Crítica


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Sinopse

Jessica James, uma aspirante a dramaturga de Nova York, está lutando para superar uma recente dissolução. Ela vê uma luz no final do túnel quando conhece o recém-divorciado Boone. Juntos, descobrem como fazer as coisas darem certos nos tempos difíceis, enquanto percebem que gostam muito um do outro.

Crítica

Vivemos tempos de empoderamento feminino. É provável que quem concorde com esta afirmação não se lembre nem das sufragistas (não apenas as do filme estrelado por Meryl Streep), nem da prisão da ativista Angela Davis nos anos 1970 e se contente com os avanços da ciência patenteado por homens, mas que na verdade foram descobertos por mulheres. Discussões de gênero à parte, uma das novas produções da plataforma Netflix tem sido analisada mais pelas características de sua protagonista, considerada feminista por alguns, do que por seu real objetivo, que é presentear o público com uma história de amor pela criação e as inseguranças da vida adulta. A Incrível Jessica James tem direção e roteiro de Jim Strouse, mas é visível a colaboração da atriz e comediante Jessica Williams para construção da protagonista, uma jovem dramaturga que, enquanto aguarda a carreira engrenar, dá aulas de teatro para crianças.

Já nos créditos iniciais se percebe que, visualmente, Strouse buscou inspiração nas produções seminais do diretor Spike Lee. O colorido dos créditos reflete o interior do apartamento de Jessica, que também é um reflexo de sua alma criativa e inquieta. Na primeira cena, seu rosto dirige-se ao público e ela deixa claro que não está satisfeita com suas relações amorosas. Um começo típico de comédia romântica que parece querer subverter clichês. Mas há amor em A Incrível Jessica James. Não apenas porque suas crises profissionais são permeadas pela saudade do ex-namorado Damon (Lakeith Stanfield), mas porque é por amor ao teatro que ela levanta da cama todos os dias. A intenção inicial é trazer o foco para as experimentações da protagonista, mas logo um novo rumo se instaura. Temos relances do passado de Jessica numa breve passagem dela pela casa dos pais para o chá de bebê de sua irmã mais nova. Fica no ar a infância complicada e também o porquê dela ter encontrado refúgio na arte.

Há momentos em que o roteiro parece empacar, como nos sonhos constantes de Jessica com seu ex. Mas logo a realidade volta e temos uma garota como tantas por aí, com 20 e poucos anos e que não se rende diante das dificuldades, o que não é desculpa para deixar transparecer suas fraquezas. Em determinado diálogo, ela afirma que é insegura com tudo. Não deixa de ser verdade e sua tagarelice e bom humor podem ser a máscara para esconder dos outros, que nada tem a ver com seus problemas, que nem tudo está tão bom assim. A coleção de cartas de recusa de seu trabalho não mente: Jessica não esconde seus fracassos de si mesma. Já os outros...são os outros e só. O rosto marcante, porém longe dos padrões hollywoodianos (inclusive para as personagens negras) combina com seu figurino realista, com direito a roupas repetidas e um macacão simbólico. Quem nunca colocou sonhos em um vestido? Um pouco de cinema na vida sempre existe.

Assumidamente indecisa, obsessiva com a vida virtual de Damon e temerosa quanto a seu verdadeiro destino. Este é um dos lados de Jessica James. Do outro, que tem momentos de se misturar com o primeiro e também de abarcar todo o resto, temos uma jovem mulher que não encuca com o próprio corpo, lida sem neuras com sua sexualidade e não esconde opiniões sinceras num primeiro encontro. Aos que procuram o empoderamento, ei-lo aqui. Jessica equilibra as culpas femininas seculares com algumas novidades no front. Livrou-se da dita necessidade de achar o homem dos sonhos, mas nem por isso vai deixar de chorar uma relação que chegou ao fim. Sua história pode soar confusa, mas isto não chega a ser um defeito. No fundo, é um reflexo do que a vida realmente é. O incrível do título não é uma piada. Nada é mais inspirador do que ser a gente mesmo, por mais que o mundo queira nos mudar.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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