Lo que Queda en el Camino
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Danilo do Carmo, Jakob Krese
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Lo que queda en el camino
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2021
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México / Brasil / Alemanha
Crítica
Leitores
Sinopse
A jornada épica de Lilian, uma mãe solo, e seus quatro filhos, que migram em busca de uma vida melhor. Ao deixarem a Guatemala, eles se unem a uma caravana de milhares de migrantes, determinados a percorrer os mais de quatro mil quilômetros até a fronteira entre o México e os EUA.
Crítica
Os grandes deslocamentos populacionais visando escapar de condições precárias, seja por conta de situações socialmente desfavoráveis em territórios subdesenvolvidos e/ou em virtude de uma guerra, configuram o que os especialistas chamam na atualidade de crise migratória. Muito tem se falado ultimamente a respeito de como esse fenômeno humanitário é encarado por países Europeus, nações muitas vezes idealizadas como oásis aos nascidos em lugares historicamente colonizados e/ou explorados por séculos a fio. No entanto, esse problema também acomete outros cenários e personagens, como vemos no documentário Lo que Queda en el Camino. Além de voltar suas atenções às caravanas de homens, mulheres e crianças que migram coletivamente da Guatemala rumo aos Estados Unidos, os cineastas Danilo do Carmo e Jakob Krese propõem um recorte ainda mais específico ao tomar Lilian e os seus quatro filhos como protagonistas. Os realizadores observam a verdadeira Odisseia dessa ainda jovem de 28 anos que carrega as crianças a tiracolo para escapar não apenas da miséria, mas também da agressividade do marido. Portanto, Lilian não está empreendendo uma viagem insalubre de mais de três mil quilômetros estritamente porque a Guatemala é um país insuficiente aos seus anseios de futuro, mas porque é necessário se distanciar o máximo possível do sujeito com anunciadas tendências feminicidas.
Mesmo que tenha esse hiperfoco numa família em êxodo também por conta do machismo, Lo que Queda en el Camino nunca reivindica o status de libelo feminista – o que é bom, porque estamos diante de um documentário dirigido por dois homens que, assim, evitam reclamar aquilo que não lhes pertence. No decorrer de meses, Danilo do Carmo e Jakob Krese se integram à família liderada pela brava Lilian a fim de mostrar o seu calvário pessoal, mas igualmente para fazer dele um exemplo da crise migratória que expõe a miserabilidade de uma das parcelas menos favorecidas do continente americano em vários sentidos. Refutando a utilização de entrevistas, os cineastas acompanham o deslocamento de uma massa esperançosa como se fossem parte dela. A câmera sobe em caminhões e trens ao longo da estrada, seguindo os seus protagonistas para revelar os diversos aspectos da jornada árdua, demonstrando empatia pela história dessa gente em busca de um amanhã. Sem explorar a sua miséria. Liliana é construída aos poucos, primeiramente encarada com curiosidade pelo dispositivo e não dissecada por meio de explicações. Mais à frente, sabemos um pouco mais de sua vida pessoal ao juntar as peças oferecidas pelas conversas com os companheiros ocasionais de migração. Como nos papos com a mulher que caiu na estrada para escapar do núcleo narcotraficante do qual o marido foi vítima.
Aliás, dentro desse conjunto de fatores revelados pelo filme de modo competente, o avanço desenfreado dos poderes paralelos criminosos também aparece como assunto. Lo que Queda en el Camino fala de uma realidade feminina oprimida por várias forças, mas igualmente de uma infância assolada pela miserabilidade que tende a ser continuada em looping. Outra coisa que os cineastas habilmente deixam subentendida é a melancolia dessa esperança de dias melhores nos Estados Unidos. Mesmo que Lilian e os filhos consigam vencer as inúmeras barreiras que os separam do sonho estadunidense, derrotando os perigos da estrada e os obstáculos dos países pelos quais passam, será que eles encontrarão na autoproclamada “terra das oportunidades” um lugar tão hospitaleiro assim? As ligações telefônicas para o sujeito que já fez a travessia e trabalha atualmente no Arizona são como prenúncios desse sombrio epílogo anunciado, pois as conversas contêm indícios claros de que a vida nos Estados Unidos é dura aos migrantes – o rapaz chega a mencionar uma dívida exorbitante de US$ 5.500, o que provavelmente denota um sistema de continuidade da exploração, agora nas almejadas terras estrangeiras. Por mais que o documentário seja às vezes redundante, suas intenções e posicionamentos são firmes. Então, ao mostrar o persente miserável, citando o passado duro, ele deixa no horizonte um futuro penoso.
Lo que Queda en el Camino convida o espectador à empatia. É difícil não se sensibilizar diante da resiliência de Lilian e da valentia dos pequenos encarando um percurso difícil. Os relatos oferecem contextos que acentuam a dramaticidade desse movimento coletivo particularizado pelas dificuldades da mãe e dos seus quatro filhos. Danilo do Carmo e Jakob Krese ainda guardam duas informações valiosas a respeito da protagonista para revelar estrategicamente ao longo do documentário, precisamente quando estamos plenamente integrados àquele cotidiano nômade. A partir delas, o filme coloca em xeque as pressões sociais exercidas sobre pessoas que escapam a uma orientação sexual normativa, bem como adiciona outro elemento fundamental para sublinhar o calvário de Lilian. Salvaguardada muitas vezes por uma rede de solidariedade que vai se formando de modo espontâneo durante a marcha, essa matriarca corajosa mantém o olhar apontando ao sonho norte-americano, amparada por demais mulheres e acolhida também por outras pessoas que tendem a ser marginalizadas em sociedades obscuras e tacanhas. O mais bonito aqui é esse olhar às potencialidades do outro, principalmente à capacidade que essa mulher tem de tirar forças de onde não parecia existir qualquer possibilidade de resistência a fim de escapar de uma série de violências. O saldo é uma jornada indicativa dos nossos tempos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 3 |
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