Gato de Botas 2: O Último Pedido
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Joel Crawford, Januel Mercado
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Puss in Boots: The Last Wish
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2022
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
O herói obsoleto se tornou constante no cinema realizado nos últimos anos. Até personagens supostamente infalíveis e “maiores do que a vida”, tais como James Bond, vêm enfrentando a dura realidade do fim dos tempos áureos. Além disso, a idade e a consequente proximidade da morte pesam para todos, inclusive aos sujeitos considerados intocáveis. Em Gato de Botas 2: O Último Pedido, o intrépido Gato de Botas (voz original de Antonio Banderas) recebe um diagnóstico terrível depois de salvar novamente o dia numa cena empolgante. Ao morrer pela oitava vez, o felino é avisado de que a próxima passagem será a última. Disso em diante, temos alguém que começa a temer a morte, sobretudo depois que a encarnação lupina e macabra da inevitável teima em persegui-lo para acelerar esse processo do fim. De uma hora para outra, o aventureiro feito com elementos de contos de fadas e de histórias de capa a espada percebe que o melhor a fazer é abandonar os hábitos perigosos e tentar recomeçar em outro contexto, como animal domesticado que sobrevive longe das emoções. É mais ou menos o que acontece com o protagonista de O Lutador (2008), vivido por Mickey Rourke, homem que precisa se aposentar da atividade amada e se contentar com a rotina pacata para manter o coração batendo. Em ambos os casos a pergunta implícita é: vale seguir vivendo se não houver paixão?
Mesmo que mire o público infantil como um alvo prioritário, Gato de Botas 2: O Último Pedido é uma animação bem-sucedida quanto ao desenvolvimento dos personagens e da jornada que os unifica. Primeiro, o animal que enterra as insígnias de seu passado e gradativamente aprende a ser um bibelô de estimação com teto e comida garantidos. À medida que é domesticado, o Gato de Botas perde a aura de valentia que o tornou heroico para alguns povoados e também um valioso procurado pela lei. Numa balbúrdia felina na casa da senhora que adota bichanos, o protagonista conhece seu carismático futuro sidekick – coadjuvante que existe para ajudar o personagem principal a cumprir a sua missão ou jornada. Perrito (voz original de Harvey Guillén) é um cachorro com zero pedigree que se fantasia de gato para conseguir alimento e moradia. É notória a sua gentileza, bem como a forma positiva e altruísta de encarar a realidade que aos outros parece tétrica. Os diretores Joel Crawford e Januel Mercado apontam esse pequeno e desgrenhado cachorro como capaz de ensinar ao Gato de Botas uma lição valiosa de humildade, uma chave para ele começar a valorizar a vida sem perder ternura e coragem. O longa-metragem costura habilmente esses simbolismos, dando ênfase especial à renúncia do bichano espadachim, à novidade do medo diante da ameaça do Lobo (voz original de Wagner Moura).
Gato de Botas 2: O Último Pedido insere pontualmente outros elementos de contos de fadas enquanto desenvolve a disputa entre os personagens que desejam encontrar a lendária estrela cadente no coração de uma floresta não menos fantástica. Todos estão em busca da realização de seus desejos. Uma das opositoras do Gato de Botas é a Cachinhos Dourados (voz original de Florence Pugh), jovem que avança na companhia da família de ursos que a adotou como se ela fosse ursa também. No entanto, o grande vilão é João Trombeta (voz original de John Mulaney), ganancioso colecionador de artefatos raros que deseja adquirir toda a magia do mundo. Com cara de criança e corpanzil de adulto, ele se assemelha ao Rei do Crime do Universo Marvel. Aliás, além das citações iconográficas aos contos de fadas – do sapatinho de cristal da Cinderela ao grilo falante de Pinóquio –, o longa-metragem distribui alusões cinematográficas. Em determinado momento, João Trombeta persegue oponentes num veículo que parece ter saído de uma versão alternativa da saga Mad Max; num instante de transição, os personagens perambulam por cenários semelhantes aos consagrados nos faroestes norte-americanos; e, próximo ao fim, surge um duelo evidentemente alusivo à famosa cena do cemitério em Três Homens em Conflito (1966). Essas piscadelas ao público adulto são bonitas e espertas.
Privilegiando os personagens durante os seus trajetos de amadurecimento, Gato de Botas 2: O Último Pedido faz mais do que repetir velhas fórmulas desgastadas a fim de capitalizar sobre personagens coloridos/fofos anteriormente apresentados ao espectador. Há substância na conscientização do protagonista sobre as necessidades de assumir responsabilidades, de ser confiável e compreender que é possível tirar coisas boas das várias fases da vida. O surgimento de Kitty (voz original de Salma Hayek) oferece dilemas emocionais ao fora-da-lei narcisista que gradativamente percebe a beleza de dividir problemas e felicidades com amigos e amores. Aliás, a celebração da diversidade familiar (vista no trio/núcleo principal) também está no anseio de pertencimento da Cachinhos Dourados. Nas entrelinhas, o filme defende que família é acolhimento e amor, não algo garantido por vínculos sanguíneos e fenotípicos. Bem elaborada e apresentada por meio de uma textura de animação diferente, a ação enfatiza a vitalidade dessa aventura que emoldura os discursos atrelados aos ensinamentos e afins. O filme começa reivindicando o status de contos de fadas e termina com morais da história conectando personagens dotados de camadas e dimensões. O resultado surpreende pela ambição (e maturidade) diante de temas difíceis (como o medo da morte), sem com isso prejudicar a diversão numa trama com gatos, humanos, ursos, cães e seres fantásticos aprendendo sobre a beleza de fins e recomeços.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 8 |
Arthur Gadelha | 8 |
Chico Fireman | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 7.3 |
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