinopse

Viagens no tempo são uma realidade em 2074, mas disponíveis para comercialização apenas no mercado alternativo. E o principal cliente é a máfia, que costuma trazer pessoas do futuro para elimina-las.

Crítica

O conceito até é interessante, porém o problema de Looper: Assassinos do Futuro é que o resultado deixa muito a desejar. Senão, vejamos: o tema principal é a respeito de viagens no tempo, um argumento que sempre estimulou a criatividade; Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt são dois atores de gerações diferentes mas com históricos similares, representando o melhor no que fazem; a direção é do independente Rian Johnson, que após o simpático Vigaristas (2008) e de séries de televisão como Breaking Bad (2010-2012) parecia estar pronto para um passo mais arriscado; e, por fim, tínhamos um trailer recheado de boas sequências de ação e efeitos visuais interessantes. No entanto, nada disso se confirma. As viagens no tempo são nada mais do que uma possibilidade, e ainda por cima pouco explorada pelo enredo; Willis está ainda mais canastrão do que em Os Mercenários 2 (2012), enquanto que Gordon-Levitt esconde-se por trás de uma maquiagem horrorosa que limita suas expressões; Johnson está evidentemente assustado com as proporções que precisou enfrentar, deixando claro que perdeu o controle do seu próprio projeto; e o visual dinâmico precisou ser diluído por quase duas horas de filme, perdendo assim toda a sua força, restando apenas um final calculado e previsível.

Num futuro não muito distante, é possível viajar de uma época a outra. Essa atividade, no entanto, é proibida e altamente controlada pelas autoridades. Quem a usa como recurso, portanto, são foras-da-lei e contraventores. Loopers são aqueles que se propõem a assassinar – no presente – pessoas condenadas à morte por bandidos – do futuro. Joe (Gordon-Levitt) é um destes loopers, e leva a vida apenas com isso. No entanto, esta é uma profissão com os dias contados: sem nenhum aviso prévio, quem será mandado do futuro para que seja assassinado será ele próprio, em sua versão 30 anos mais velha. Quando isso acontece, o looper recebe uma bolada, ao mesmo tempo em que é demitido, tendo como certeza de que em três décadas à frente será mandado para o passado para morrer pelas suas mesmas mãos. Mas Joe, quando se depara consigo mesmo (agora como Bruce Willis), hesita e algo sai errado. Assim temos o Joe do futuro querendo viver, enquanto que o Joe do presente precisa encontrar o outro para matá-lo. Ao mesmo tempo, seus empregadores atuais estão atrás dele para saber o porquê do prometido não ter sido cumprido.

Mas há mais em Looper: Assassinos do Futuro, e é justamente esse ‘extra’ que complica as coisas. Sem muita sutileza, os elementos vão sendo jogados ao espectador para que esse perceba o que logo ficará óbvio: uma ameaça irá se formar com o passar dos anos, um grande vilão que se encarregará de eliminar os loopers. O Joe velho, portanto, volta com a missão determinado a encontrar ainda criança esse que ficou conhecido como Rainmaker. Seu desejo é em assassiná-lo e, assim, impedir que toda a desgraça futura se concretize. É aí que entra em cena, num erro crasso de escolha de elenco, a personagem de Emily Blunt (Amor Impossível, 2011), uma mãe solteira que vive com o filho pequeno – e muito suspeito – no meio de um campo descoberto. Será ali que o Joe do presente irá se refugiar, ao mesmo tempo em que é caçado pelas milícias atuais que o procuram e que tentará proteger a condição de hoje para que as mudanças de amanhã não fiquem muito além do imaginado.

Looper: Assassinos do Futuro repete elementos vistos – em melhor forma – em filmes recentes como Contra o Tempo (2011) e O Preço do Amanhã (2011), por exemplo. Além da legítima sensação de déjà vu que sua história provoca, há ainda outros elementos dissonantes, como a péssima atuação da criança (Pierce Gagnon), que mais lembra um ser demoníaco ao melhor estilo A Profecia (1976), ou distrações como os personagens de Paul Dano (Pequena Miss Sunshine, 2006) e Jeff Daniels (Intrigas de Estado, 2009), que despertam interesse pela competência destes intérpretes, porém pouco acrescentam ao desenvolvimento da trama. No fim temos um tema que levanta várias questões, desperta diferentes pontos de atenção, mas tudo o que consegue são frustrações. Nem o final, que merecia um realizador mais corajoso, consegue surpreender. E sem ousadia, ainda mais na ficção científica, nada se sustenta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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