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Sinopse

Funcionário dedicado e marido exemplar, Harold Soyinka leva uma vida pacata em Chicago. Enfrentando problemas financeiros, ele descobre que a empresa em que trabalha está negociando uma fusão que pode resultar em sua demissão. Aos poucos, David passa a acreditar nesta possibilidade, devido a atos suspeitos de seu chefe e "melhor amigo" Richard Rusk. Quando Richard e sua sócia, Elaine Markinson, resolvem acompanhá-lo em uma viagem de trabalho corriqueira ao México, David vê a situação como a oportunidade ideal para fingir ter sido sequestrado e, desta forma, pedir um polpudo sequestro. O que não imaginava era que Pantera Negra, o chefão do crime organizado local, também está atrás dele.

Crítica

Antes de qualquer coisa, Gringo: Vivo ou Morto possui um elenco repleto de nomes conhecidos. O melhor disso é que os intérpretes estão deslocados de suas chaves habituais de atuação, aqui encarnando gente no limiar entre a imbecilidade e o nonsense. Richard (Joel Edgerton) e Elaine (Charlize Theron) são proprietários de uma empresa do ramo farmacêutico, mas se comportam cotidianamente como dois adolescentes irresponsáveis, a despeito da jogada sórdida organizada para a venda de seu império altamente lucrativo. Harold (David Oyelowo) é o funcionário padrão, o pau para toda obra, aquele que começa a desconfiar da idoneidade dos chefes paralelamente à constatação do crescimento de suas dívidas, bem como as da esposa, Bonnie (Thandie Newton). O tom empregado por Nash Edgerton (irmão de Joel) é aberta e escrachadamente farsesco, com a forma sobrepondo-se ao conteúdo rasteiro. Isso, claro, quando as coisas ainda caminham bem no longa-metragem, no princípio curioso.

Os atores realmente estão bem à vontade em seus papéis, leve exceção feita Oyelowo. Sua comicidade passa inexoravelmente por uma quantidade exagerada de caras e bocas. Os demais atuam num registro menos histriônico, mais sutil, construindo a idiotice dos personagens organicamente. Um dos principais problemas de Gringo: Vivo ou Morto, logo reconhecido, é a inépcia do roteiro para estabelecer um percurso que nos mantenha constantemente interessados no âmbito geral. Na medida em que Harold começa a descobrir as tramoias dos patrões que frequentemente transam entre uma decisão estapafúrdia e outra, dois Zé-ninguém, Miles (Harry Treadaway) e Mia (Amanda Seyfried), são incumbidos da operação ilegal para roubar um medicamento a fim dele ser estudado e reproduzido. As trajetórias confluem a olhos vistos, mas não de maneira equilibrada. Rapidamente, a dificuldade de organização se impõe e, por exemplo, os dois jovens viram meros instrumentos.

Gringo: Vivo ou Morto vai se afunilando nas desventuras de Harold num México hostil que, inadvertidamente, reforça estereótipos raciais. Embora dentro de uma estrutura cômica, e, portanto, que se vale constantemente de arquétipos, o filme erra a mão ao mostrar o país sul-americano como um lugar repleto de bandidos ou aproveitadores sem-vergonha. Entra em cena um traficante fanático por Os Beatles, cuja admiração é tão grande que cobra com a vida uma opinião desfavorável ao fab four. Ao ser utilizada pela primeira vez, a piada funciona, não se podendo dizer o mesmo a partir da repetição. O rocambole cresce, a história ganha mais elementos e partícipes (alguns irrelevantes), como o mercenário arrependido Mitch (Sharlto Copley), sujeito que muda de convicções inconsistentemente, se tornando somente outra peça do desenvolvimento, de um dado ponto em diante, empenhado fortemente em substanciar o absurdo, para isso recorrendo a coincidências convenientes e a toda sorte de facilidades.

Os próprios personagens de Theron e Edgerton somem em determinado momento de Gringo: Vivo ou Morto, retornando à cena adiante, em momentos nem sempre expressivos. Ele, somente reiterando sua tendência a sacanear o próximo. Ela, desfilando sensualidade para garantir o investimento que lhe deixará milionária – e o ator que a personagem seduz é Alan Ruck, o Cameron de Curtindo a Vida Adoidado (1986). Embora tenha instantes divertidos, e expedientes espertos, como as encenações de uma sequência a partir de dois pontos de vista diferentes, o filme Nash Edgerton perde graça enquanto avança, principalmente por compartimentar demasiadamente as experiências das pessoas envolvidas no despropósito. Em meio à confusão envolvendo narcotraficantes ora sensíveis, ora cruéis e sanguinários, um protagonista combalido pelas agruras da vida e empresários completamente panacas, salvam-se ocasionais tiradas certeiras e o trabalho do elenco, deliberadamente atuando no ridículo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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CríticoNota
Marcelo Müller
5
Roberto Cunha
7
MÉDIA
6

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