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Sinopse

Helena é uma advogada idealista que defende jovens infratores. Responsável pela custódia do irmão menor, Caio, desde que os dois ficaram órfãos, ela vai enfrentar uma barra pesada ao ver ele no banco dos réus.

Crítica

Talvez o cinema brasileiro não saiba, no geral, abordar questões urgentes e difíceis da nossa sociedade com consciência e sutileza. Por exemplo, parece que a produção interna evita encarar a violência como decorrente de uma série de fatores, ou mesmo se faz panfletária, gritando na tela sem qualquer espaço para que as complexidades apareçam. Nesse cenário cinematográfico em que o fator humano ora fica soterrado em teses muitas vezes estéreis por falta de contrapontos, ora contaminado pelo maniqueísmo do bem contra o mal, De Menor surge como algo vital, principalmente devido à maneira responsável de lidar com a questão sempre complicada do menor infrator, sem para isso soar politicamente correto ou parcial.

A advogada Helena (Rita Batata) não está ali nos julgamentos para simplesmente defender menores de idade que cometeram delitos. É alguém que avalia o cenário como um todo, que busca as raízes, não ficando preocupada apenas em vigiar e punir, ou seja, é uma exceção à regra de tendência carcerária. A profissão dela nos faz ficar boa parte do filme dentro da sala de audiência, onde se confrontam defesa e acusação. Por diversas vezes, durante a leitura dos autos repletos de termos jurídicos, a câmera de Caru Alves de Souza, uma estreante com jeito de veterana, foca tão e somente o julgado, mostrando assim a engrenagem que determina precocemente (e às vezes irremediavelmente) destinos com base na frieza do código penal. A justiça está muito mais preocupada em isolar a classe média dos contrastes do que propriamente em diminuí-los.

As deliberações de defesa e promotoria, visões díspares de mundo, soam como polarização natural, nunca como antagonismo barato. Nesse tocante, Caru evita dar tons de dramaturgia ordinária à relação de Helena com Paulo (Rui Ricardo Diaz), o acusador com quem a protagonista tem um relacionamento. Seria fácil demais chocar vida privada e trabalho, forçando um contrassenso. Essa sutileza também se vê na dinâmica de Helena com Caio (Giovanni Gallo), irmão mais novo que logo se envolve com o crime. Aliás, uma das cenas mais bonitas de De Menor, aquela em que o filme expõe fortemente sua ideia central, se dá entre eles, quando Helena lê as palavras secas do inventário que explica a situação de ambos após a morte do pai, para logo depois ser interrompida por um abraço fraterno que, de alguma maneira, como que quebra momentaneamente a onipotência da justiça e de seus ditames.

A pouca profundidade de campo, que nos permite ver com nitidez apenas o primeiro plano no mais das vezes, talvez aluda à visão generalizada sobre os temas abordados pelo filme. Frente a problemas como o do menor infrator, a maioria se limita aos efeitos e à sua possível “solução” imediatista, não importando as causas ou a quem doer. De Menor é um filme sóbrio, que alia jornada pessoal, pois colado intrinsecamente à sua protagonista, e pertinentes comentários de ampla ordem social. Não é preciso gritar por melhores condições, chamar atenção ostensivamente à necessidade de pensar a fundo nossos problemas. De Menor não é uma obra de convencimento, de tese, mostra a humanidade latente por trás dos processos e problemáticas sociais, generosamente sem artifícios que manipulem demais nosso olhar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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