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Sinopse

Um grupo de três youtubers que se dizem especialistas em seres sobrenaturais decidem conquistar o reconhecimento do público de uma vez por todas. Para isso, traçam um plano para capturar um ser conhecido por todos. Trata-se do espírito de uma mulher de cabelos claros que morreu de modo desconhecido e que assombra os banheiros das escolas de todo o país: a loira do banheiro.

Crítica

Cria de Danilo Gentili, o diretor Fabrício Bittar volta a se unir com o apresentador e pretenso-ator em Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro. E se alguém esperava algum tipo de evolução após o sofrível Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017), é triste perceber que tais esperanças foram em vão. Afinal, se o primeiro longa da dupla era uma comédia escatológica adolescente situada num ambiente escolar, a grande diferença essa segunda incursão é que se trata de uma comédia escatológica adolescente de terror situada num ambiente escolar. Fica evidente, portanto, que o espectro de abordagem dos realizadores não é dos mais amplos. No mais, o que se vê é uma produção bastante teatral, ambientada quase que num único cenário, com os ‘atores’ (se é que assim podemos chamá-los) agindo exatamente como se comportam em seus programas de televisão e/ou internet. Mais do mesmo, voltado quase que exclusivamente aos já iniciados. E até para esses, nada de novo é apresentado. Qual o sentido, portanto?

Jack (Gentili), Caroline (Dani Calabresa) e Fred (Léo Lins) são os Caça-Assombrações. Os três lutam para se tornarem youtubers – e influenciadores digitais – de prestígio, mas tudo o que conseguem é naufragarem nas próprias falcatruas. A sorte – ou azar, dependendo do ponto de vista – deles está prestes a mudar quando são chamados pela diretoria do Instituto Isaac Newton para cuidarem de uma aparição sobrenatural. Os alunos afirmam que se trata da Loira do Banheiro, o fantasma de uma menina que teria sido morta – ou se matado? – nas dependências da escola há mais de um século, e que desde então permanece à espreita aguardando ser invocada com as palavras certas para fazer novas vítimas que passarão a acompanhá-la. Um garoto foi encontrado no local em estado catatônico, e segue internado no hospital. O diretor, que não acredita em nada disso, e os convoca apenas para acalmar os ânimos. Tudo que precisam é passar uma noite no colégio para dar fim à ameaça. Afinal, são as pessoas certas para o desafio. Ou não?

Claro que não. O trio é formado por uma disputa interna para ver qual é o mais incompetente. Obviamente, nunca tiveram que lidar com algo parecido antes, e por isso mesmo não tem a menor ideia do que fazer. É quando entram em cena a professora Helena (a veterana Bárbara Bruno, que iniciou sua carreira na telenovela Camomila e Bem-Me-Quer, de 1973, mas somente agora estreia no cinema), que decide vigiá-los de perto, e o jovem Daniel (Matheus Ueta, de Carrossel: O Filme, 2015) um dos poucos a acreditar nas habilidades que eles divulgam – o único, aliás, pois nem eles demonstram fé em si mesmos. Mas como o registro aqui é o de horror, e os ditames do gênero afirmam que é preciso ter uma trilha sonora exagerada, com uma edição de som sempre prestes a provocar um susto – por mais desnecessário que esse seja – na audiência, e, de preferência, com litros e mais litros de sangue falso jorrando por todos os lados, é justamente isso que Bittar, Gentili e companhia providenciam. Para que ninguém possa reclamar que não recebeu aquilo que veio comprar.

Danilo Gentili é daquele tipo de comediante que em toda ocasião faz questão de afirmar que, para ele, não se deve impor limites ao humor. Ou seja, de acordo com sua visão, tudo é válido mediante a justificativa de que “alguém deverá rir disso”. Sendo assim, qualquer um que decida enfrentar seu discurso irá se confrontar com cenas literalmente assombrosas, tamanho é o mau gosto dos realizadores. Entre elas, temos um feto possuído que, após se masturbar, ejacula na cara de Gentili, ou o segurança do colégio que se vê obrigado a assassinar as próprias fezes, que ganharam vida assim que ele se levanta da latrina, e decidem atacá-lo. Dani Calabresa, uma das poucas envolvidas a ter uma carreira além dos alcances ‘gentilianos’, por assim dizer, não demora a dar adeus: sua personagem literalmente explode numa das primeiras cenas. Dos demais, é de se estranhar o que teria convencido Antonio Tabet a aceitar uma participação tão desnecessária quanto irrelevante: toda tentativa de metalinguagem que ele participa é tão óbvia que nem mesmo risos constrangedores consegue provocar.

Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro até poderia se safar de olhares mais críticos se ao menos colocasse em evidência o valor de produção envolvido. No entanto, nem isso consegue fazer com competência. O filme se passa quase que por completo à noite – ou seja, é tudo sempre muito escuro, e se prejudica a visualização do que acontece, há também um descuido na edição sonora, que adiciona efeitos e sons à revelia, resultando em uma salada auditiva que em mais de um momento beira o incompreensível. Adiciona-se a isso uma montagem capenga, sem ritmo e redundante, e um roteiro que nada mais é do que uma colagem de todos os clichês mais óbvios de produtos similares internacionais – e citá-los na narrativa, como “se fosse no Stranger Things vocês acreditariam?” ou “ah, não venha com sete dias pra cima de mim” não as tornam válidas. É preciso não só reconhecê-las, mas também demonstrar o que fazer com tais referências. Exatamente o que não acontece por aqui. Em resumo, Danilo Gentili continua sendo um adolescente irresponsável – a mediocridade de todo o conjunto é revoltante – que debocha justamente daqueles que, veja só, ele depende. E estes, sem discernimento para se sobreporem à tamanho desperdício, nele se chafurdam, rindo não apenas do nada, mas, antes de qualquer coisa, da intrínseca idiotia que permeia por completo este conjunto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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