Crítica


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Sinopse

Três jovens decidem romper as barreiras que os limitam diariamente para iniciar uma jornada transformadora. Um rapaz cego, um paraplégico e um tetraplégico partem em busca de dias dançando, paquerando e bebendo.

Crítica

Philip é um rapaz conectado com o mundo. No seu quarto possui dois computadores, um celular de última geração e uma bela televisão. Lars é um dos seus melhores amigos, e assim como ele é um apreciador de bons vinhos, ao mesmo tempo em que vive de birra com a irmã mais nova. O último vértice desse triângulo é Jozef, que é apenas um pouco mais velho do que eles, mas o suficiente para morar sozinho. Os três são jovens, com sonhos, desejos e, acima de tudo, muita vontade de perder a virgindade. Essa sinopse poderia se encaixar em qualquer filme tipo American Pie, com uma importante exceção: Philip é tetraplégico, Lars possui um tumor que o impossibilita qualquer movimento abaixo da cintura, além de diminuir consideravelmente sua expectativa de vida, e Jozef é cego. São eles os protagonistas de Hasta la Vista, um filme que faz desse diferencial seu ponto mais forte.

Muitos longas se justificam pelas histórias que contam, outros tantos pela qualidade dos aspectos técnicos que oferecem. Mas uma quantidade muito menor se torna indispensável por um motivo muito mais simples: os personagens que apresentam. Este é o caso de Hasta la Vista. Sua trama é simples e direta, sem rodeios: estes três amigos decidem fazer uma viagem, da Bélgica até o sul da Espanha, porque ouviram falar que neste lugar existe um bordel especializado em atender clientes “especiais” como eles. Como não querem morrer virgens, partem nessa jornada o mais depressa possível, mesmo que para isso tenham que contrariar pais e médicos. O estilo road movie é mais do que conhecido, e o objetivo também não é dos mais originais. Mas são os que estão à frente dos acontecimentos que tornam esse enredo tão comovente e satisfatório.

Como, obviamente, não podem viajar completamente sozinhos, eles contratam uma enfermeira-motorista para guiá-los. Claude, a profissional encarregada, é uma moça obesa pouco vaidosa e com cara de poucos amigos. Logo ela vira motivo de chacota deles, mostrando que certos preconceitos são universais, independente da sua condição. O próprio trajeto que irão percorrer juntos irá se encarregar de deixar estas máscaras para trás, e logo os quatro estarão em perfeita sintonia. Mas a estrada revela outras surpresas, e a melhor dela é quando percebem que aquilo que buscam tão longe está muito mais perto do que imaginam, mostrando, de uma vez por todas, o quanto o conteúdo faz diferença quando a estampa se torna um acessório de boutique.

Premiado em diversos festivais, Hasta la Vista se apoia nos desempenhos irretocáveis dos protagonistas Robrecht Vanden Thoren (Philip), Tom Audenaert (Jozef) e Gilles de Schryver (Lars), os três em perfeitas condições físicas, que compõem personagens cativantes e envolventes. Seus motivos, históricos e destinos nos emocionam e estimulam a aproveitar cada minuto desse caminho, não importando em qual lado da tela nos encontramos. É um trabalho de encher o espírito e alegrar a alma, que serve como lição de vida, mas, acima de tudo, como um perfeito exemplo de que qualquer tema pode render um bom cinema, bastando saber como abordá-lo com respeito e dignidade. Para tanto, basta deixar de lado a hipocrisia e qualquer ranço politicamente correto e assumir sua verdade como universal. Tanto na ficção como na vida real.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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