Histórias Estranhas
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Paulo Biscaia Filho, Rodrigo Brandão, Marcos DeBrito, Claudio Ellovitch, Taísa Ennes, Filipe Ferreira, Kapel Furman, Ricardo Ghiorzi
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Histórias Estranhas
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2017
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Oito diretores se reuniram para transportar o espectador para o mundo do terror. O suspense, o bizarro e o inexplicável se encontram nesta coletânea que apresenta assassinos, bruxas, demônios, mutantes e, até mesmo, um homem invisível.
Crítica
Se o conceito de unidade ou a existência de um fio condutor forem entendidos como essenciais à constituição de um longa-metragem composto de diversos segmentos aparentemente distintos, Histórias Estranhas pode ser visualizado como um simples exercício de consecução de curtas, nada além disso. Os oito filmes que compõem a coletânea organizada por Ricardo Ghiorzi possuem tons, temáticas e abordagens completamente diferentes, de uma brincadeira com estereótipos masculinos e femininos, marcada pelo gosto divertido de picardia, ao conto macabro que termina com uma imagem perturbadora da Santa Ceia. Na verdade, dois excertos se comunicam sutilmente. Mulheres LTDA, dirigido por Taísa Ennes Marques, fábula que, ao mesmo tempo, joga com o mito do Frankenstein e faz uma sátira de toques feministas acerca da instrumentalização da mulher (no caso, as mortas) como simples ferramentas dos desejos masculinos, rima com No Trovão, Na Chuva ou Na Tempestade, de Paulo Biscaia Filho, no qual famintas fêmeas zumbis comem um sujeito.
A interlocução, sutil e curiosa, deflagrada pelo conteúdo dos filmes de Taísa e Paulo, no entanto, é a exceção que confirma a regra. Como em boa parte dos projetos formados por fragmentos independentes, Histórias Estranhas, enquanto conjunto, é uma realização desigual, com partes funcionando bem melhor do que outras. Ninguém, de Rodrigo Brandão, faz bom uso da sugestão e da cenografia para dar uma rasteira no espectador, então induzido a acreditar na solidão do protagonista como fruto de uma hecatombe ou de algo que o valha. O fechamento, embora com algumas atuações de qualidade duvidosa – principalmente a do casal estripado durante o jantar –, dá outro sentido ao mostrado anteriormente, sublinhando a engenhosidade sobressalente à precariedade da produção. Já A Mão, de Kapel Furman, protagonizado por um analista de natureza monstruosa (extraterrestre?), chama a atenção mais pela excepcionalidade da maquiagem e seu impacto.
O mencionado Mulheres LTDA é uma divertida chacota (bem-vinda) com homens imaturos que desejam reavivar mulheres para seu bel prazer. O também supracitado No Trovão, Na Chuva ou Na Tempestade apresenta um resultado diretamente atrelado ao virtuoso malabarismo que a câmera faz para mostrar a oferenda às zumbis esfomeadas (embora a cena delas coletando vísceras de um cadáver pudesse ser mais bem trabalhada, não tão artificial quanto parece). Enamorados, de Cláudio Ellovitch, o ponto fraco da coletânea, mistura simbologias de tarô e de teatro a fim de delinear um pesadelo lisérgico. Todavia, ele acaba sendo reduzido à mera exibição de efeitos dispostos com o intuito de apresentar estados alterados de consciência e/ou a instância do sonho. Ainda que curto, o percurso estabelecido é cansativo, especialmente porque soa como uma demonstração pirotécnica acima de qualquer coisa. Invisível, de Filipe Ferreira, é uma bonita história focada solidão de alguém literalmente invisível, em processo confessional, antes de sua morte brutal.
Embora ocasionalmente Histórias Estranhas soe como uma carta de intenções, um atestado da capacidade dos autores para lidar com procedimentos técnicos para gerar camadas de horror, há predicados pontuais em cada segmento que fazem o todo possuir um saldo positivo. Em Sete Minutos para a Meia-Noite, de Ricardo Ghiorzi, a questão social é acessada, ainda que timidamente, como motivadora do pacto com o demônio. Novamente prevalecendo por conta dos aspectos visuais, o curta, contudo, igualmente é bem-sucedido pela utilização da montagem como ferramenta para substanciar a tensão. O filme é encerrado pelo ótimo Apóstolos. Nele, Marcos DeBrito cria uma mitologia ancorada em passagens bíblicas, colocando figuras, tais como Judas Iscariotes, num contexto contemporâneo e tétrico, com direito a cena de sexo sangrenta, uma criatura decapitada que assume identidades diversas e um Jesus fotografado ao lado das cabeças de seus discípulos.
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