Crítica


8

Leitores


4 votos 7

Onde Assistir

Sinopse

Quatro amigas assaltam um restaurante para curtir as férias no litoral. Elas acabam criando confusão no local paradisíaco, são presas, conhecem um criminoso barra pesada e são contratadas para fazer um trabalho para ele.

Crítica

Ao som de música eletrônica, centenas de jovens, a maioria em trajes de banho, dança, bebe, fuma e usa vários tipos de drogas na beira da praia. O sonho de milhares de norte-americanos, o chamado spring break (algo como “pausa da primavera”, o recesso escolar) já começou e faz parte do imaginário atual de quatro amigas de infância que, já na faculdade, desiludidas com as responsabilidades da vida adulta, se imaginam naquele mesmo lugar, onde tudo é festa e nada é proibido. Os dias de celebração vão mudar a vida destas meninas, cada uma à sua maneira – e nem sempre de forma agradável – em Spring Breakers: Garotas Perigosas.

O filme, dirigido e roteirizado por Harmony Korine, uma das mentes criativas por trás de Kids (1995), traz no elenco nomes como James Franco, Selena Gomez e Vanessa Hudgens e, assim como no longa de quase duas décadas atrás, trata da desilusão dos adolescentes e novos adultos na sociedade contemporânea, onde o prazer do “agora”, mesmo que inesgotável, parece ser mais importante do que a pergunta: “afinal, o que eu quero para a minha vida?”. Para conseguir saciar a vontade de estar rodeado de outros “iguais”, assim digamos, as garotas vestem capuzes e assaltam pessoas para conseguir dinheiro para a tal festa. Mal sabem elas que as coisas só tendem a piorar – mesmo que elas não se deem conta disso.

A única do grupo que parece ter a racionalidade maior que a própria vontade de viver é Faith (Selena Gomez), que, não por acaso, participa de um grupo de jovens da igreja. Aliás, é a culpa católica que faz a garota parar e medir os atos e consequências da viagem. Por outro lado, suas parceiras extrapolam e, numa dessas, todas vão parar na prisão. Quem as livra de lá é o rapper Alien (Franco), gangster e traficante que se apaixona pelas meninas e se transforma em seu protetor. É neste momento que Spring Breakers, se já não estava leve, pisa fundo na imersão do grupo em um submundo ao qual elas não pertencem – porém, é o que mais querem viver, longe de sua realidade. Mesmo com a partida de uma delas, as três remanescentes se transformam não apenas em amantes de Alien, mas sim em suas parceiras de crimes e prazeres de todos os tipos. Algo que não vai acabar bem. Um trabalho tão intenso em seus mínimos detalhes destaca a atuação do quinteto principal. Ashley Benson, Rachel Korine e, especialmente, Selena Gomez e Vanessa Hudgens, estão além do imaginável. Quem poderia pensar que a última, por exemplo, estrela da Disney e do High School Musical até alguns anos atrás, poderia desenvolver um personagem tão rico em dramaticidade, em texturas que escapam ao simples olhar? Ainda assim, o grande nome é James Franco, que mescla loucura e ternura com um sotaque digno dos “manos do Bronx” e o visual de rastafári e dentes de prata para incorporar o rapper, um de seus melhores papéis, competindo quase de igual para igual com seu protagonista de 127 Horas (2010).

O trabalho de Harmony na direção e, especialmente, no roteiro, pode causar uma certa estranheza a quem está acostumado com relatos mais convencionais de jovens desiludidos – e que até flerta com outro filme deste ano, Bling Ring, de Sofia Coppola. Porém, aqui o glamour dá lugar a uma viagem do céu ao inferno, e as imagens capturadas, assim como a narrativa em off dos personagens, deslocada (ou não) do que aparece na tela, dão a impressão de que o espectador está sob o efeito de drogas pesadas. Pode não parecer, mas tudo está conectado, apenas a montagem que brinca com a (falta de) linearidade remete ao que parece ser o estado mental das jovens. Há a confusão inicial e constante, mas que no fim se encaixa perfeitamente com o discurso. E muito além do moralismo contra drogas e afins, a mensagem do diretor será captada por quem prestar atenção, especialmente quando o hit Lights, de Ellie Goulding, começa a tocar nos créditos finais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *