Crítica


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Sinopse

Depois do grande sucesso no mundo da música, a adolescente Gaby Estrella começa a sofrer com a concorrência de um novo ídolo teen, Natasha. Para voltar às paradas de sucesso, ela precisa voltar as suas origens, na cidade do interior Vale Mirim.

Crítica

Derivado do sucesso televisivo veiculado no canal Gloob, Gaby Estrella: O Filme possui uma trama cuja estrutura é para lá de conhecida. Senão vejamos. Gaby (Maitê Padilha) é uma pré-adolescente de muito sucesso no mundo da música. Todavia, nesse ambiente condicionado pelos números, oscilante em virtude da quantidade de seguidores que as celebridades precoces possuem nas redes sociais, ela vê seu posto de queridinha da gravadora ser ameaçado por Natasha (Luiza Prochet). O cineasta Claudio Boeckel não chega propriamente a se deter nessa frieza que decide posições na indústria fonográfica, a despeito do elemento humano a ela intrínseco. Todavia, é um dado que está lá, mesmo subdesenvolvido, presente no conflito que faz a protagonista voltar ao interior, mais tarde extraindo da reconexão com as raízes o crescimento pessoal e, a reboque, a reviravolta profissional. Tal dinâmica foi vista várias vezes no cinema – não precisa ir longe, basta pensar em Carros (2006), êxito da Disney/Pixar.

Gaby Estrella: O Filme busca comunicação com seu público-alvo mais evidente ao focar-se nas superficialidades dos problemas que acometem Gaby. A começar pela rusga com a prima, Rita (Bárbara Maia), YouTuber de sucesso que ajuda a promover a rival, ou seja, contribui determinantemente para a queda de sua popularidade. A avó, Laura (Regina Sampaio), está longe de ser uma figura condescendente, transmitindo afeto sem superproteção ou algo que a valha. A jovem cantora, mesmo exilada na fazenda da família, continua obcecada por voltar ao topo, mais precisamente disposta a cantar no Roça Fest, festival importante, vitrine na qual aparece apenas quem, de fato, tem notoriedade incontestável. A estratégia de marketing da gravadora possibilita a entrada em cena de outros personagens, dos amigos de infância de Gaby, que desempenham uma função meramente burocrática, sem espaço para expressar suas singularidades, ao empresário Julio (Victor Lamoglia), ladrão de cenas sempre que pode.

A realização de Claudio Boeckel se beneficia do carisma do elenco, sobretudo o de Maitê Padilha, e da relativamente bem-sucedida condução pela via das mensagens edificantes, já que ao menos tenta escapar às valas de pieguice, respeitando o seu público-alvo. Diversas inconsistências evitam que o longa-metragem consiga ir além do “fazer bem feito”, como a inexplicável ausência de empregados na propriedade gigantesca ou mesmo a velocidade absurda da internet que permite o upload de vídeos no YouTube em questão de segundos. Parecem detalhes bobos, certamente invisíveis ou sem relevância aos espectadores menores, mas que depõem contra o filme no quesito verossimilhança. No mais, o processo de transformação de Gaby se desenvolve sem muitas surpresas, num percurso seguro, dentro de um propósito bem objetivo, sem ambições para além de contar uma história com figuras bidimensionais, algo funcional dentro do conceito proposto.

Uma pena, realmente, que diversas questões acessadas, tão timidamente, não ganhem espaço, como, por exemplo, o poder desproporcional dado aos influenciadores digitais e a já mencionada cultura mercadológica fundamentada em percentagens e afins. Outro contraste pouco explorado é o instaurado na comparação entre os estilos musicais de Gaby e Natasha. A primeira representa uma juventude inocente, cultora de valores como amizade e laços afetivos, enquanto a segunda é pura malícia, seja no palco, com letras provocativas e um figurino apontando, ainda que de leve, à sexualidade prematura da menina, ou nos bastidores, quando lança mão de manobras moralmente reprováveis para garantir seu espaço no show biss. Em Gaby Estrella: O Filme os problemas não resistem tempo considerável, logo sendo minimizados ou resolvidos dentro dessa realidade idealizada, inclusive, para estabelecer comunicação eficiente com os pequenos. Mas o filme tem lá seu charme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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