Greyhound: Na Mira do Inimigo
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Aaron Schneider
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Greyhound
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2020
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EUA / Canadá / China
Crítica
Leitores
Sinopse
Composto de 37 navios aliados, o combo liderado pelo capitão Ernest Krause atravessa o Atlântico com a missão de enfrentar a perseguição de submarinos nazistas.
Crítica
É de se admirar que ainda tenha quem se arrisque a embarcar em uma viagem ao lado de Tom Hanks. Afinal, o vencedor de dois Oscars já se meteu em enrascadas no ar (Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo, 1995; Sully: O Herói do Rio Hudson, 2016), na terra (O Resgate do Soldado Ryan, 1998; O Terminal, 2004) e no mar (Náufrago, 2000; Capitão Phillips, 2013). Pois é justamente nesse último ambiente onde se desenvolve Greyhound: Na Mira do Inimigo, primeiro longa estrelado por ele a estrear diretamente em uma plataforma de streaming – no caso, na AppleTV+ - sem passar antes pelos cinemas (reflexo imediato da pandemia de covid-19). E o que se percebe em cena é uma repetição de elementos caros ao artista – religiosidade, bom-mocismo, altas doses de heroísmo e táticas de guerra que tendem a funcionar muito bem para um lado, de modo maniqueísta, uma vez que aos inimigos é reservado apenas o fracasso absoluto – e uma previsibilidade absurda, o que esvazia a tensão e deve servir como consolo e agrado apenas aos fãs mais fervorosos do astro.
Greyhound é o nome do navio comandado pelo capitão Krause (Hanks, no modus operandi que o tornou famoso). Estamos em 1942, e ele lidera uma frota de dezenas de embarcações similares que tem como missão levar mantimentos e armamentos como reforço de guerra, dos Estados Unidos à Inglaterra, em auxílio aos Aliados. A questão é que, em tempos de ânimos tão acirrados – afinal, se estava no ápice do confronto – essa travessia pelo oceano Atlântico não era das mais tranquilas. A aeronáutica norte-americana poderia servir de ajuda, como guarda-costas aéreos, somente até certo ponto. A partir de determinada milhagem, por quilômetros os navegantes precisariam seguir sozinhos, se tornando alvos fáceis de ataques alemães, ao menos até entrarem em área marítima de domínio inglês. Não será surpresa para ninguém que seja exatamente isso que acabe acontecendo, com o líder do comboio tendo que se virar sempre em cima das decisões para garantir não apenas a sua, mas a segurança também de outras dezenas de tripulantes que estão consigo.
Através de uma série de letreiros expostos na tela, o filme informa que essa zona descoberta pelos aviões de apoio se tornou conhecida como “buraco negro”, uma denominação problemática pelo racismo que exprime. A narrativa, no entanto, não faz disso um caso a ser repensado. É sintomático, ainda mais quando esse particular é somado à presença de apenas um negro em todo o elenco – Cleveland (Rob Morgan, de Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi, 2017) – que, não por acaso, surge num papel servil (o mordomo que serve as refeições ao capitão, como cafés fumegantes e sanduíches quentinhos). Com exceção de Hanks e de seu imediato, interpretado por Stephen Graham (O Irlandês, 2019) – geralmente uma figura talentosa, mas aqui sem espaço para ir além do óbvio – todos os demais possuem o mesmo fenótipo (homens brancos, geralmente loiros, e muito jovens). São tão iguais que é quase impossível diferenciar um do outro (um dos raros destaques é Karl Glusman, que foi protagonista do polêmico Love, 2015). Ou seja, seria fácil perceber se houvesse outros negros presentes.
No entanto – e sem querer dar spoilers, apenas para confirmar essa análise – quando Clementine é morto num dos atentados, aparentemente do nada surge um outro auxiliar da cozinha também negro (!), que aparece apenas para cumprir a mesma função do outro. E mesmo após Pitts (Craig Tate, de 12 Anos de Escravidão, 2013) ser apresentado ao protagonista, na primeira oportunidade de encontro dos dois esse o chama pelo nome do anterior. Ou seja, talvez a intenção tenha sido a de mostrar “como o líder sentia falta daquele que por tanto tempo esteve ao seu lado”, mas o que soa mais alto é “são todos iguais mesmo, então qual a diferença e chamá-lo pelo nome correto?”. Essa visão preconceituosa e envelhecida, aliada a um discurso fortemente calcado a uma religiosidade que tanto salva como pune – o filme começa e termina com cenas de Hanks rezando – e que demonstra compaixão apenas a um lado – uma trégua inesperada surge, sem a menor explicação, quando os ‘heróis’ precisam prestar homenagens e realizar um serviço funerário improvisado em alto mar, mas quando acertam um submarino que vinha em sua direção, matando todos os que lá dentro estavam, sem oferecer a menor chance de salvamento, tal feito é comemorado como se pleno carnaval fosse (apenas o protagonista, é claro, exprime um amuado “foram 50 almas perdidas”, num misto de reflexão e incapacidade). É curioso esse Deus deles, que é justo apenas quando interessa aos vencedores.
Pelo resto da história, Greyhound: Na Mira do Inimigo é não muito diferente de um jogo de batalha naval – a óbvia referência é o megalômano Battleship: A Batalha dos Mares (2012), porém sem a diversão de todo aquele exagero – com o emprego de diversos termos técnicos para tentar justificar uma aflição que nunca chega a se tornar perceptível ao espectador. O diretor Aaron Schneider, apesar de contar com um Oscar no currículo, o ganhou pela realização de um curta-metragem há mais de uma década, e este é recém seu segundo longa. Não seria estranho imaginar que Hanks o tenha convocado apenas para garantir o controle do que seria feito, pois esse é, evidentemente, um projeto de paixão para o intérprete – além de atuar, ele é também autor do roteiro (o terceiro que escreve, sendo que os dois anteriores foram suas únicas experiências como diretor). Dessa forma, tem-se aqui um filme de acordo com o que se possa esperar do maior ‘bom rapaz’ de Hollywood, com tudo de bom (já muito conhecido) e de ruim (o que provoca maior espanto). Pois se o discurso segue sendo proferido com o mesmo tom de trinta ou quarenta anos atrás, há algo seriamente errado neste conjunto. E não serão explosões nem feitos supostamente heroicos que conseguirão disfarçar esse constrangimento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Chico Fireman | 7 |
Cecilia Barroso | 4 |
Lucas Salgado | 6 |
Rodrigo de Oliveira | 6 |
MÉDIA | 5.4 |
Críticos não gostaram? Ok, o filme tem boas probabilidades de ser bom!!!
A não ser pelas cenas dos combates navais, perfeitas nos aspectos da técnica cinematográfica, pouco se salva do naufrágio em que se transformou a obra. O roteiro é pífio, com aquele chavão ufanista norte-americano que é comum nos filmes dessa categoria. Tom Hanks, como Comandante do navio-capitânia, está irreconhecível, quase um canastrão com uma cara inexpressiva que serve pra tudo. Nada a ver com o Capitão protagonista do "O Resgate do Soldado Ryan" Para quem entende um pouco de estratégia de combate naval, as soluções de combate apresentadas pelo roteirista Hanks chegam a ser hilárias até para os leigos em estratégia naval. O produtor devia ter contratado um oficial combatente da Marinha para assessorá-lo, e este, em nome da credibilidade, certamente, mandaria Hanks alterar a biografia do Capitão Ernest Krause, interpretado pelo Tom Hanks, tirando dele essa condição de comandante da força-tarefa de 3 destroyers, incumbidos que ficaram de proteger 37 navios mercantes. O homem não tinha experiência alguma nessa função, visto que era essa a sua primeira comissão de comando. Muito inverossímel, porque a Marinha dos EUA jamais entregaria a um oficial tão calouro missão tão perigosa. O filme pode ser interessante para os que, como eu, já navegaram nos contratorpedeiros da classe Fletcher (tivemos 6 ou 7 desses na nossa Marinha), porque poderão reviver o excelente desempenho desse tipo de barco em mar revolto. Já os que nunca tiveram intimidade com navios de guerra, abandonarão o salão do cinema, enjoados da quantidade de tiroteio naval, vez que quase a totalidade da fita é só de combate no mar. Já aqueles que, mesmo sem intimidade com as coisas da Marinha, decidirem ir ao cinema para assistir ao filme de cabo a rabo, conselho de amigo: tomem um Engov antes de ingressarem na sala de projeção.