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Sinopse

Lino é um animador de festas muito azarado que não aguenta mais seu emprego. Todo dia, precisa vestir uma horrorosa fantasia de um gato gigante e aguentar sempre a mesma rotina de maus tratos das crianças. Em busca de uma mudança radical na sua vida, acaba se metendo com um mágico que o transforma num gato de verdade.

Crítica

Já se foi o tempo da precariedade técnica no cinema brasileiro. Há uns bons anos as nossas produções não ficam devendo a similares estrangeiras, inclusive no que diz respeito à seara da animação, esse processo cinematográfico em franca ascensão no país. Lino: O Filme é mais uma prova dessa paridade, pois apresenta, para começo de conversa, uma qualidade evidente, sobressalente desde as primeiras cenas. O protagonista da trama é Lino (voz de Selton Mello), um animador de festas infantis alvejado constantemente por infortúnios que denotam uma falta de sorte crônica. Ele próprio resume esse itinerário de reveses, narrando desde a infância marcada pelo bullying – com os clássicos valentões comendo a sua merenda – à adolescência de desilusões amorosas e uma vida adulta de trabalho desapaixonado. Levando em consideração que o longa-metragem é voltado a uma fatia mais ingênua do público, esse prólogo serve para, além de fornecer as linhas gerais do personagem, fisgar os adultos.

A criatividade dessa construção inicial é um dos pontos positivos da realização de Rafael Ribas. Parece, realmente, que tudo dá errado na vida de Lino. Não bastasse a relação turbulenta com as crianças na casa de festa, ele ainda tem como vizinho aquele que mais lhe torturou no período escolar. E, como desgraça pouca é bobagem, surge uma ordem de despejo, que o coloca na rua. Lino: O Filme, então, ganha uma guinada a partir de dois eventos capitais, igualmente importantes como gatilho da aventura que deles decorrem. O “empréstimo” da fantasia de gato por um assaltante que, assim, torna procurada a sua figura espalhafatosa/ colorida e o encontro com um mágico aparentemente charlatão que funde fantasia e realidade, transformando-o no bichano que ele interpreta. As missões, portanto, são fugir da polícia e descobrir logo um jeito de voltar a ser humano, não necessariamente nessa ordem.

Lino: O Filme costura muito bem os eventos que caracterizam a busca do protagonista. O núcleo mais frágil dessa torrente de confusões e desencontros crescente é o policial, encabeçado por Janine (voz de Dira Paes), antiga paixão do protagonista que, por ironia do destino ou algo que o valha, recebe a incumbência de captura-lo com a ajuda de dois assistentes atrapalhados, Osmar e Melos (sim, ocorrem diversas brincadeiras por conta da junção dos nomes deles). As pataquadas dessa força-tarefa servem aos espectadores menores, pois há uma recorrência de piadas/tiradas que não se comunicam, sobremaneira, com a fatia mais crescida da plateia. Melos, por exemplo, geralmente encerra suas incursões em cena deixando escapar um flato ruidoso. Pode soar desnecessário aos adultos, mas é o tipo de recurso utilizado para criar uma identidade cômica simples e eficiente aos pequenos. Concomitante aos esforços da lei há as estripulias de Lino e do agora amigo feiticeiro em fuga.

Os personagens do filme de Rafael Ribas são bastante carismáticos. A pequena Pirralha, menina que acaba entrando de gaiata nessa correria, desempenha um papel fundamental à mensagem do filme, pois encaminha a verdadeira mudança de Lino, a qual ele desejava com tanto fervor antes de ser convertido num felino gigante acusado de diversos crimes. Lino: O Filme possui ritmo e boas sacadas, como as brincadeiras numa escola de magia liderada por Henry Topper. Qualquer semelhança fonética entre ele e o bruxinho criado por J.K. Rowling não é mera coincidência, mas uma piscadela. Outro ponto importante a ser destacado é a fuga da estrutura calcada no coadjuvante ladrão de atenção, tão comum nas produções internacionais, vide Scrat da Saga A Era do Gelo. O sapo, que inclusive protagoniza a cena pós-créditos, não é alçado a esse espaço, permanecendo um coringa discreto. Pesando prós e contras, o saldo é positivo e, mais que isso, sintomático da capacidade da animação brasileira.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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